quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Curso de Reciclagem em Ginecologia apresenta novidades relativas ao HPV no casal.

Realizado em 24 de setembro de 2011 em São Paulo, o curso de Reciclagem em Ginecologia (clique aqui para rever a notícia) apresentou novos parâmetros para a avaliação e acompanhamento para o HPV no casal.Confira os quatro pontos mais interessantes do encontro.

1. Mudanças no exame de Papanicolaou* (ou citologia oncótica do colo do útero)-Dr. Gustavo Focchi da Universidade Federal de São Paulo/ Escola Paulista de Medicina discorreu sobre a citologia em base líquida que propicia, além da citopatologia convencional (que era vista nos esfregaços em lâmina de vidro), a realização de muitos outros exames no mesmo material desde a biologia molecular (rastreamento do HPV) até a aplicação da imunocitoquímica, com pesquisa de marcadores mais confiáveis e até com certo valor prognóstico na análise da citologia, facilitando quando ou não indicar a biópsia e/ou prosseguir com a investigação. Esse novo método também permite a identificação com segurança de micro-organismos como a Neisséria (agente da gonorréia), Herpes, Clamídia e trombofilias.

2. HPV na gravidez - O assunto foi discutido nos seus aspectos práticos. Na gestação o tratamento do HPV sofre sérias restrições de medicamentos e mesmo procedimentos cirúrgicos no colo uterino gravídico. Felizmente durante a gravidez não existe aumento ou recrudescimento do HPV. É, de certa maneira, um enigma. Além disso, a evolução do HPV após a gravidez costuma ser favorável com a
melhora do quadro e, ainda como uma surpresa;alguns estudos apontam que alterações atípicas evoluem melhor quando a via de parto é vaginal. Não se sabe ao certo o porquê, mas provavelmente as grandes modificações de dilatação do colo uterino durante o parto possam ativar os mecanismos de defesa locais.

3. HPV e proctologia - Uso do imiquimode na área proctológica está em alta e com bons resultados. Dr. Sidney Nadal, do serviço de Proctologia da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e do Hospital de Infectologia “Emílio Ribas” apresentou sua experiência com o uso de imiquimode, um imunomodulador, em lesões HPV-induzidas na região perianal em população HIV positiva. O trabalho inclusive, ganhou um prêmio de melhor trabalho durante o último Congresso Brasileiro de Colo-Proctologia , realizado em Fortaleza, agora no começo de setembro de 2011.

4. HPV e câncer de orofaringe/ cabeça e pescoço - O Dr. Henrique Olival Costa, também da Santa Casa de São Paulo e vice-presidente do Instituto do HPV, mostrou dados ainda inconclusivos a respeito do efeito do HPV nos cânceres de laringe e orofaringe. A presença do HPV na população em geral é estimada em aproximadamente 4,5% (com diferença mínima entre um sexo e outro). Mais estudos são necessários para a avaliação real do problema. Sabe-se, contudo, que os cânceresdessa região em que o HPV tem participação exibem um perfil diferente: incidem mais em jovens, mais em mulheres, mais em não fumantes e tem uma evolução melhor do que os demais. Outra surpresa.


o balanço sobre as vacinas no mundo todo fica para uma outra ocasião.

*Papanicolaou (com “ou“ no final em homenagem ao médico grego Geogios Papanicolaou, considerado o pai da Citopatologia).

sábado, 24 de setembro de 2011

HPV no casal - Reciclagem em Ginecologia

No sábado, dia 24 de setembro de 2011, foi realizado o segundo módulo da série de eventos em Reciclagem em Ginecologia Baseada em Evidências da Clínica Ginecológica da Universidade de São Paulo, sob a coordenação da Dra. Maricy Tacla e Dr. Homero Guidi.

O evento ocorreu entre 8 e 14 horas, no Centro de Convenções Rebouças em São Paulo.

Foram duas sessões: a primeira tratando sobre o HPV na Mulher, sua imunologia, aspectos diagnósticos ligados aos avanços da citologia, clposcopia e rtreamento mlecular, além das lesões prcursoras do câncer do colo uterino.

Na segunda sessão foi abordada a Extensão do HPV, com os seus aspectos na gravidez, nos seus aspectos urológicos, proctológicos e otorrinolaringológicos (incluindo as patologias da cabeça e pescoço). 

O evento foi fechado com uma revisão sobre o estado atual da Prevenção Primária do HPV ,centrado nas vacinas atuais, com dados muito reais das situações no continente americano, australiano e europeu

Para um público seleto de especialistas, um rol de experts fez apresentações precisas e concisas sobre os temas que têm uma importância ímpar num país sul-americano, como o Brasil, em que o câncer de colo uterino ainda é uma vergonha nacional, em que passados dez anos, a despeito das intervenções e medidas governamentais, os índices permanecem iguais.
Nesse aspecto, as estatísticas reais, pouco conhecidas e reveladas, mantém-se iguais, apesar das indicações e interpretações oficiais, do que se faz em termos de prevenção primária (rastreamento do câncer cervical).

Mantemos uma triste estatisca (end point) igual às de países pobres e em desenvolvimento, diferentes de países em igual condição, em que verdadeiramente houve comprometimento com resultados na sua prevenção e erradicação e não apenas com medidas nesse sentido que se mostram inócuas pela sua falta de organização e efetividade.

Mensuramos um aumento dos exames de Papanicolaou no País, sem sabermos se esse aumento não foi apenas de pessoas que se conscientizaram da importância de fazê-lo e o fazem até demais. De outro lado deixamos de intervir efetivamente para evitar que mulheres que nunca  fizeram a prevenção sejam alcançadas e incluídas nesses programas.

Ou, pior, das que o fazem e diante de um exame alterado, necessitando de medidas diagnósticas e terapêuticas mais especializadas, se perdem nas filas e nos intermináveis prazos da assistência médica. Não há resolutividade. Diagnostica-se  precocemente e trata-se tardiamente.

Incluidos aí vâo os resultados alterados que nunca foram conhecidos e notificados para cidadãs relapsas ao não verificarem os seus resultados (não voltando para verificar o seu exame), mas também vítimas da falta de "assistencialismo"  (que aqui sim, seria muito necessário!). Falta organização do sistema oficial de saúde pública ao assistir as cidadãs nesses aspectos da sua saúde.

É uma atitude omissa silenciosa no âmbito pessoal e político, incoerente  e bastante diferente do que vemos com a "presteza"  em outras "necessidades cidadãs", muitas vezes não tão "basicas" mas  objeto de ações governamentais bastante efetivas  para gerar dividendos políticos mais imediatos, como os verificados nas diversas "bolsas", que não as de uma "bolsa saúde" de mais longo prazo.

Uma questão de administração global organizada e responsável e não apenas populista de oferecer um recurso a fundo perdido e sem administração responsável e efetiva.

Inexcusável numa sociedade em que todos as cidadãs e cidadãos tem um CPF, conta bancária (em sua grande maioria), inscrição no INSS e milhares de outros órgãos e cadastros de funcionamento "suiço" e não tem um "prontuário" ou algo parecido da sua saúde pessoal, mesmo em seus requisitos mínimos.

Experimente qualquer cidadão, mais humilde que seja, atrasar ou se esquecer de pagar uma conta ou um imposto e na semana seguinte já estará sendo notificado e achado em qualquer canto do país...

No próximo post vamos tratar de detalhes desse evento que lhe possam interessar, mesmo que apenas  a título de informação e cultura geral a respeito desse assunto.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Biópsia de Próstata

A biópsia de próstata é um recurso/procedimento muito valioso para fazer o diagnóstico do câncer de próstata ou excluí-lo. Felizmente, muitas vezes o diagnóstico mais sério não é confirmado.

Não se pode, contudo, ficar na dúvida. Se a prevenção é entendida como uma medida efetiva, aceita pelo paciente que quer ter uma assistência adequada e se beneficiar de um diagnóstico precoce e obter uma terapia que seja efetiva e eficaz, a biópsia tem que ser encarada como um procedimento normal e sem delongas.

Como se indica uma biópsia de próstata?

Pelo toque retal da próstata suspeito em primeiro lugar.

Não se iluda com exames de PSA normais, pedidos pelo seu clínico ou cardiologista num "check up geral". Um PSA isolado é como um eletrocardiograma de repouso que diagnostica pouca coisa para o seu cardiologista. Geralmente nós, urologistas, não pedimos um eletrocardiograma de repouso isoladamente. Raras vezes como pré-operatório...

O critério de normalidade do PSA ("abaixo de 4 ng/mL) é um critério que vale apenas no papel.

Está  sujeito a interpretações não cartesianas (não é um número absoluto e/ou matemático), com um colesterol total ou um triglicérides (que por sinal tem interpretações bem elaboradas....);

Em segundo lugar porque o PSA tem um interpretação urológica elaborada.

Não se admite, em nenhum lugar do mundo um PSA isolado, sem um toque retal, por quem saiba fazer um toque retal para avaliar a próstata.

O exame tem  que ser interpretado de acordo com a idade, volume da próstata, antecedentes, fatores intercorrentes, relação entre o PSA livre e total, velocidade do PSA (o quanto o nível se eleva em determinado tempo) e muitas outras coisas que a Internet não pode banalizar ou, perigosamente, "resolver".

15% dos tumores prostáticos ocorrem sem alteração do PSA.

O exane do PSA (sigla em inglês de "antígeno prostático específico") é um exame de sangue que funciona como um marcador sanguíneo (detectável no sangue, por exame específico) que pode ajudar na avaliação prostática.

Sua interpretação não é matemática,como já dissemos. Além da correlação com o histórico, sintomas  e exame físico específico é preciso muito cuidado na interpretação do resultado do exame.

Nem sempre um PSA alto é câncer. Nem sempre um PSA dentro do normal é ausência dele.

Para começar:  fazer um PSA no dia seguinte a um exame retal na consulta, após uma relação na noite anterior ou madrugada da coleta do sangue é bobagem total.

Espere só um susto (ou um despesa desnecessária se você estiver pagando o exame...

Qualquer manipulação da próstata - toque, relação sexual, masturbação (ejaculação de qualquer tipo), exames urológicos, sondagem da uretra (passagem de sonda pelo canal do xixi), colonoscopia/ retossigmoidospia ou toque retal do proctologista), bicicleta ergomética, equitação (andar a cavalo), até mesmo motocicleta pode alterar o exame.  Todas essas atividade elevam o PSA e podem induzir um raciocínio falso sobre o significado dessa elevação.


Exemplo:
Recentemente recebemos um paciente que tinha tido uma retenção urinária aguda. A próstata estava aumentada, o canal tinha se estreitado e numa situação extrema (viagem prolongada, sem urinar, bexiga bem cheia) houve a retenção - o paciente não conseguiu esvaziar a bexiga.
Houve necessidade de colocar uma sonda  na bexiga no Pronto Socorro, que drenou a urina acumulada na bexiga. As vezes drenamos 1 até 2 litros de urina "presos" e que fazem a bexiga se dilatar e doer muito. Muito bem. O PSA desse paciente, dosado nessa situação, não vale nada. Vai estar sempre alto enquanto não se retirar esse cateter (sonda) do canal e da bexiga.  Esse paciente foi submetido a vários exames, entre eles uma dosagem de PSA que veio alta. O médico, desavisado, indicou uma biópsia de próstata, achando que poderia se trata de um câncer de próstata.
Pode até ser que haja um câncer mas esse PSA não é fidedigno. Não reflete uma situação normal. Desobstruir  esse paciente é mais importante do que a biópsia.

São detalhes que exemplificam a necessidade de uma assistência especializada e, sobretudo, individualizada, que você não vai encontrar aqui na Internet (por mais que nos esforcemos!)

Consulte seu urologista.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Pedra nos rins - Alimentação influencia?

Originalmente postado em 17 de Agosto de 2011

A litíase renal, nome científico da formação de cálculos (pedras) renais pode ter vários componentes que contribuem em conjunto para o aparecimento do problema.
Desde a genética, indiscutivelmente envolvida numa porcentagem de casos, até alterações específicas do metabolismo de alguns dos minerais com que o organismo trabalha (sempre o mais lembrado é o cálcio, mas o mais comum é o oxalato, que por sua vez pode ser o oxalato de cálcio).
No meio desses fatores, contudo, existem 3 elementos importantes e que não têm muito a ver com genética ou alterações sofisticadas de metabolismo, que teoricamente são fatores mais difíceis de alterar. São, ao contrário, fatores cuja alteração é possível com o comportamento do paciente que apresenta os cálculos: excesso de peso, uso excessivo de sal na alimentação e baixa ingestão de líquidos.
O excesso de peso, que pode ser combatido com dieta e atividade física, influencia diretamente a função renal. A obesidade tem uma grande chance de se acompanhar com excesso de ácido úrico, que é eliminado na urina e dependendo da sua concentração e do pH da urina pode, por si só, precipitar e formar cálculos.

O sal é outro vilão importantíssimo. Sua sobrecarga não apenas desequilibra todo o metabolismo dos minerais com que o rim trabalha, mas também afeta o sistema cárdio-vascular, notadamente a pressão arterial, diretamente relacionada com o controle renal.
O excesso de sal nos alimentos industrializados tem sido uma das maiores preocupações no primeiro mundo, através das autoridades de Saúde Pública desses países. Para que se tenha uma idéia, o sal tem sido considerado mais prejudicial do que o colesterol, gorduras trans, etc.
É um inimigo silencioso e invisível.

Para orientação geral os alimentos mais salgados, com os quais devemos ter cuidado e reduzir o seu consumo ou moderá-lo judiciosamente:

- Salgadinhos industrializados e bolachas salgadas (amendoim, batatinha, castanhas, massinhas, etc.);
- Embutidos (salsichas, lingüiças, frios em geral, queijos amarelos, etc.);
- Carnes industrializadas (defumados, carne-seca, carne de sol, bacalhau salgado, etc.);
- Enlatados (fiambre, feijoada, patês, molhos de tomate, legumes enlatados, etc.);
- Azeitonas, picles, palmito, aspargo, catch-up, molho de mostarda, shoyo, etc.

O consumo de leite e derivados, por sua vez, não deve ser abandonado por decisão exclusiva do paciente. Nem sempre isso resulta em benefício; muitas vezes em prejuízo nutricional desnecessário e inócuo pelo tipo de litíase. Consulte seu médico antes.
Mais efetivo do que isso é não abusar de suplementos alimentares, muito em moda nas academias hoje em dia, evitar doses excessivas de vitaminas (notadamente a vitamina C – ácido ascórbico) que podem alterar muito a composição urinária. Nessa mesma linha estão os “isotônicos” com grandes quantidade de minerais, nem sempre tão necessários na grande maioria da atividade física habitual das pessoas (em que efetivamente eles não seriam tão consumidos a ponto de justificar a sua “reposição”).

O oxalato que participa da maioria dos cálculos urinários pode ser controlado evitando alimentos em que ele é abundante: refrigerantes, frutos do mar e mariscos, chocolate, sementes oleaginosas (castanhas, nozes, amendoim, etc.), espinafre e tomate (em excesso).
Por fim o grande vilão dos cálculos urinários é a urina concentrada, que tem a missão de carregar uma quantidade enorme de metabolitos para fora do nosso organismo num meio líquido muito concentrado, sem volume suficiente para a sua diluição.
As pessoas sempre perguntam quanto tomar de líquidos: a resposta não é quanto tomar apenas em números absolutos. A quantidade é aquela necessária para manter todas as micções com urina clara ou de um amarelo muito suave e clarinho. Essa é a melhor medida para aferir se estamos nos hidratando corretamente.

HPV para Urologistas

Originalmente postado em 1 de Junho de 2011

Compartilhando uma grande honra.

No final de 2009 lançamos, o Dr. A. Rosenblatt e o autor desse blog um livro em inglês, editado pela Springer Verlag de Hamburgo, Alemanha, sobre o HPV em Urologia.

Foi o primeiro livro na nossa especialidade. O livro tem uma quantidade enorme de fotos e informações, da nossa experiência profissional nessa infecção no homem.

No exterior a obra tem feito muito sucesso e mereceu uma resenha/crítica por parte do Canadian Journal of Urology, a publicação mais importante no Canadá em Urologia.

Sentimo-nos, o Dr. Alberto e o autor desse blog (Dr.Homero Guidi), muito felizes pelos elogios recebidos do Canadian Journal of Urology, na sua sessão “Book Review” a respeito de nossa obra.

Veja a
página original e veja o resumo

Câncer de Próstata e PSA

Originalmente postado em 16 de Maio de 2011

O urologista e a Urologia frequentemente são cobrados pelo suposto caráter “arcaico” do toque retal para avaliação da próstata. As alegações invariavelmente começam com um preâmbulo que diz mais ou menos isso “ Ainda no século XXI, não foi inventado nada mais ou menos…..”

Pessoalmente procuramos explicar o quanto isso está longe da realidade pelos dados incomparáveis e insubstituíveis que o toque retal (ou DRE – digital rectal examination, no inglês) fornece e ajuda.

Os métodos se somam e não se excluem. Nenhum deles é infalível isoladamente. Eles se complementam.

Recentes estudos apontaram a necessidade de uma avaliação criteriosa do PSA , que não deve ser usado como um exame “abaixo ou acima do limite superior “ . Não há interpretação cartesiana e/ou simples, matemática, do exame.

A Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, tem um Centro de Conhecimento em Próstata, parte de um Centro maior de estudos e pesquisas nessa área.

Recentemente ela disponibilizou uma página com um QUIZ para o público leigo avaliar os seus conhecimentos sobre o PSA e o Câncer de Próstata.

Faça a sua avaliação e aprenda. As perguntas, após submetida cada uma das respostas do tipo Verdadeiro ou falso, tem, cada uma, um conteúdo educativo bem curto e objetivo.
Desenferruje o seu inglês (que por sinal está bem fácil) e participe.
Clique aqui . E boa sorte.

PSA e Câncer de Próstata - as mensagens de Washington DC - AUA Annual Meeting

Originalmente postado em 19 de Maio de 2011

Está terminando agora (quinta, 19 de maio de 2011), pela manhã a Reunião Anual da Associação Americana de Urologia (
AUA - American Urological Associãtion). O congresso ocorreu em Washington e é um dos mais importantes na especialidade.

Neste e nos próximos posts, vamos compartilhar com os leitores alguns assuntos que foram destaque nesse congresso, de interesse direto do leigo, em linguagem bastante leve.

Começamos com o que foi dito sobre o uso do PSA e o rastreamento ou prevenção do Câncer de Próstata.

O conferencista foi um expert, já de muitos anos, no assunto, considerado um mestre mundial em próstata, Dr. William Catalona.

A conferência do Dr. Catalona chamou a atenção sobre um estudo sueco, de vários anos de duração e acompanhamento de muitos pacientes, mostrando que a prevençãodo câncer de próstata diminuiu em 44% a mortalidade por esse tipo de câncer e reduziu em 41% o risco de se diagnosticar a doença numa fase já avançada, quando o tratamento não alcança cura e muitas vezes é apenas paliativo. Esse estudo foi publicado no
New England Journal of Medicine

Toque retal e PSA são preconizados aos 40 anos, dependendo dos fatores de risco que são avaliados em cada paciente vai se individualizar o tipo de acompanhamento indicado para quem tem mais ou menos risco de apresentar a doença.

Uma outra conferência importante foi do Dr. Schroder que trouxe os dados mais recentes de um estudo europeu cooperativo, entre vários países daquele continente. Nesse estudo o conferencista mostrou que com 12 anos de acompanhamento a diminuição dos casos que apresentam metástases (quando o câncer sai do seu lugar original e células cancerosas vão para os ossos, cérebro, etc.) foi de 31% . Na Europa a estatistica desse estudo que dura mais de uma década mostra que o benefício de se evitar um caso de paciente com câncer metastático (disseminado) é alcançado quando se faz a prevenção em cada 338 homens , que por sua vez demandam (são necessários) 16 tratamentos.

O estudo europeu ainda mostra que os casos que são diagnosticados na primeira vez em que a pessoa faz o exame preventivo são os que tem maior impacto (maior benefício) pelo tratamento precoce.

Esse estudo também aponta uma diretriz muito importante para não se superdiagnosticar casos supostos de câncer de próstata: nunca se limitar a avaliação apenas no exame de sangue, o PSA, mas uma avaliação completa com exame de toque e outros de rotina.

Dr Schroder acenou que novos marcadores e exames estão ainda em estudo nos laboratórios de pesquisa e ainda tem aplicação e validação na clínica do dia-a-dia muito limitada, senão quase inexistente ainda.

Vacina contra HPV no homem

Originalmente postado em 24 de Maio de 2011

A Anvisa, através de publicação no Diário Oficial da União, liberou ontem, dia 23 de maio de 2011, o uso da Vacina Quadrivalente contra o HPV no homem.
A liberação ocorre depois que vários países já fazem o mesmo, inclusive em alguns com a vacina fazendo parte do rol de vacinas do calendário de vacinação oficial.
A liberação recomenda a vacina para meninos e rapazes entre os 9 e 26 anos.
O seu uso já vinha sendo feito no Brasil mediante receita específica, face à comprovação científica em diversos trabalhos na literatura médica apontando o benefício do uso no sexo masculino.

O HPV no homem pode produzir infecção inaparente, detectável apenas por exames, e que geralmente após um determinado tempo cura-se espontâneamente, persiste ou pode evoluir para o aparecimento de lesões verrucosas, conhecidas como Condiloma Acuminado.
A vacina tem vantagens também em idades superiores e em quem eventualmente já teve infecção por um determinado tipo de HPV. Isso também já está publicado na literatura médica, em diversos trabalhos. Apesar de concebida como uma vacina profilática há beneficios na diminuição das recorrências de lesões, uma vez que muitas vezes ocorrem novas infecções virais, até mesmo por tipos diferentes do que os originais.

Na bancada dos laboratórios de pesquisa já se trabalha com uma segunda geração de vacinas voltadas contra nove tipos de HPV e também correm estudos, notadamente na Holanda, para a fabricação de vacinas terapêuticas.
Tanto a vacina contra os nove tipos e a terapêutica devem demorar ainda para chegar às farmácias.

I Encontro Paulista de Especialistas em HPV

Originalmente postado em 11 de Abril de 2011

No dia 9 de abril de 2011 um grupo de alguns especialistas em HPV de todo o Brasil se reuniu no Grand Hyatt, em São Paulo, para um reunião de atualização nas mais diferentes áreas envolvendo a infecção e doença causadas pelos Papilomavírus.

Estivemos participando como debatedor de um dos dois blocos de apresentações muito interessantes sobre os avanços dos conhecimentos imunológicos da infecção viral e métodos diagnósticos, além de novidades no tratamento.

A imunologia vem fazendo progressos no entendimento do comportamento desses vírus que é bastante peculiar em relação aos demais, sobretudo pelo seu comportamento em relação à sua infectividade e mesmo ao poder de transformação das células epiteliais em alguns tipos de câncer, notadamente do colo do útero, região perianal e trato respiratório (sobretudo o alto).

O DNA-vírus, embora pequeno, tem em suas 8 proteínas de expressão precoce um poder muito grande de driblar alguns mecanismos de defesa de nosso organismo , muitos relacionados com as células especializadas em defender o organismo (células de Langhans que se diferenciam em outras células mais especializadas e específicas contra os agentes agressores, linfócitos T killer, linfócitos reguladores, entre outros). Assim além das proteínas E6/E7 que podem determinar a agressividade do tipo de HPV incorporado às células, também a E5 desempenha um papel nesses fatores que confundem o nosso sistema imune e a própria resposta inflamatória que pode paradoxalmente trabalhar contra o nosso organismo.
São conhecimentos de ciência básica que precisam ser ampliados largamente para que possamos ter aplicações clínicas e práticas para uso nos consultórios e clínicas.

Outro assunto importante, pelo qual passa o HPV no Brasil é a detecção do câncer de colo do útero, sua principal complicação nas mulheres.

No Brasil, nas regiões sudeste e sul o câncer de colo uterino é o segundo câncer mais comum no sexo feminino. O primeiro é o câncer de mama. Mas a mortalidade é igual para ambos, em torno de 13%. Em algumas regiões do país, contudo, o câncer de colo do útero vem em primeiro lugar.

Nesse panorama entram alguns fatores de saúde pública importantes, sendo o principal deles o acesso e a procura por exames preventivos, hoje principalmente baseados na citologia oncótica ou como conhecido, o famoso Exame de Papanicolaou (o médico que o descreveu e aperfeiçou).

Acesso dizemos em relação à disponibilidade; procura dizemos em relação ao ato espontâneo de, em havendo onde fazer o teste, as mulheres procurarem esses locais para a sua realização regularmente.

Com muita propriedade o Prof. Dr. Luiz Carlos Zeferino, da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, chamou a atenção que não apenas a falta de cobertura do SUS nesse aspecto deve ser reconhecida, mas, principalmente, a falta de organização em termos de informação e registro de cada um dos brasileiros no sistema de saúde, o que, definitivamente, não existe.

Fez um paralelo muito interessante e inteligente na capacidade da estrutura social e governamental reconhecer e atuar através da Receita Federal ou mesmo do sistema econômico e bancário sobre todo cidadão que tem conta em banco ou apenas contas a pagar.

Ali o cidadão existe, tem vários números e tem um registro draconiano de suas atividades, invejável até a George Orwell.

Na Saúde isso não existe. Muitas vezes se exibem números fabulosos de tantos e tantos exames de Papanicolaou realizados no país, mas o que se vê na verdade é que, muitas vezes, quem já fez o exame, tem uma grande chance de estar fazendo muitos exames, até mais do que o recomendado, e outras mulheres por sua vez (que simplesmente “não existem no sistema de saúde”) nunca fizeram um exame na vida.

É a mágica da estatística : você come dois frangos e eu nenhum; pela estatística ambos comemos um frango cada um….

A solução disso passa por um sistema de informação organizado.

Um número único de seguro social como faz os Estados Unidos ou, como lembrou a Coordenadora do evento, Dra. Maricy Tacla, um número único do cidadão sueco, sem complicações, que é sempre a sua data de nascimento e um número de ordem de registro civil do seu nascimento naquele dia (exemplo alguém que tenha sido o primeiro cidadão registrado no dia 10 de abril de 2011 receberia para toda a sua vida o número 10042011000001, para registro no sistema de saúde, carteira de motorista, imposto de renda, previdência, carteira de identidade, passaporte, etc. ).

Mais que isso com base nesse registro o nosso sistema de saúde deveria saber quem fez o Papanicolaou, quem está sem fazer ou nunca fez e notificar. Isso serviria para outras coisas importantes como vacinação, outras prevenções, etc. Do contrário, pelo atacado e à granel o que se observa é uma saúde imperfeita, com gastos não racionais para os objetivos finais.

Foi lembrada a experiência positiva nesse aspecto dos agentes de saúde comunitários e do próprio Programa de Saúde da Família em que a população se divide em pequenos grupos, comunidades ou áreas geográficas e o agente e as unidades podem identificar esses desvios relacionados com quem recebe alguma atenção e quem não recebe (e mesmo não se interessa em recebe-la, mas possa ser notificado sobre tal…).

Nas próximas postagens vamos abordar outros temas que forma objeto do referido evento, como quem transmite com mais facilidade o HPV (homem ou mulher), vacinas, meios diagnósticos novos, tratamentos novos e outros fatos interessantes.

Fonte de informação

Originalmente postado em 11 de Abril de 2011

Você pode utilizar nossos textos. Cite a fonte!.Contribua para aumentar a ética e a civilidade do brasileiro.

As informações aqui contidas não substituem, em absoluto, o método tradicional de diagnosticar doenças, confirmá-las e tratá-las.

A Internet não é médico.
Nessa época de globalização a informação é disseminada e acessível, mas a experiência ainda é um diferencial insubstituível. A chave é como e onde acessar, analisar e utilizar a informação.
Isso sem contar a necessidade da habilidade do contato no exame físico e demais procedimentos médicos individualizados, que vão muito além do que a Internet pode fornecer.

Disfunção erétil e hipertrofia prostática sintomática - tratamento único?

Originalmente postado em 27 de Abril de 2011

Várias evidência científicas têm apontado para um provável sinergismo no tratamento de dois problemas urológicos muito comuns, a disfunção erétil e os sintomas irritativos do trato urinário baixo, geralmente causados, em grande parte, pelo crescimento benigno da próstata.

Os inibidores da PDE, uma enzina que faz reverter a vasodilatação do pênis durante a ereção, fazendo com que a mesma acabe, parecem ter um efeito benéfico nos sintomas irritativos do trato urinário baixo.

No mecanismo de ação envolvido parece estar o aumento do fluxo sanguíneo para os dois locais, causado e prolongado pelos medicamentos até aqui utilizados para tratar a disfunção erétil , ou melhorar os “motores mais cansados”. Como aquela propaganda de um determinado óleo, parecido com Pardal….

O fato é que um dos grande fabricantes dos medicamentos citados lançou, já há algum tempo nos Estados Unidos, e agora também no Brasil, uma versão de uso diário, com dose bem menor, com o intuito de atingir dois objetivos :

Primeiro - não ficar refém dos 40 minutos do “será que é agora?” , “será que é hoje?”, “será que na hora H, não vai ter aquela dor de cabeça?” Teoricamente e pelas constatações iniciais, obtém-se um stand by permantente. Verdade? A conferir…

Segundo - com o uso contínuo, os sintomas irritativos podem melhorar bastante.

Também a conferir.

Veja artigo no nosso site, um pouco mais extenso e educativo,
www.drhomeroguidi.com.br

Vacina do HPV para Homens - novos dados, novas publicações

Originalmente postado em 2 de Fevereiro de 2011

A edição de 3/2/2011 do New England Journal of Medicine, o mais importante e prestigioso canal de publicação médica traz em sua edição mais recente um artigo do grupo HIM (Human Papillomavirus in Men), capitaneado pela Dra. Giuliano e colaboradores em 18 paises pelo mundo as conclusões sobre os benefícios da vacina quadrivalente contra o HPV em homens jovens em relação as doenças causadas pelos virus do HPV.

O artigo mereceu um editorial mostrando as vantagens da vacinação da população masculina jovem.
Um editorial, nessa publicação, ressalta a importância e relevância do assunto para a saúde pública e a informação médica.

Em seguida, nesse espaço, num post seguinte, vamos comentar os dois artigos, publicados agora a noite, aqui no Brasil.

HPV no homem - novidades recentes

Originalmente postasdo em 11 de Janeiro de 2011

Major Article
“The HPV in Men (HIM) Study”*

Prevalência por Idade e Fatores de Risco para o HPV Anal entre Homens que fazem sexo com Mulheres e Homens que fazem sexo com Homens.

Artigo principal do Journal of Infectious Diseases de 1º. janeiro de 2011
JID 203:49-57, 2011

* O HIM é um estudo multicêntrico coordenado pelo Instituto Lee Moffitt de Tampa, na Flórida, USA, envolvendo o Brasil e México. A pesquisadora principal é a Dra. Anna R. Giuliano. Esse projeto é bastante abrangente e procura esclarecer todos os aspectos envolvendo o HPV no homem. Nesse estudo, relatado abaixo, foram verificados os fatores de risco e prevalência do HPV anal nos homens que não são portadores de HIV e, dentro desse grupo entre aqueles que têm relações com mulheres e os que têm relações com homens.

Adendo - Na literatura médica atualmente se utiliza a denominação MSW (men who have sex with women/ homens que têm relações com mulheres) e MSM (men who have sex with men/ homens que têm relações com homens).

Resumo do estudo - O objetivo do estudo foi estudar melhor a infecção pelo HPV do canal anal no homem HIV negativo, uma vez que existe uma incidência crescente de câncer anal entre os homens (e também mulheres).

No estudo, realizado concomitantemente nos Estados Unidos (Tampa, FL); México (Cuernavaca) e Brasil ( São Paulo) , foram examinadas células esfoliadas do canal anal de mais de 1.400 homens envolvidos no estudo e com o devido consentimento, além de um questionário padrão de mais de 80 itens envolvendo aspectos de comportamento sexual, número de parceiras, etc. A idade variou entre 18 e 70 anos. Entre os homens que se recusaram a participar dessa etapa do estudo (já participando em outros aspectos do projeto – que tem um total de 2.049 homens em acompanhamento) verificou-se uma proporção maior de pacientes solteiros, mais jovens, entre 18 e 30 anos e com atividade sexual apenas com mulheres. Nos Estados Unidos verificou-se ainda que entre os que se recusaram a participar o nível de instrução era menor (medido em escolaridade menor ou igual a 12 anos de instrução recebida).

Os resultados encontrados podem ser resumidos da seguinte maneira:

1- A prevalência de HPV de qualquer tipo não foi diferente nas três cidades.

2- A prevalência de HPV no canal anal foi de 12,2% entre os homens que fazem sexo com mulheres e 47,2% entre os que fazem sexo com homens.

3- Entre os homens que fazem sexo com mulheres foram detectados como fatores independentes associados à positividade do HPV anal os seguintes pontos: ter mais do que 10 parceiras desde o início das atividades sexuais; relacionamento sexual primário com duração menor que 1 ano e diagnóstico de hepatite B.

4- Entre os homens que fazem sexo com homens os fatores de risco associado à positividade do HPV do canal anal foram: ser mais jovem ( quanto mais jovem, maior o risco); 2 ou mais parceiros nos últimos 3 meses; nunca usar condom nas relações nos últimos seis meses. Note-se ainda que entre esses homens a incidência de HPV anal foi 3 vezes maior naqueles que praticavam coito anal receptivo comparativamente aos que se negavam a esse tipo de contato. O hábito de fumar também foi um fator de risco significativo entre os homens que fazem sexo com homens.

Além desses resultados é importante ressaltar que a prevalência do HPV 16 foi o dobro nos MSM do que nos MSW (o HPV 16 é um tipo sabidamente oncogênico, que expressa um potencial de alto risco idêntico na região anal, tanto quanto o que é visto no colo do útero). Também a infecção por vários tipos de HPV foi vista 10 vezes mais nos MSM do que nos MSW.

As conclusões dos autores apontam que o HPV do canal anal está associado em qualquer homem, independente do tipo de comportamento sexual, ao número de parceiros(as), sendo mediada ainda pela idade, duração da relação sexual e uso do preservativo

1° de dezembro - Dia Mundial de Prevenção da AIDS

Originalmente postado em 1 de Dezembro de 2010

Hoje comemora-se o dia mundial da prevenção da AIDS.
AIDS é a sígla em inglês de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Acquired immune deficiency syndrome or acquired immunodeficiency syndrome), uma doença causada pela infecção pelo vírus da imunodeficiência humana ou HIV, sua sigla em inglês (human immunodeficiency virus) .

Doença chamamos a um conjunto de manifestações como infecções, doenças, tumores e outros problemas de saúde que aparecem no paciente em função da falha das defesas imunitárias que foram minadas pela ação do vírus.

Antes de chegar à doença a pessoa é apenas infectada ou portadora do vírus HIV. Nessa fase geralmente a sua saúde é normal. A ação dos antivirais é eficaz e a quantidade de HIV costuma se reduzir bastante.

Bastante, mas não totalmente. O organismo humano tem alguns “santuários” com difícil ação de qualquer medicamento, além de peculiaridades biológicas do próprio vírus que desafiam até hoje a ciência humana, que não consegue desenvolver uma vacina ou um tratamento definitivo.

Nessa situação - doença adquirida por contágio, viral, sem vacina e sem tratamento 100% eficaz - a melhor arma é a prevenção.Não se contagiar.
O contágio ocorre por relações sexuais desprotegidas. O vírus está presente na secreção vaginal, no sêmen, no sangue e outros fluídos.
O atrito das mucosas geralmente mistura várias dessas secreções e fluídos corporais.

Outros meios de contágio incluem transfusões sanguíneas (o que passou a ser menos provável por medidas enérgicas disciplinando os bancos de sangue e a hemoterapia, hoje totalmente sob o controle (eficiente, aplauda-se) do setor governamental. Mas não podemos esquecer o contágio com feridos, acidentes, acidentes profissionais, cirurgias, e outras situações em que podemos entrar em contato com o sangue de alguém contaminado pelo HIV.

O uso de drogas injetáveis, mais especificamente o compartilhamento de instrumentos para a injeção da droga, também constitui um meio altamente perigoso de contaminação. Drogas injetáveis são preparadas e injetadas com seringas e agulhas muitas vezes reutilizadas e/ou compartilhadas durante a utilização da substância preparada, entre várias pessoas. Esse uso comum contamina com sangue positivo essas agulhas e seringas que facilmente podem também servir de meio de “compartilhar” o HIV…

Alguns tipos de relações sexuais podem ser mais traumáticos para as mucosas de ambas as pessoas que se relacionam. Isso adiciona o sangue às secreções existentes no pênis, vagina e ânus.

Sexo seguro e não compartilhar seringas e agulhas são fatores decisivos para prevenir a contaminação pelo HIV.

Sexo seguro é igual preservativo, seletividade de parceiras(os), evitar promiscuidade e comportamentos perigosos. O maior exemplo é a combinação explosiva entre sexo, álcool e drogas. Nessa situação há a perda do discernimento, responsabilidade e procedimentos básicos de comportamento seguro. Esse é um ponto muito importante para todos refletirem pessoalmente…

Aids e HIV - necessidade de informação e educação contínuas.

Originalmente postado em 13 de Outubro de 2010

Terminou no dia 10 de outubro de 2010 o XV Congresso Brasileiro de Genitoscopia e Patologia do Trato Genital Inferior. Realizado em Porto Alegre, esse congresso reuniu muitos especialistas em ginecologia, urologia, infectologia e outras especialidades envolvidas em HPV, DST, câncer de colo uterino e outras doenças relacionadas.

Embora não seja um congresso específico de DST /Aids, o binômio está sempre na ordem do dia. As doenças sexualmente transmissíveis (sigla DST) são indissociáveis e hoje sabemos que muitas facilitam a aquisição de outras e vice-versa.

O que se vê em relação ao HIV (vírus da imunodeficiência humana) cuja infecção evolui para a doença AIDS (ou SIDA, síndrome da imunodeficiência adquirida) são fatos inquietantes.
A cura por uma vacina é um luz no final de um túnel bem longo ainda, infelizmente.

E o comportamento na população vem sofrendo uma alteração. Não se fala mais em grupos de risco. As mulheres passaram a constitui um grupo de infectados muito grande e em primeiro lugar. É a chamada “feminização” da doença. Pior que isso é que voltaram a crescer os índices de contaminação entre as faixas mais jovens da população. Isso decorre do enfraquecimento das campanhas de conscientização e informação das práticas de sexo seguro. As gerações mais novas não têm sido atingidas por essa informação, pela conscientização e ensino do sexo seguro. Gerações mais novas são dadas psicologicamente ao gosto pela aventura, ao se comportar perigosamente. Faz parte de um mecanismo psicológico da evolução da adolescência para o mundo adulto. Mas isso pode ser mudado, como já se fez com algumas gerações que precederam a atual. A palavra chave é a informação.
Precisa haver um equilíbrio entre as ações de saúde e prevenção. Entre o remédio e a educação em saúde. Entre assistir quem se contaminou e está doente e entre ensinar quem está descobrindo a sexualidade agora. E isso não se faz apenas distribuindo camisinha e outras coisas.

Não há espaço para outro tipo de filosofia.

Superbactérias - temas recorrentes que assustam a população.

Originalmente postado em 27 de Outubro de 2010

Como tornar um fato uma manchete?Como realçar um assunto, “dourar a pílula” ou mesmo tornar uma figura inexpressiva uma “personalidade” ou até um candidato “vendável” à opinião pública?

As técnicas são todas conhecidas do leitor inteligente. Marketing, “tratamento da notícia”, um exagero aqui, uma fonte que gostaria de aparecer um pouco mais (ou desfrutar de seus “15 minutos” de glória…) Por aí vão os truques de “esquentar” um assunto.

Vira e mexe aparecem as superbactérias na mídia.

Não existe uma superbactéria única, com foto, RG, endereço e CPF.

A microbiologia é um mundo em constante transformação. A resistência bacteriana aos agentes antibióticos é coisa que nasceu quando já se inventou a penicilina.

Decorre do abuso do uso desses agentes. Decorre dos mecanismos biológicos de sobrevivência das próprias bactérias, mais precisamente de suas capacidades bioquímicas e recursos biológicos.

Os antibióticos são separados por classes. Essas classes são definidas pela origem, como por exemplo as penicilinas, as cefalosporinas, os aminoglicosídeos. São agentes de uma mesma família que têm em comum uma origem quimica semelhante fundamental, um processo de obtenção, etc.

Os agentes vão sendo desdobrados em compostos mais avançados, com melhoras na sua composição química e isso é voltado à capacidade de cada um em atacar determinado ponto do ciclo biológico da bactéria. Assim temos antibióticos que impedem que a bactéria faça a sua cápsula ( seria como um agente que impedisse um ser humano ou um animal de formar a sua pele e, portanto, morrer em função da falta da proteção conferida pela mesma). Outros agentes interferem na síntese de determinadas proteínas que são fundamentais ao desenvolvimento da propria bactéria e a multiplicação desses micróbios fica comprometida e bloqueada e assim por diante.

Muitos desses mecanimos envolvem o bloqueio da síntese de determinadas enzimas, proteínas, etc.

Uma dita “superbactéria” é uma cepa de determinadas bactérias, as vezes vários gêneros delas, que incorporam um desenvolvimento, uma capacidade de inativar uma ação, bloquear uma etapa do antibiótico e assim por diante.

O episódio mais recente refere-se a bactérias que tem a capacidade de sintetizar uma enzima chamada KPC.

Essa enzima é responsável pelo mecanismo de resistência de um grupo de bactérias a uma determinada classe de antimicrobianos muito fortes e eficazes, de uso hospitalar, os Carbapenens (Ertapenem, Imipenem e Meropenem:).

A primeira bactéria que desenvolveu essa enzima foi a Klebsiella pneumoniae, que deu origem a sigla KPC.

Apesar de sua presença ser mais comum nessa espécie que originou o nome, a carbamapenase pode ser identificado em outras entero-bactérias (bactérias eminetemente da flora intestinal).

O primeiro relato da KPC foi registrado nos Estados Unidos no ano de 2001. No Brasil o primeiro relato foi feito em 2003, sendo a primeira vez que se registrou isso na América Latina.

O aparecimento dessas bactérias especiais só pode mesmo ocorrer em ambiente hospitalar pois é nesse ambiente que se tratam as graves infecções, em pacientes graves, com múltiplas doenças, imunossuprimidos e debilitados. É no ambiente hospitalar onde existe o confronto de bactérias agindo e se replicando e sendo combatidas com antibióticos suficientemente fortes e eficazes para a tentativa de vencer a parada. Ingenuidade seria pensar que elas apareceriam em outros locais ou na comunidade onde não se usam esses agentes, na sua grande maioria objeto de administração por via endovenosa, com bomba de infusão, etc. e preço extremamente elevado.

O fato torna-se inevitável e constitui uma realidade mundial, independente de todas as precauções das melhores instituições hospitalares do mundo todo. É uma questão de seleção natural dos seres vivos (o que naturalmente inclui as bactérias).

Torna-se, pois, um raciocínio ignorante tomar o aparecimento dessas “superbactérias” como um fato derivado de desleixo ou “exageros da Medicina”. Não há definição maior do que uma “batalha de vida ou morte” o que se tenta fazer por milhares e milhares de pacientes nos hospitais do mundo todo, todos os dias, trezentos e sessenta e cinco dias no ano. Sobretudo e com afinco naqueles que têm reais chances de uma recuperação total.

A prevenção ou procedimentos para diminuir ou conter esses eventos microbiológicos são simples e estão baseados em protocolos complexos de cuidados e procedimentos na manipulação desses pacientes, mas também se estendem a atitudes bastante simples como o fato de lavar as mãos e outros cuidados.

O ato de lavar as mãos deve se estender aos acompanhantes e visitantes de pacientes internados.

E uma coisa bastante importante a ser lembrada que todos podemos fazer é ter critério no uso de antibióticos mais comuns e de uso por via oral, no ambiente comunitário.

Isso não vai alterar muito as “superbactérias” que vão continuar existindo no front hospitalar, mas devem começar a fazer parte de uma cultura já existente no Exterior onde Farmácia não é supermercado e remédio não é um ítem para “self service”.

Ano Internacional de Juventude 2010

Originalmente postado em 13 de Agosto de 2010

A ONU, através da OMS (Organização Mundial de Saúde), acaba de lançar hoje, 12 de agosto de 2010, as 8 h de Brasília, o início do Ano da Juventude.

Mais uma data, mais um evento vazio?

Depende da proatividade com que mantemos as nossas mentes e ações.
Pelo menos uma reflexão o tema merece.

De acordo com os dados disponíveis nos diversos organismos da ONU/OMS, mais de 1,8 milhões de pessoas jovens morrem a cada ano.

Um número infinitamente maior de jovens se engaja em comportamentos que vão turvar e arruinar não apenas a sua saúde atual, mas o que deveriam ter de vida saudável no futuro, nos anos, que se espera possam desfrutar, se não morrerem antes.

“O Ano Internacional da Juventude pontua firmemente que a saúde é um direito humano e é parte integral do desenvolvimento do jovem”.

A reflexão se justifica por alguns dados que são desalentadores e refletem a nossa situação mundial atual:
* Em torno de 16 milhões de meninas entre 15 e 19 anos dão à luz a cada ano

* Mais do 1,8 milhões de jovens entre 15 e 24 anos morrem a cada ano, principalmente de causas totalmente preveníveis.

* Aproximadamente 565 jovens entre 10 e 29 anos morrem a cada dia por violência interpessoal.

* Acidentes de trânsito matam mais de 1.000 jovens a cada dia (estatística confirmada e real)

* Jovens entre 15 e 24 anos responderam por 40% de todos os novos casos de infecção pelo HIV entre adultos, durante o ano de 2008.

* Estima-se que 150 milhões de jovens usem o cigarro

* Em algum dos seus anos de juventude, em torno de 20% dos jovens irão experimentar um problema de saúde mental, sendo os mais comuns a depressão e a ansiedade.

Não há estatísticas globais de drogas lícitas e ilícitas. Não há o que comemorar!

Quando olhamos para frente, já vendo os adultos, vamos verificar que dois terços das mortes prematuras nesses adultos e um terço do total das suas doenças e consequências ( o “fardo das doenças” - no inglês disease burden) se devem a condições e comportamentos que se iniciaram na juventude.

Principais fatores: cigarro, álcool, drogas, sexo inseguro, estilo de vida e exposição à violência.

Durante a próxima semana, nesse espaço, vamos discutir um pouco desses aspectos em novos posts.

Doenças raras, pesquisa médica e cidadania.

Originalmente postado em 10 de Agosto de 2010

Mahatma Gandhi escreveu que se todos os livros que amparam os fundamentos do Ocidente se perdessem e sobrasse apenas o Sermão da Montanha, um ícone do Cristianismo, ainda assim o Ocidente poderia se recompor. Literalmente não foram essas as suas palavras, mas o sentido sim.

Em tempos de eleição de todos os lados somos bombardeados com algumas noções que orientam o nosso sistema de governo, nosso Estado e a Nação.

Cidadania tem sido um dos valores mais valorizados e utilizados no chamamento das pessoas, para os assuntos que vêm à baila nessas ocasiões, nos últimos anos.

Dentro da cidadania cabe a pressão social por reclamos justos que interessam diretamente o cidadão e a coletividade. É como uma catarse pública das necessidades e anseios de cada um e da coletividade. Justo é reivindicar aquilo de que necessitamos e carecemos.

A identificação dessas necessidades e carências é cristalina a cada povo, cada comunidade e, até mesmo, a cada grupo organizado. O mesmo não pode se dizer quando deitamos o olhar nos interesses dos outros ou naqueles de outras comunidades e grupos.

A beleza em se identificar e pressionar não apenas pelo que precisamos e queremos, mas do que precisam e querem outras pessoas, grupos e comunidades, é inquestionável e se insere perfeitamente no espírito e nos fundamentos do curto texto do Sermão da Montanha, exaltado por Gandhi.

Pena que isso, no conjunto das nações, não seja muitas vezes identificado.

Parte, porque a pressão popular nem sempre exibe maturidade e independência e muitas vezes olha apenas o seu umbigo. No caso da manipulação abundam os exemplos de espertalhões, pessoas e instituições orquestrando a “pressão popular”. Mascaram ou descaradamente envolvem interesses pessoais, escusos ou menos nobres. Interesses de poder e domínio. Esses exemplos, infelizmente, todos nós, com mais de dois neurônios ativos, sabemos nomear, de súbito, meia dúzia de exemplos próximos, no país e no exterior.

Muitos, contudo, são inocentes úteis, massa de manobra moldável por poucos trocados ou fraca filosofia e ideologia de poucos neurônios, engrossando um movimento de milhões de marionetes, ansiosas por satisfazer interesse do dia e do agora.

Outros são tão difusos, que mesmo aqueles por quem se clama, sequer percebem o clamor.
Na Medicina nos últimos anos algo nessa exata medida vem acontecendo.

Refere-se ao clamor da comunidade científica e comunidade comum dos países de primeiro mundo em relação ao baixo volume de recursos, interesse e disposição de se pesquisar as doenças mais raras e/ou tropicais mais incidentes no terceiro mundo. No mundo pobre, digamos com todas as letras, sem subterfúgios semânticos.

É discussão longa levantada em revistas como o New England Journal of Medicine, através de várias dezenas de artigos e cartas, bem como em outras revistas de igual ou menor quilate, ganhando também várias instâncias da sociedade organizada de muitos desses países, incluindo audiências no poder legislativo de vários deles.

É responsabilidade social sendo cobrada de suas empresas, não apenas do que interessa ao quintal da casa de cada um, mas num olhar mas longe.

É prova inequívoca de que existe uma distinção entre sociedade e suas organizações não-econômicas de um lado e as empresas, representando a atividade econômica e o lucro de outro.

Esse é um daqueles fatos que devem ser chamados à atenção para as mentes tupiniquins extremamente limitadas e estreitas em sua visão. Aquelas que julgam todos os que não são brasileiros, ou seus “iguais”, como “capitalistas selvagens”, de alto a baixo.

Para essas mentes deficientes, com certeza, esse fato todo deve ter escapado ao conhecimento, como devem ter escapado vários outros exemplos da mesma natureza.

Para essas mentes, apenas fisicamente no século XXI, resta a limitação de seu mundinho. Restam os conceitos até,
pasmem, da “burguesia”. Embora, com grande probabilidade, noventa e nove vírgula nove por cento dos donos dessas mentes não saiba sequer o que foi um “burgo”…

O fato é que os reclamos pelo descaso científico de institutos governamentais e privados, empresas farmacêuticas e demais entidades envolvidas com pesquisa, começa a frutificar.

Entre outras ações concretas, já existem redes sociais como o Collaborative Drug Discovery em que a filosofia do “código aberto” está lá, disponível para todos os que se dispuserem investigar e pesquisar. Esse compartilhamento de conhecimento evita o “partir do zero” e propicia complementações de valor inestimável no mundo da pesquisa.

Gigantes como a empresa farmacêutica Glaxo-Smith-Kline estão aderindo a esse tipo de código. No caso específico da GSK, disponibilizando todas as fórmulas e informações de nada mais do que 13.500 compostos químicos de uso potencial na inibição do parasita responsável pela malária.

Malária, uma doença que, “por acaso”, temos aos montes aqui no Brasil, na Venezuela, em Cuba e em outros “recantos” envolvidos em “antagonismos ideológicos ressuscitados” por parte de algumas pessoas que parecem não simplesmente não ter um calendário em casa. Livro de História, então, nem pensar!!!

A propósito a citação de Gandhi :
“…se toda a literatura espiritual da Humanidade perecesse, e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido”

Violência e juventude

Originalmente postado em 17 de Agosto de 2010

As estatísticas da OMS são gerais e podem estar subestimadas em funçãos de vários conflitos bélicos atívos no mundo nos dias de hoje, o que faz aumentar o potencial letal dessas vítimas.
Em nosso país também devemos considerar o subregistro da violência urbana, sobretudo aquelas que não são fatais e escapam às estatísticas policiais e hospitalares.

Mas mesmo com essas nuances os números não deixam de ser perturbadores: a violência na juventude (ou contra os jovens) é uma das causas principais de morte entre os jovens, particularmente os jovens do sexo masculino. Estima-se que 565 jovens entre os 10 e 29 anos morra a cada dia em função de violência interpessoal . Para cada uma dessas mortes há uma estimativa de que hajam até 40 outros jovens que sofrem violência resultando em situações que necessitam de cuidados hospitalares diariamente.

Quais são os “remédios” e “vacinas profiláticas” para esse problema de saúde pública?
O assunto pode parecer complexo mas não é tanto.

Começa pela necessidade de disposição do poder público em querer atuar nesse sentido.

Passa por leis mais rígidas e efetivamente cumpridas, sobretudo na sua fiscalização, no que tange à restrição do comércio e acesso a armas de fogo, redução do acesso ao álcool e drogas. Passa também pela educação, fortalecimento de instrumentos sociais de convívio como acesso ao esporte, atividades sociais e de socialização, fortalecimento das relações familiares e da própria família.

Nesse particular é preciso mudar a visão tacanha dos governantes a respeito do acesso ao esporte, muitas vezes limitada à construção de campos de futebol ou piscinas desprovidas de educadores físicos e treinadores. Esportes “burgueses”, nessa mesma visão tacanha e deplorável podem e devem muito bem estar a disposição de jovens desprovidos e sem acesso à pluralidade de sonhos e desejos tornados comunitários e banais a todas as “classes” em países que já deixaram os primórdios do século passado e para cujas sociedades alguns conceitos como “burguesia”, “classes sociais” e outras “pérolas” do passado são apenas conhecimentos histórios devidamene socializados. Certamente esportes um pouquinho diferentes do futebol podem envolver e resgatar jovens com incontáveis talentos ocultos e significar a diferença fundamental na vida dessas pessoas em formação. Certamente não falta ao Brasil uma plêiade de professores e técnicos em Educação Física que veriam suas profissões e carreiras merecidamente valorizadas.

No escopo das relações instituicionais e constitucionais falta também, em muitos países, um sistema correcional que desperte um mínimo de respeito e temor das consequências em jovens que já sabem muito bem raciocinar e responder por seus atos. Países com séculos a mais de desenvolvimento e vivência, sobretudo com democracias mais antigas do que muitos desses países, frouxos em seus sistemas de correção e recuperação social, não devem estar errados em seus sistemas correcionais mais rígidos. Colocam em prática sistemas que já despertam um respeito maior pelas suas penas quando a ordem social é quebrada. É um fator de inibição formidável sempre presente.

Pura perda de tempo querer reinventar a roda!

Álcool e Juventude

Originalmente postado em 17 de Agosto de 2010

Na seqüência de nossos artigos, não há como separar o uso abusivo e pesado do álcool pelos jovens e alguns fatos que publicamos no post anterior.

Os dados estatísticos não são uniformes em todas as nações, pela crônica falta de pesquisas padronizadas e homogêneas em todos os países. Mas o que há disponível não deixa muita margem à interpretações diferentes ou a um senso comum no assunto.
Existem muitas variações internacionais e regionais sobre o consumo de álcool entre estudantes e jovens.

Comecemos pelos índices de abstinência da substância entre as pessoas dessa faixa etária. Ela pode ser relativamente variável como 98,6% em Comoros (um arquipélago vulcânico, entre a costa leste da África e o noroeste de Madagascar, com pouco menos de 1 milhão de pessoas, de origem multicultural e grande pobreza) ou extremamente baixa , 6,7%, em Latvia (uma pequena república parlamentarista báltica, espremida entre a Estônia e Lituânia e pela pobreza – 3º. país mais pobre da União Européia).

De outro lado, outro grande contraste: a porcentagem de jovens dados a episódios de grandes bebedeiras (heavy episodic drinkers) é de apenas 0,2% do jovens no Líbano e Malásia e sobe a espantosos 20,1% dos jovens na República Tcheca.

Infelizmente parece que a cultura do beber excessivamente entre os jovens vem se disseminando pelo mundo todo. Recordes lastimáveis são vistos em Israel e nas Filipinas. E, mais preocupante, com a dianteira desse comportamento sendo verificada no sexo feminino, como se tem verificado na Austrália e Lituânia

Nesses lugares esse tipo de comportamento é verificado fortemente em meninas com idades entre 14 e 19 anos na Austrália e na Lituânia em meninas entre os 15 e 16 anos (não, você não leu e nem escrevi errado - entre 15 e 16 anos! Fonte: World Health Organization – WHO global status report on alcohol 2004. Geneve. ).
Quando pareamos os dados de efeitos e causas as coisas também apresentam grande variações, algumas bastante lastimáveis.
Os índices de mortalidade em razão de homicídios entre pessoas na faixa dos 10 aos 29 anos chegam a 84,4 por 100.000 na Colômbia (com uma abissal desproporção de 156,3 por 100.000 no sexo masculino e 11,9 para o feminino) e menos que 1 por 100.000 (igual em ambos os sexos) no Japão e França.

Mundialmente o álcool tem uma estimativa de responsabilidade de 26% dos anos de vida perdidos em função de homicídios. E nesse quesito os países em desenvolvimento apresentam taxas menores (18% no sexo masculino e 12% no sexo feminino) em função de outros fatores dividindo a responsabilidade por essa tragédia silenciosa de suas juventudes. Eles compõem juntos as altas taxas de mortalidade de jovens, incluindo-se outras causas como doenças preveníveis e a fome.

Nos países desenvolvidos, livres dessas outras causas, a combinação álcool x homicídios sobe a 41% nos homens e 32% na mulheres.

Esses dados constituem apenas a ponta mais negra de um grande iceberg social, com uma bomba relógio em seu interior.

Quando consideramos as ocorrências não fatais relacionadas com toda essa situação, as estatísticas ficam mais nebulosas e difíceis em sua disponibilidade. Colecionamos aqui estudos menores, mais não menos significativos:

- Nos Estados Unidos, numa amostra de certa comunidade, envolvendo pessoas entre 18 e 30 anos, encontrou-se 25% de homens e 12% de mulheres que experimentaram algum episódio de violência ou agressão, dentro ou ao redor de bares regulares e legalizados, durante o ano prévio à pesquisa.

- Na Inglaterra e País de Gales, pessoas entre 18 e 24 anos, que referiram ficar pesadamente bêbedos pelo menos uma vez ao mês, tiveram uma chance duas vezes maior de se envolver em brigas de bar. Nas mulheres isso subiu a 4 vezes…

- Na Finlândia, 45% de todos os incidentes violentos envolvendo pessoas entre 12 e 18 anos estão relacionados com a bebida, tanto envolvendo o perpetrador ou a vítima.

As estatísticas se sucedem e não melhoram.

Outro fenômeno negativo e em expansão no mundo todo é a violência de gangs.

Nesses fenômenos sociais envolvendo predominantemente pessoas jovens, o álcool desempenha um papel central, seja para a “iniciação” nesses grupos, seja para aumentar a confiança antes dos seus confrontos entre grupos rivais.

O fenômeno toma proporções preocupantes, tanto em países desenvolvidos, quanto em países em desenvolvimento.

Em Bremen na Alemanha, metade das ocorrências violentas atendidas pela Polícia tem origem em gangs. No Caribe os índices de violência desse tipo e a estreita ligação com o álcool atingem níveis insuportáveis.

Como resolver esse problema:

A receita parece repetitiva mas passa por uma atitude política e social.

Leis que regulem o acesso ao álcool e que sejam fiscalizadas: idade mínima, fiscalização de venda e consumo, fiscalização de álcool X trânsito. Restrições legais aos locais aptos à venda de bebidas (o que já é feito no exterior, e não no Brasil, onde, por exemplo, qualquer lugar pode vender bebidas, sem nenhum controle ou licença especial, etc.).

A sociedade por sua vez deve funcionar como um tecido unido.

Experiências muito simples de envolvimento de vários setores, senão todos, numa ação coordenada mostram resultados surpreendentes (veja o leitor internauta a experiência do programa DEZEPAZ de Cali na Colômbia ou o The Queensland Safety Action Projetcs na Austrália).

Por fim a Educação e a socialização do jovem (esporte, atividades culturais, atividades sociais).

Educação e socialização devem caminhar de mãos dadas. Só a Educação de boa qualidade não adianta, ela “sobra” nos países escandinavos, por exemplo, onde os adolescentes morrem de tédio e solidão, por falta de socialização e famílias mais presentes. Literalmente se entregam a bebida e outras coisas, além de ostentar um cifra impressionante de suicídios.

É de se pensar, sobretudo para aqueles que são pais.

Vasectomia e potência

Originalmente postado em 22 de Junho de 2010

Um leitor enviou uma dúvida sobre a influência da vasectomia sobre a potência masculina.

Rapidamente: a vasectomia é um processo de esterilização cirúrgica do homem. Não deve ser confundida com castração (procedimento relativamente raro, utilizado no tratamento do câncer de próstata avançado).

A vasectomia interrompe dois canais que ligam os testículos (um a cada lado) às vesículas seminais.
Esses canais, chamados dutos deferentes, transportam exclusivamente os espermatozóides num meio líquido fluído e translúcido, em pequena quantidade, continuamente, para armazenamento na vesícula seminal que fica atrás da bexiga e acima da próstata.

Eles não têm nenhuma relação com os hormônios que o testículo também produz (testosterona é o principal) que são disponibilizados para o organismo através do sangue.

Na vasectomia os vasos sanguíneos são totalmente separados, aliás, com muita facilidade, do cordão deferente de cada lado. Por isso, o mecanismo hormonal não sofre nenhuma alteração e a potência não se altera.

O nível de testosterona mantém-se igual não influenciando o nível de libido (desejo sexual) ou mesmo a ereção e ejaculação. O volume que um homem vasectomizado ejacula permanece igual porque a grande quantidade (mais de 90%) do esperma, com todas as suas características de cheiro, consistência, aspecto e cor, é produzida na vesícula seminal e próstata. Só não teremos os espermatozóides se fizermos uma análise microscópica do esperma.

Em muitos casais, após a realização da vasectomia, o desempenho sexual da mulher e do homem pode inclusive melhorar, uma vez que muitas vezes a preocupação com uma gravidez indesejada, não programada, deixa de ser um problema nas relações do casal.

Criptorquidia - cinco minutos com o especialista

Originalmente postado em 7 de Abril de 2010

Criptorquidia é uma situação em que o testículo da criança não desce até o escroto (a bolsa que contém os testículos).

Porque o testículo “desce”?
Desce porque na nossa formação, como embriões, nossos testículos são formados ao lado dos nossos rins e o embrião é como uma concha que vai se abrindo. Nessa “abertura” o testículo de cada lado vai migrando, por dentro da nossa cavidade abdominal até a região inguinal (a virilha) e desce até a bolsa, conhecida como escroto (o famoso “saco”, também chamado, com redundância, como “bolsa escrotal” ou “saco escrotal”).

Para que o testículo desce?
Na raça humana e também em alguns animais o funcionamento do testículo deve ser, idealmente, num ambiente de temperatura entre 2 e 3 graus centígrados abaixo da temperatura corporal. Se isso não ocorre existe prejuízo na formação dos nossos espermatozóides, que ficam lerdos, de morfologia alterada e, com o passar do tempo, o tecido que os forma sofre de tal maneira que a sua produção cai e a pessoa caminha para uma infertilidade.

Quais são as funções do testículo?
O testículo produz os hormônios sexuais masculinos (o principal é a testosterona) e também tem a função reprodutora que é a produção de milhares de espermatozóides, as células reprodutivas masculinas com 23 cromossomos que se juntam com o seu equivalente feminino, o óvulo que tem os outros 23 cromossomos da mãe. Uma pessoa adulta normal tem então 46 cromossomos e os sexuais: XX na mulher e XY no homem.

Quando o testículo desce?
Os testículos vão para a bolsa entre a 27ª e 34ª semana de gestação (nessa semana 80% deles já desceram para a sua posição normal). A criptorquidia é a anomalia congênita mais comum nos bebes do sexo masculino. Aparece em 3% deles todos. Após o nascimento o testículo ausente pode estar dentro do abdômen, no canal inguinal (geralmente palpável) ou, mais raramente em locais fora do trajeto habitual (ectópicos). Geralmente 80% dos testículos que não estão na bolsa são palpáveis no exame físico o restante, 20% são não palpáveis podendo estar no abdômen , como já dito, estar atrófico ou já ter desaparecido. Dos testículos fora da bolsa 70 a 77% descem até os 3 meses de vida do bebe. Após um ano de idade a criptorquidia tem uma incidência de 1% que é igual também na vida adulta (entre os homens adultos a condição existe em 1 para cada 100 homens).

Existem pessoas mais propensas a apresentar o problema?
Bebês de baixo peso e prematuros têm mais chance de apresentar o problema. O consumo de cola (vício de cheirar cola) também está comprovado como fator causal, aumentando a chance da criptorquidia. O antecedente de casos na família também aumenta a chance de um bebê apresentar o problema nas seguintes proporções: 3,6 vezes mais se existe um membro qualquer na família que teve o problema; 7 vezes mais a chance normal se for um irmão que apresentou o problema; 4,6% mais se o pai da criança teve criptorquidia. Nos Estados Unidos também se verifica uma incidência maior desse problema entre os hispânicos e afro-descendentes.

Quando uma criança nasce sem o testículo na bolsa o que pode haver?
Em primeiro lugar o testículo que não está na bolsa será identificado clinicamente (palpável) em 80% dos casos; nos restantes 20% ele não será identificado como já foi dito. O testículo pode existir no canal inguinal, acima da virilha, local mais comum (“no caminho natural dele”) ou estar dentro do abdômen (necessidade de exames e até laparoscopia para localizá-lo). Pode também estar ausente (vai se atrofiando ainda na fase de embrião (no inglês “vanishing testis”) ou se apresentar atrófico, já alterado gravemente no nascimento.
Outro fato que pode acontecer com esses pacientes é o aparecimento de algumas condições associadas à criptorquidia: Hérnia inguinal do mesmo lado é a mais comum (em 90% dos casos) e mais raramente: a torção do testículo e outras anomalias congênitas mais raras, como a epispádia e hipospádia (abertura anômala do canal do xixi, fora da ponta do pênis, no trajeto do canal (uretra), na região dorsal do pênis e na parte de baixo (ventral), respectivamente.

O testículo criptorquídico também tem uma chance grande de alterar a fertilidade da pessoa quando adulta. A temperatura maior de 2 a 3 graus Celsius pode interferir nas células germinativas que existem nos testículos. As alterações vão desde a diminuição do seu número até alterações na linhagem das células tronco fetais que vão se convertendo em células tronco adultas e em espermatócitos. Essas alterações ocorrem muito precocemente nos primeiros anos de vida da criança, já marcadamente entre o primeiro e segundo ano, daí a recomendação em se fixar esse testículo ainda no primeiro ano de vida da criança, na tentativa de reverter esses efeitos deletérios sobre o funcionamento do testículo. Essa fixação é um procedimento cirúrgico. Em menor escala se utilizam hormônios para tentativa de uma descida espontânea, com o auxílio de medicamentos.

O testículo fixado está isento de problemas na vida adulta?
Não. Ele deve ser periodicamente examinado. A chance de desenvolvimento de um tumor de testículo é bastante aumentada nesses testículos quando comparados com a chance do mesmo problema em testículos normais. Um em cada dez tumores de testículo ocorre em testículos criptorquídicos. A probabilidade de aparecimento de um tumor num testículo normal é estimada em 1 para 100.000 pessoas. Quando existe a criptorquidia essa chance é de 1 para 2.550 ! Isso representa, praticamente, uma chance 40 vezes maior.
O controle deve ser anual pelo urologista, com palpação e ultrassonografia, além de alguns marcadores dosados no sangue, diante de qualquer suspeita.

O tumor de testículo detectado precocemente (pequenos tumores) são potencialmente curáveis, completamente na grande maioria das vezes e sem interferir na expectativa de vida do homem assim tratado. A doença não vai roubar anos de vida do paciente por ela própria.

O que é testículo retrátil?
É uma situação que simula a criptorquidia. Nela o testículo sobe por reflexo (reflexo cremastérico). Esse reflexo existe normalmente (por exemplo quando pulamos em uma piscina gelada, nas relações sexuais, muitas vezes, etc.). Em alguns rapazes e adultos ele pode ser mais exacerbado. O urologista pode diferenciar uma condição da outra com facilidade.

Influenza e Sarampo - Atualização da vigilância epidemiológica pelo mundo.

Originalmente postado em 15 de Abril de 2010

Em número recente, de abril de 2010, da revista “The Lancet”, uma das revistas médicas mais conceituadas no mundo, chegam três notícias muito inter-relacionadas com o contexto que vimos observando na sociedade, principalmente no Brasil, nas últimas semanas.

As notícias referem-se:
1) um grande surto de sarampo no Zimbábue e cidade do Cabo, África;
2) a última reunião da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 23 de fevereiro (Comitê de Emergência) sobre o status da pandemia de gripe suína (influenza H1N1);
3) as últimas recomendações da mesma OMS para a vacinação contra gripe.

O que sarampo tem a ver com gripe e sua vacina? Absolutamente nada do ponto de vista médico estrito.
São doenças distintas, agentes distintos, mas que têm em comum a possibilidade de proteção através da vacinação.

Do ponto de vista social e público atual têm muito mais a ver porque exemplificam bem o contraponto à campanha irresponsável e ignorante que vem sendo feita, a torto e a direito, principalmente pela Internet contra a vacina da gripe. São totais desconhecidos (pessoas, “doutores”, sites, blogs e o diabo a quatro) elevados à condição de “oráculos da verdade” e com posição totalmente contrária à vacinação, com delírios de “teoria da conspiração”, rivalizando com os “blockbusters” do entretenimento, que abundam na televisão e no cinema.

É sabido que nos Estados Unidos existem algumas ONGs que são totalmente contrárias a todos os tipos de vacina, assim como existem outras que são totalmente contrárias a esse ou aquele medicamento, tratamento, cirurgia, alopatia, homeopatia, etc. São fruto do livre pensar e da liberdade de pensamento e expressão que naquele país imperam.

Mas o rigor científico que é exigido na ciência médica no mundo todo não é o mesmo que baliza esse pessoal. Citações sem embasamento, para-ciência. Casos esporádicos transformados em casos generalizados (por exemplo, a reação vacinal com Síndrome de Guillan-Barrè, uma paralisia raríssima, tornando-se uma “complicação tipo 1 caso em cada 3 vacinações” ou até mais absurdo do que isso!).

São opiniões e crenças convertidas em verdades, falsamente alavancadas por dados e depoimentos sem pé, nem cabeça, sem pesquisas sérias, e por aí afora. Ontem recebi um email que dava conta de um depósito de urnas mortuárias para uma mortandade sem precedentes a ser causada pela vacina que podia ser visto pelo Google Earth, tamanha a extensão da funerária ao ar livre… É risível para não dizer outra coisa de baixo calão…

Os ecos desses exageros, maquiados aqui e ali para maior “veracidade”, têm invadido nossos emails e até nossas conversas. É o reino da boataria generalizada.

Presta-se um desserviço à comunidade e engorda-se a ignorância popular.

Nesse sentido as três notícias se encaixam como uma parábola moderna sobre esses fatos.

É muito fácil essa atitude “naturalista” ou “conspiratória”, num mundo de hoje e na sociedade americana que viu praticamente banidas do seu país, doenças com grande cobertura vacinal como a varíola, rubéola, o sarampo, a poliomielite, a meningite meningocócica, tétano, raiva, caxumba, as flaviviroses (febre amarela) e boa parte das hepatites virais (A e B) que quando crônicas (principalmente o tipo B) são a principal etiologia da insuficiência hepática, que alimenta as tristes filas de transplante hepático no mundo todo.

Já no Zimbábue a situação não é a mesma.

Apenas entre 5 e 22 de janeiro desse ano oito crianças morreram de sarampo naquele país. Depois disso foram registrados 1.200 casos com 90 mortes pela referida doença. Em fevereiro na cidade do Cabo, África do Sul foram também registrados 422 casos confirmados de sarampo naquela cidade, com 46 casos extremamente graves, isolados em UTI, em 2 hospitais inteiros também isolados para o problema.

Já foi iniciada uma vacinação em massa, começando nas regiões mais críticas.

O leitor aqui do blog é inteligente e não preciso me alongar.

Quanto à gripe os dados compilados pela OMS apontam a regressão em vários países, onde já passou o pico da transmissão e dos casos novos, mas ainda não se pode generalizar esse conceito ao mundo todo e diminuir o nível de alerta mundial que o órgão manteve.

Aproxima-se a estação fria, de inverno, no hemisfério sul que concentra países mais pobres na faixa que vai do nosso continente sul americano, África e toda a Ásia pobre. Além disso, até o dia 28 de fevereiro de 2010, casos confirmados continuavam a ser reportados em 213 países pelo mundo todo, incluindo no total 16.455 mortes notificadas e documentadas pelo H1N1.

As áreas mais ativas no presente momento são partes do sudeste da Ásia e sudeste da Europa.

Além disso, no mesmo sudeste da Ásia e Mongólia na China começam a aparecer as gripes anuais pelo vírus da influenza B.

A sazonalidade das gripes é bastante conhecida e caminha junto com o sol na geografia mundial. Nascem no leste e avançam para o oeste.

Por essa razão a terceira notícia nos dá conta da recomendação da OMS de incluir na vacina anual da gripe comum para a próxima temporada no hemisfério norte (entre novembro de 2010 e abril de 2011), além da cepa H1N1, as cepas da influenza B e influenza A H3N2.

HPV - comentários sobre alguns pontos fundamentais da virose

Originalmente postado em 21 de Janeiro de 2010
 
  • O HPV é um vírus de transmissão sexual. O uso do preservativo deve ser recomendado como método eficaz de prevenção para o HPV e outras doenças sexualmente transmitidas (DST).
Comentário - 60% da população geral tem comprovação laboratorial de ter tido contato com o vírus e o eliminou, sem lesões e sem seqüelas. 25% nunca teve contato com o vírus. Os 15% restantes se dividem em 1% com verrugas, 5% com lesões planas, muitas vezes só detectadas com peniscopia e colposcopia e 10% podem portar o vírus sem lesão (exames com material escovado dos genitais (pênis, vagina, colo do útero, ânus, etc., apontam a presença de DNA do vírus). Quando nos contaminamos todas as evoluções acima podem ocorrer. Quando existe a evolução para o aparecimento de lesões pode haver um período de incubação variável entre 1 semana e 1 ano em média.
Quando estamos na situação de presença do vírus sem lesão podemos evoluir para lesões (verrugas ou lesões planas) ou para a eliminação do vírus – entrando na estatística dos 60% da população.

  •A infecção por HPV por si só não é considerada uma doença e não existe tratamento contra o vírus somente para as lesões provocadas por ele

Comentário - Apesar disso podemos intervir nos sentido de melhorar a resposta imune do organismo. A prática clínica mostra que no nosso cotidiano as pessoas nem se dão conta do quanto trabalham contra si mesmas: dormindo mal, comendo mal, estressando-se em excesso mais do que o necessário, “neurotizando” a situação relacionada ao HPV (o que também trabalha contra a pessoa), não se exercitando, etc.
Tratamos as lesões diminuindo o tempo de eliminação das mesmas, mas a cura, o clareamento do vírus é feito pelo organismo, que pode ser ajudado, inclusive com as novas vacinas.

•Uma pequena proporção das mulheres infectadas apresenta infecção persistente, o que aumenta o risco de desenvolver o câncer cervical

Comentário - mesmo essa pequena porcentagem que apresenta os tipos de HPV mais agressivos podem não apresentar vírus com real atividade que iniba a p53 e RB, proteínas que nos defendem da transformação celular que leva ao desenvolvimento de câncer. Existe exame que determina essa atividade, medindo o risco do HPV de risco! No homem esse exame de atividade do HPV de alto risco tem pouca utilidade porque a chance de transformação maligna no pênis é muito pequena. Os cânceres de pênis são muito raros em termos estatísticos. Há necessidade de uma conjunção de fatores muito além do HPV em si. A higiene é um dos fatores primordiais no caso do câncer de pênis.

•Mesmo pacientes com um único parceiro sexual fixo devem realizar os exames preventivos, pois o vírus pode permanecer latente por muitos anos, até décadas


Comentário - Quem leu os fatos acima já chegou a essa conclusão em função das inúmeras variáveis de tempo e biologia do vírus. Além disso não existe nenhum exame ou prova biológica que possa elucidar o fator contaminação e tempo do vírus no organismo. Poucos casos têm uma história clínica de fatos lineares e conclusivos sobre quando, onde e com quem determinado paciente pode ter se contaminado. Mais importante ainda, esse tipo de informação não acrescenta nem muda nada em relação ao que deve ser feito e ao que pode acontecer em termos de evolução do HPV na pessoa. Não tem utilidade; pelo contrário idéias persecutórias e neuroses em torno do assunto só fazem baixar mais ainda as defesas imunes do organismo com o vírus.

•A maioria das mulheres que tem HPV não terá necessariamente alterações celulares ou câncer, mas todas devem seguir as orientações médicas para prevenção da doença.
•A infecção por HPV é muito comum, mas o câncer cervical é raro


Comentário - E, quando indicado, também seguir as medidas de tratamento. O HPV deve ser encarado como uma DST em ambos os sexos em primeiro lugar. A conseqüência na esfera do câncer ginecológico é relativamente rara e praticamente inexistente em quem se previne e se trata. No homem vale a mesma coisa – HPV é DST. A transformação celular com possibilidade de câncer de pênis é mais remota ainda, embora não impossível.

•Existe vacina para o HPV. Deve ser utilizada por mulheres entre 9 a 26 anos que ainda não iniciaram a atividade sexual. Mesmo as mulheres vacinadas devem continuar a fazer os exames preventivos, pois a vacina não previne contra os tipos de HPV menos comuns.

Comentário - A introdução da vacina deverá determinar um impacto muito grande a médio e longo prazo na incidência de câncer de colo uterino. A prevenção contudo deve ser mantida não só pelos tipos mais raros, mas por uma questão de segurança em relação a outros tipos de doenças e mesmo cânceres de outra linhagem. Mulheres jovens e sexualmente ativas devem ser acompanhadas em relação a outras DSTs que podem influenciar na sua saúde geral e reprodutiva (como é o caso da Clamídia, que passou a ser de rastreamento obrigatório nos Estados Unidos). A vacina também está sendo utilizada em homens com a mesma indicação e especial interesse em evitar as lesões verrucosas que mesmo nos países mais adiantados têm exibido uma curva ascendente preocupante na sua incidência, com mais e mais casos anualmente. Além disso, existem evidências de que ela possa ter um efeito benéfico nos casos de homens que já tiveram o HPV e estão na situação clínica de persistência do vírus (lesões que voltam apesar do tratamento). 


  • Um estudo americano com quase quatro mil homens nessa condição mostrou que as recidivas das lesões podem ser reduzidas em mais de 60%.
Comentário - a latência é comprovada e é um fato científico. A priori deve ser interpretada como um bom sinal da imunidade da pessoa, pois durante anos e anos o vírus está ali e não progride para uma situação em que lesões tornem-se presentes. A latência, além disso, não é uma regra, mas uma exceção do ponto de vista estatístico e médico. Muitas pessoas que se julgam com a presença de um HPV latente, na realidade têm novas contaminações durante a sua vida.

•Ter HPV não é sinal de infidelidade
 


Comentário - a transmissão sem relação sexual propriamente dita é possível. As mãos podem funcionar como veículo de transmissão mesmo que não se consume a penetração. O vírus já foi encontrado em roupas, sabonete e outros objetos de contato com os genitais/lesões. Essas vias, contudo, têm um poder infectante desprezível. O vírus precisa de atrito das mucosas, que por sua vez causa váris fendas microscópicas (micro-traumas) na superfície da mucosa. Ele precisa atingir a camada basal da mucosa. Nessa camada ele consegue entrar na célula e permanece inerte até que essas células vão maturando e migrando para a superfície da mucosa. Nessa fase, durante esse caminho, o vírus se integra ao núcleo da célula. É figurativamente como um terrorista, que entrasse clandestinamente num navio, ainda no porto, ficasse escondido e só dominasse a tripulação e o comando do navio quando esse estivesse afastado da costa (o que figurativamente explica as defesas mais lentas do organismo contra uma lesão tão superficial e longe do sistema imune).

•A infecção por HPV é muito comum na população em geral, cerca de 60 a 80% das mulheres irão contrair o HPV durante a vida, entretanto a maioria não perceberá nenhum sintoma clínico e a maioria vai eliminar o vírus naturalmente.

 
A infecção pelos papilomavírus é transitória na grande maioria das pessoas, regredindo espontaneamente quando o sistema imune está normal num período entre 8 a 15 meses.

Dor no testículo

Originalmente postado em 6 de Janeiro de 2010

Uma queixa muito frequente que motiva procurar o urologista é a dor em um dos testículos e mais raramente nos dois.
Dores muito agudas e fortes devem ser imediatamente verificadas. O pior quadro que pode ocorrer nesses casos é a torção do cordão que liga e suspende o testículo dentro da bolsa escrotal. Nesse cordão existem vários elementos como artéria, veias e o conduto deferente por onde passam os espermatozóides. A torção desse conjunto de tubos faz com que o suprimento de sangue arterial, que chega ao testículo, diminua muito ou mesmo cesse. A falta de irrigação de um órgão leva à morte daquela área sem sangue. Isso é genericamente denominado de infarto. O termo infarto, portanto, não é uma coisa exclusiva do coração. No caso da torção de testículo temos como conseqüência um infarto testicular. Como o tecido é muito nobre a falta de oxigênio leva à necrose dos tecidos. Isso evolui com o comprometimento do tecido responsável pela produção dos espermatozóides e depois das células que produzem o hormônio masculino, a testosterona. A maior parte dos pacientes que têm a infelicidade de sofrer uma torção testicular é constituída de crianças, adolescentes e adultos jovens, quando a função reprodutiva ainda precisa ser protegida e é muito importante na vida desses indivíduos. Geralmente existe um fator predisponente do ponto de vista anatômico.


Em linhas gerais esse defeito relaciona-se com a conexão do cordão ao testículo e epidídimo. Numa pessoa normal essa inserção é em toda a porção póstero lateral do testículo em seu maior eixo (imagine uma azeitona preta grande, como se estivesse em pé e com esse cordão ligado de cima abaixo na sua face posterior. As chances de esse cordão rodar e torcer são mínimas. Já nas pessoas predispostas a inserção desse cordão é feita no topo do testículo, como imagem clássica de um badalo de sino. Nessa situação o movimento circular é fácil e pode torcer o cordão. O atendimento dentro das primeiras 6 ou 8 horas garante a recuperação praticamente total desse testículo, sem morte de tecidos. Atendimentos fora desse prazo são acompanhados de comprometimento do órgão. O tratamento da torção é cirúrgico. Rarissimamente se consegue desfazer manualmente a torção. Geralmente o edema local e a dor inviabilizam essa manobra.

Mas, felizmente, a grande maioria das dores testiculares não são tão graves assim.
A dor testicular pode ser sinal de inflamação/infecção no testículo (orquite), no epidídimo (epididimite) ou nos dois (orquiepididimite). Pode ainda refletir um problema da parede abdominal (hérnia inguinal ou inguino-escrotal) e até como dor reflexa de cálculos renais.
Raramente existe a possibilidade de ser uma dor de origem músculo-esquelética, geralmente envolvendo os adutores da coxa e ligamento da região perineal. Esse tipo de diagnóstico é o que chamamos em Medicina como “diagnóstico de exclusão”. Há a necessidade de eliminar todas as demais possibilidades antes de se firmar esse tipo de diagnóstico. O tratamento das condições inflamatórias é clínico e tem vários detalhes caso a caso.
Para os mais hipocondríacos que podem logo pensar em câncer de testículo fica um alívio na informação de que na grande maioria das vezes ele não se acompanha de dor. O sinal principal é a presença de um nódulo (um caroço) indolor, endurecido, de fácil palpação durante o banho e no exame físico do testículo. A dor, quando presente no tumor pode aparecer na evolução de tumores de crescimento mais rápido em que podem ocorrer pequenos infartos no tecido tumoral (dentro do próprio nódulo canceroso). O tratamento dos tumores de testículo atualmente é um dos mais promissores em que podemos falar de cura total. A retirada do testículo contendo o nódulo canceroso é o pilar do tratamento. A quimioterapia complementar é muito eficaz.

A perda de um testículo não representa uma ameaça à função sexual e reprodutiva. O testículo remanescente, desde que normal anteriormente, mantém as duas funções, inclusive com um aumento de seu tamanho (o que em Medicina é chamado de vicariância do órgão – ocorre também em rins que se tornam únicos, por exemplo). No entanto, uma atenção especial deve ser dada à preservação da função reprodutiva quando houver indicação de quimioterapia. Hoje em dia antes de sua realização pode-se lançar mão da coleta de amostras para congelação em banco de sêmen, antes do tratamento. Algumas vezes, meses após o término da quimioterapia pode haver o restabelecimento da função reprodutiva do testículo que restou. O contrário também pode acontecer. Daí a importância do banco de sêmen nesses casos.
Outra situação que deve ser conhecida é o efeito contralateral de situações infecciosas e mesmo a atrofia de um dos testículos. Trocando em miúdo podemos ter um quadro inflamatório/infeccioso de um lado, com o testículo evoluindo para uma atrofia e, nessa situação, influenciar negativamente a função do outro testículo que não apresentava nada no início.

A atrofia do testículo manifesta-se pela diminuição do seu volume. Em condições normais pode existir uma pequena diferença volumétrica entre um testículo e outro no mesmo indivíduo. Isso em geral não ultrapassa uma porcentagem de 15 a 20%. Discrepâncias maiores devem ser investigadas.

Pesquisa médica - resultados inesperados - 1

Originalmente postado em 12 de Janeiro de 2010

Já algumas vezes escrevemos sobre resultados inusitados e inesperados em pesquisa médica.Muitas vezes o senso comum aponta indiscriminadamente para um “modelo” de comportamentos esperados e cartesianos no organismo humano.

Um resultado interessante foi publicado no final de 2009 nos Estados Unidos no Journal of Allergy and Clinical Immunology, uma publicação voltada aos problemas imunológicos e de alergia.

Esse artigo estudou o comportamento do colesterol total, HDL (o colesterol “bom”) e o não-HDL e a presença de asma e sibilos (a “chiadeira” nos pulmões dos asmáticos, vista nas crises dessa doença).

O resultado apontou que existe uma relação inversa entre os níveis de colesterol total e não-HDL. Nos pacientes com asma ativa encontrou-se taxas menores desses dois “colesteróis ruins” (!)

Não há equívoco. As taxas baixas desses “vilões” aparecem em quem tem mais asma e sibilos nessa população de estudo dos Estados Unidos.

Não houve correlação entre asma e índice de massa corpórea.

Resultado inesperado para o “eterno culpado”, não é?

O estudo foi conduzido por vários investigadores do respeitado NIH, National Institute of Health e envolveu quase 8 mil pessoas.