quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A violência silenciosa

Um editorial recente do New England Journal of Medicine chama a atenção para o 'legado das tragédias" que se sucedem naquele país, sendo o último, há poucas semanas, numa sexta-feira, extremamente chocante pela tenra idade das vítimas, estudantes de uma escola primária.

Tais eventos são chocantes e comovem a opinião pública.

Sandy Hook, Oak Creek, Aurora, Virginia Tech, Columbine.  95 pessoas mortas

Mas o articulista, Dr. Garen J Wintemute, do Departamento de Medicina de Urgência da Escola de Medicina em Sacramento, da  Universidade da Califórnia  chama a atenção para dois fatos lapidares sobre o assunto:  Primeiro que esse tipo de atentado não tem aumentado, como pode parecer a primeira vista. De outro, num país como os Estados Unidos 88 pessoas morrem diariamente em função da violência envolvendo armas de fogo. E mais 200 e tantas ficam severamente doentes pela mesma causa. Há uma estimativa, ainda não fechada, de que em 2012, naquele país, pela primeira vez na história, houveram mais homicídios e suicídios relacionados com o uso dessas armas do que mortes relacionadas com acidentes de trânsito.

O motivo?  Uma estatística perversa:  O país abriga menos de 5% da população mundial, mas detém mais de 40% das armas de fogo em mão de cidadãos civis. Por baixo são 250 a 300 milhões de armas.

O assunto é bastante complexo e envolve tradições históricas da própria constituição americana, mas muito pode ser feito, em termos de controle mais rigoroso da compra e venda de armas.

http://www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMp1215491

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Anti-aging - atualizando um assunto.



Em fevereiro desse ano fizemos uma postagem a respeito do assunto Antiaging.

Na ocasião expusemos nossa opinião e sérias reservas a respeito de uma prática médica totalmente sem fundamentos bem estabelecidos, muito próxima da picaretagem, dado o comércio envolvido, com medicamentos "miraculosos", geralmente prescritos e manipulados dentro de esquemas bastante anti-éticos.

Muito bem, para que o nosso leitor se mantenha atualizado, acima está a página 8 do último número do jornal do Conselho Federal de Medicina, distribuído a todos os médicos do país, na última segunda-feira (19/11/2012), que na sua página 8, noticia a proibição da referida "prática médica", após um longo processo de análise em diversas câmaras técnicas de estudo a respeito do assunto.

Fica para registro.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Sífilis - a doença esquecida e atual



Falar em Sífilis parece falar de Nero, que louco em função dessa doença, ateou fogo em Roma e dedilhou sua cítara. Ou como se fosse uma doença dos poetas e figuras da Idade Média e do Renascentismo..

Engano seu. Engano. quase mortal (a Sífilis demora para matar), mas continua um engano ignorar. Uma ignorância atual, a bem da verdade!

No gráfico acima vemos a incidência do problema no Distrito Federal, Brasília e cidades satélites. Dados recentes de 2012.

Se para você, 25 casos em 100.000 pessoas parece pouco, não se engane.

Você pode se afogar achando que a água não está batendo naquele lugar... Como diz a expressão popular.

25 casos por 100.000 habitantes são os casos notificados,  aqueles que foram objeto do médico preencher uma ficha  oficial  notificando o caso às autoridades e ao sistema de saúde e vigilância.

Estão fora todos os casos de consultório, todos os casos "particulares e de convênio"  como hoje denominamos.

A Sífilis é muito traiçoeira.
Pode originar uma lesão inicial ( uma ferida ou úlcera no pênis, que não aparece logo após a relação e que sara sozinha em alguns dias). Se isso acontece seguem-se as suas formas secundárias e terciárias, ambas de evolução lenta. Daquele tipo que não percebemos.

A forma secundária, em termos bem gerais, pode ser confundida com "alergias" de pele, "grosseiros" e outas denominações de exantemas (reações cutâneas generalizadas, avermelhadas, como um urticária geral). Uma "doença de pele", extremamente contaminante.

Já a forma terciária atinge o coração, rins etc. Tudo bem devagar, e principalmente o cérebro, sorrateiramente.

Há um episódio do House muito interessante de uma velhinha que "de repente" ficou tarada.

Focos cerebrais da sífilis. Foi  tratada, mas os focos cerebrais  estabelecidos não se curam.

Visão romântica de algo que pode ser bem mais sério.

Muitos "Alzeihmers"  são focos sifilíticos.... Para dizer o mínimo.










sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Avança campanha para vacinação pública contra o HPV no Brasil

Notícia publicada no Midia News de ontem anuncia que foi aprovado na Comissão de Assuntos Sociais do Senado um projeto que prevê a disponibilidade na rede pública da vacina contra o HPV para as meninas entre 9 e 13 anos.

É para comemorar.

Mas falta.

Os homens não podem ficar de fora disso.

Toda a Europa, a Austrália e os Estados Unidos preconizam a vacinação masculina.  O homem pode ter menos câncer de pênis, mas tem igual prevalência do HPV e é o transmissor (o vetor) do vírus para o sexo feminino.

Setores organizados da sociedade deveriam atentar para um passo mais largo da Saúde Pública, uma vez que para compras governamentais de R$ 1000 o ciclo de 3 vacinas, o custo cairia para algo em torno de USD 50 ou R$ 100, segundo cálculos da OPAS,  Organização Panamericana de Saúde .

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Reabilitação peniana - do erótico ao científico.


Com a disseminação da prostatectomia radical para o tratamento do câncer de próstata um fato inconteste passou a fazer parte da rotina desses pacientes, após a cirurgia: a volta a atividade sexual.

Num primeiro momento a técnica cirúrgica foi aperfeiçoada para, dentro do possível, poupar os minúsculos feixes vásculo-nervosos relacionados com o mecanismo de ereção. Dentro do possível porque, muitas vezes, isso não é uma simples escolha ou habilidade, senão, uma grande dificuldade técnica que pode colocar em risco a radicalidade do procedimento ("sobrar câncer no local").

Vencida essa etapa, ainda assim alguns fatores em muitos pacientes geram dificuldades sexuais, não apenas na qualidade da ereção, como também no real encurtamento do pênis, posto que um segmento grande da uretra, contido dentro da glândula prostática vai embora na peça retirada na cirurgia. O canal tem que ser suturado e restabelecido diretamente na sua saída da bexiga, resultando na tração do restante do pênis, como a embuti-lo, em função da aproximação de todo o restante da uretra até o colo vesical (orifício de saída da urina).

Esses pacientes, após vários trabalhos e estudos, hoje em dia, vem sendo submetidos à chamada reabilitação peniana com o uso de dispositivos de ereção por vácuo, combinadamente com o uso de inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (Viagra, Levitra, Cialis, Helleva,Suvvia,Vivanza, etc). Os dispositivos de vácuo são os mesmos, que até há alguns anos atrás eram apenas item dos sex-shops, com finalidades eróticas e de aumento peniano.

Os resultados são favoráveis, mas ainda não totalmente definidos e estudados em todos os seus aspectos. Nem mesmo com a finalidade única de aumento peniano, sem cirurgia de próstata.  

Fica, contudo, a informação ao leitor.


Fontes:

Kimura, M., Caso, J. R., Bañez, L. L., Koontz, B. F., Gerber, L., Senocak, C., Donatucci, C. F., Vujaskovic, Z., Moul, J. W. and Polascik, T. J. (2012), Predicting participation in and successful outcome of a penile rehabilitation programme using a phosphodiesterase type 5 inhibitor with a vacuum erection device after radical prostatectomy. BJU International. doi: 10.1111/j.1464-410X.2012.11168.x

Pahlajani G, Raina R, Jones S, Ali M, and Zippe C. Vacuum erection devices revisited: Its emerging role in the treatment of erectile dysfunction and early penile rehabilitation following prostate cancer therapy. J Sex Med 2012;9:1182–1189.

Yuan J, Hoang AN, Romero CA, Lin H, Dai Y, Wang R. Vacuum therapy in erectile dysfunction--science and clinical evidence.Int J Impot Res. 2010 Jul-Aug;22(4):211-9. Epub 2010 Apr 22.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

BOTULISMO - Um indicador de que algo (mais) não vai bem em nosso País.


Com alívio e orgulho o cidadão paulista viu a mobilização (habitual, diga-se com justiça) para salvar uma família vítima de botulismo alimentar em Santa Fé do Sul, uma cidade na fronteira do Estado. Instituições governamentais estaduais se mobilizaram para levar rapidamente o remédio aqui produzido, raro e de pouco uso, para uma intoxicação causada pelo Clostridium botulinum (e mais raramente pelas variantes: Clostridium butyricum ou C. baratti).

O botulismo já foi um problema de saúde pública na primeira metade do século passado. A doença está associada a comida conservada inadequadamente. Em sua forma máxima, o odor é forte e várias outras evidências visuais são bastante fáceis de identificar o alimento impróprio. Mesmo o tradicional abaulamento das latas de conservas...

No organismo humano o agente fica alojado no intestino e produz toxinas das mais venenosas imagináveis, alastrando-se pelo organismo. Causa um quadro clínico muito parecido, no seu início, com a encefalite, uma doença diferente. Geralmente não há febre. O botulismo, ao contrário da encefalite, afeta os circunstantes (consumo comum do alimento contaminado), sempre há mais de uma ou duas pessoas doentes.
  
Na Primeira Guerra Mundial  um surto de encefalite  na Inglaterra foi erroneamente identificado como botulismo (em função das restrições alimentares impostas pela escassez e precariedade do abastecimento alimentar). Mas um ano depois, em 1919, no outro lado do Atlântico,  o “The Boston Medical and Surgical Journal”, em sua edição de quinta-feira, 29 de julho de 1920 relatava que “durante a última parte do ano de 1919, numerosos casos de envenanamento, e um grande número de mortes, foram reportadas em diferentes partes do país

O bacilo é um ser anaeróbio.  Desenvolve-se apenas na ausência de oxigênio.
Foi descrito por  Justinus Kerner, poeta e médico alemão,  entre 1817 e 1822, que definiu a doença, estudando 230 vítimas da doença chamada como “doença da salsicha”. Botulismo vem de “botulus”, salsicha em latim. Mais tarde, em 1895 , aconteceu outro surto envolvendo 34 músicos que consumiram um presunto defumado,  numa pequena cidade belga (Ellezelles), após um funeral. A investigação , levada  a cabo por Emile Pierre Ermengem, da Universidade de Ghent,  descobriu que o problema era uma intoxicação pela toxina (envenenamento)  e não uma simples infecção pelo esporo do Clostridium botulinum.

Historicamente o envenenamento alimentar não é novo.  São vários os elementos e situações. Nesse particular, do envenenamento pelos embutidos e alimentos em conserva, já o Imperador de Bizâncio, Leão VI, no século X proibiu oficialmente no seu império, divisor de civilizações e da geografia moderna, a fabricação de lingüiças contendo sangue.

O agente e a doença

O Clostridium tem distribuição farta e universal na natureza. Fica adormecido e só prolifera sob condições adequadas. Na comida em conserva, geralmente há adição de água, para aumentar o conteúdo total, Processos de defumação  e temperaturas maiores, junto com o envazamento a vácuo ou próximo disso – utilização de gordura,  completam as condições ideais para a contaminação do alimento. Evidentemente nesse processo todo há a falta de higiene, a vilã principal.

Clinicamente as toxinas do Clostrídium, liberadas pela colonização no intestino da pessoa,  atacam as junções neuro-musculares com paralisias, sendo a mais importante a paralisia ou falência respiratória (levando a dependência de respirador artificial) e mesmo a morte.

Antibióticos não funcionam contra a doença.

Anti-toxinas produzidas em eqüinos são utilizadas para a neutralização das toxinas.  

Em crianças as anti-toxinas eqüinas são perigosas. Causam anafilaxia e doença do soro (o que também pode acontecer nos adultos...).

Nas crianças  são utilizadas globulinas humanas (“Human Botulism Immune Globulin”) ,  que são anticorpos neutralizantes contra as toxinas A e B (existem 7 toxinas produzidas pelo Clostridium !) obtidos do soro de pessoas saudáveis  (geralmente trabalhadores em serviços de saúde) previamente imunizadas  com o toxóide botulínico pentavalente, um produto biológico devidamente tratado em relação a outros fatores contaminantes.

Bem...  (Well...)

Porque, “mais isso”,  vai mal no País?

Pense o leitor.

Vivemos numa  conjuntura irresponsável de consumo, de estímulo à gastança,
Em nome do desenvolvimento as famílias estão quebrando, consumindo e comprando mais do que podem pagar. Crédito barato para manter a produção?

E a comparação inteligentíssima  e antológica de Rubens Sardenberg resume bem isso:  "Você pode levar o cavalo até a beira do rio, mas não consegue obrigá-lo a beber água"

No rastro disso prolifera uma atividade econômica inflada artificialmente, em todos os setores,  notadamente do consumo alimentício,  em que regras básicas não são muito, digamos, respeitadas ou seguidas.

Junte-se a ignorância histórica do que, por exemplo, já se sabia no século X em Bizâncio  e a “BABEL” está completa.

Imagine...   Explicar onde era Bizâncio???


Fontes complementares:

1-Boston Medical and Surgical Journal Vol CLXXXIII, no. 5, pag 139-140. July, 20, 1920.

2- Arnon, SS et al . Human Botulism Immune Globulin for the Treatment of Infant Botulism. N Engl J Med 2006; 354;5; 462-471. 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

AIDS - o começo do final está perto?

Hoje, dia 19 de julho de 2012,  o New England Journal of Medicine, uma das mais respeitadas revistas médicas do mundo (fator de impacto em 2011 – 53,9*) traz no seu principal editorial, assinado por Dr. Diane Havlir e Dr. Chris Beyrer,  a pergunta acima.



Não é para menos.

Em 2010 foram concluídos dois estudos de grande porte que apontaram favoravelmente para a profilaxia com anti-retrovirais com grande porcentagem de proteção contra a transmissão do HIV, o vírus da deficiência imunológica humana, causador da AIDS  (síndrome da imunodeficiência adquirida), o estágio de doença do HIV.

Por via oral e por via tópica, tal como um espermicida! (**).

Esses medicamentos,  semelhantes aos contidos no tratamentos, apelidados de “coquetéis” anti-retrovirais, utilizados no tratamento e prolongamento do período sem doença dos portadores do vírus podem evitar em proporção não total a transmissão do vírus.

Nessa semana o poderoso  FDA americano (Food and Drug Administration), ligado ao ministério da saúde dos Estados Unidos (National Health Institute) aprovou o seu uso ( nome comercial TAMAVIR).

O remédio ou a conduta não é uma panacéia ou um “passe livre” para a irresponsabilidade ou o “sexo inseguro e irresponsável”.  Mas é um passo concreto e muito importante, por exemplo, para pessoas que vivem um dilema de se relacionar com um(a) parceiro(a) fixo(a) e amado(a) “soro discordante”.

Muito simples de entender o "soro discordante". 

Um casal em que a mulher é soro positiva para o HIV ou o contrário, ou um casal de dois homens ou duas mulheres idem.
Um tem e outro não tem o vírus...

Usar camisinha para uma transa eventual protege muito contra um parceiro ou parceira eventual contaminado, que até nem sabe disso. Talvez nunca mais seja visto na vida de um ou de outro. Mas no caso de alguém próximo, de longa história, as coisas mudam. Amar, em todos os sentidos, quem sempre amamos, por anos, envolve uma convivência complicada. Por mais cuidadosa e sem renúncia, em todos os sentidos, nem sempre pode ser segura. São dramas existenciais e muito pessoais. Dramas de vida.

Esqueça o julgamento (indevido, diga-se) e a "moralidade de ocasião" enquanto na pele do outro.

Esqueça as contaminações irresponsáveis pelo sexo inseguro.

Há milhões de pessoas e de casais, numa situação assim, pelo mundo todo,  vítimas de transfusões, acidentes, contaminações profissionais e mesmo deslizes sexuais...

O assunto é muito mais amplo do que os nossos "óculos" pessoais podem enxergar!

As outras grandes esperanças citadas no editorial são uma vacina realmente promissora que vem sendo testada na Thailandia desde 2009 (**), a evidência clara de uma primeira cura de um paciente HIV-infectado e, mais importante, as evidências de que a terapia  anti-retroviral precoce possa melhorar não só o prognóstico e sobrevida normal do paciente, mas  evitar a transmissão do vírus com eficácia de até 96%. 

Esqueça o sexo, pense na transmissão mãe/ filho  (chamada "vertical" em Medicina).

No Brasil a notícia foi recebida com reticência  e a informação governamental inicial foi de que nada iria mudar em relação aos programas vigentes, que priorizam o sexo seguro e  a educação sexual para prevenir a infecção pelo HIV.

Criticável por um lado; compreensível pelo outro. No aspecto da saúde pública, no coletivo,  pela necessidade de estudos de impacto econômico e elegibilidade  (quem, quando e porque)  de uma eventual adoção dessa medida (profilaxia medicamentosa).

De outro lado, no aspecto individual, pelo medo de se incentivar, direta ou indiretamente, atitudes irresponsáveis diante do fato e da oportunidade. O velho otimismo ignorante.  

Mentes curtas  usam óculos “cor de rosa” e têm um “otimismo” de comportamento totalmente suicida...

Seguramente vamos voltar a assunto tão efusivo e palpitante.


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Notas

(*)
Fator de Impacto é um índice que monitora, realmente, o quão importante são os artigos médicos publicados em uma revista ou jornal científico. Seguem uma fórmula bastante elaborada de avaliação e acompanhamento da repercussão, significado, aplicação, citações, inovação, comprovação,  etc. de um determinado artigo e, no conjunto, dos artigos que aquele veículo publica.  Algumas publicações muito prestigiosas, como o European Urology, jornal oficial de Urologia da Europa tem um festejado FI de quase 9!

(**)
Estudos fundamentais no uso da profilaxia contra a transmissão do HIV

Grant RM, Lama JR, Anderson PL et al. Preexposure chemoprophylaxis for HIV prevention in men who have sex with men. N Engl J Med 2010; 363:2587-99.

Abdool Karim Q, Abdool Karim SS, Frohlich JA et al. Effectiveness and safety of tenofovir gel, an antiretroviral microbiocide, for the prevention of HIV infection in women. Science 2010; 329:1168-74

Nota do blogueiro  - acima você viu duas referências bibliográficas científicas. Não há segredo. Por convenção, na citação do trabalho, artigo científico, que você pode consultar na Biblioteca do Congresso Americano (o famoso PUBMED) , segue-se o seguinte:  Sobrenome e iniciais dos primeiros nomes  (exemplo João Aparecido Pereira -  Pereira JA). Os nomes vêm em sequência e na ordem. Geralmente os trabalhos, hoje em dia, têm muitos autores, até de diversos lugares. Podemos verificar o nome de todos no PUBMED, mas nas citações vão os primeiros e depois a expressão latina  “et al” – e outros ; e colaboradores...
Em seguida vem o nome do trabalho. O inglês é oficial. Ninguém perde tempo em discutir isso (desde a China, passando pelo Oriente Médio, de norte a sul). Depois do nome vem a abreviação do jornal científico. Por exemplo o New England Journal of Medicine  é apenas N Eng J Med. É outra padronização. Os números que se seguem são o ano da publicação, o número do volume da edição, a página inicial e a final. Nos dois casos acima  o primeiro artido do New England saiu em 2010, no volume 363, página inicial 2587 e página final 2599  (dois dígitos, 25, milhar e centena, idênticos, e economizados, abreviados). O outro saiu na Science (revistas com nomes curtos não são abreviados!) ano 2010, volume 329, página inicial 1168 e final 1174. Noutro post vou dar as dicas de como vemos a citação de  um livro ou capítulo de livro científico.


(***)
Rerks-Ngarm S, Pitisuttihum P, Nitayapham S et al. Vaccination with ALVAC and AIDSVAX to prevent HIV-1 infection in Thailand. N Engl J Med 2009; 361:2209-20.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Piercing no pênis – quelóide e outras complicações


Os piercings não são invenção dos nossos tempos. Abrão, ao receber Rebeca para desposar seu filho Isaac, presentou a futura nora, entre outros mimos, com um  “anel de orelha de ouro”.  Um brinco.
Os brincos foram os primeiros piercings. Há evidências, contudo, de que os piercings corporais, não apenas na orelha, mas nos lábios, nariz e outras localizações já eram utilizados antes disso conforme se verifica em papiros antigos, esculturas  e  pinturas em cavernas, além de outros objetos, como achados arqueológicos. Isso não apenas no continente europeu, mas também na cultura Inca, Maia, Asteca e nas  civilizações da  Ásia e Mediterrâneo.
Do ponto de vista arqueológico o uso desses artefatos  simbolizavam “ritos de passagem”.
A primeira referência conhecida ao piercing no pênis está no Kama Sutra, em seu segundo capítulo, atribuindo-lhe um grau de respeitabilidade e credencial do usuário. Não há menção, no entanto, em que lugar isso era inserido.
Em algumas tribos remotas de Bornéu está registrado o costume de inserção de um fragmento de osso na glande peniana.
Nos tempos atuais, portanto, parece que a imaginação nessa área (e a coragem e/ou insensatez) ganhou grandes asas. Muitos casos beiram o masoquismo e a verificação de lesões irreversíveis, notadamente nas fístulas uretrais causadas pelos dispositivos. Nas mulheres existe um movimento que vem ganhando apoio no sentido de considerar o uso desses artefatos, geralmente associados à circuncisão feminina como mutilação genital criminosa.
Recentemente vimos dois pacientes com esses artefatos, vindos ao urologista em função de complicações.
Não se tem registro, em nenhum lugar do mundo, da real quantidade de complicações desse tipo de procedimento.  Na observação e relatos isolados, no entanto, a infecção figura como a principal complicação vista. Não apenas a infecção local que, geralmente, não apresenta muita dificuldade no tratamento, mas também a infecção por hepatite B e C, além do HIV, talvez muito mais pelas condições locais e de técnica da implantação desses dispositivos, do que por eles mesmos.
Nosso primeiro caso tinha uma infecção uretral importante, refratária aos antibióticos mais comuns que necessitou da retirada do dispositivo e tratamento endovenoso com uma cefalosporina de 4ª.  geração associada a um macrolídeo (antibiótico específico) .
O outro caso era, porém, mais interessante. O paciente manifestava seu desconforto com algumas protuberâncias bastante avantajadas ao redor dos orifícios em que se inseria o dispositivo. Tratava-se de um quelóide, um tipo de hiper-cicatrização verificada com certa frequência na população, notadamente em alguns grupos e pessoas com predisposição a isso. Trata-se de uma cicatriz hipertrófica, grande, volumosa,  avermelhadas e de consistência emborrachada, como as de uma cicatriz comum recente, com a desvantagem de não perder essa coloração, volume e demais características com o passar do tempo. Muitas até aumentam.  Muitas lembram cicatrizes finais de grandes queimaduras.
Complicado o tratamento desse paciente. Não há remédio  como na infecção, nem a retirada do dispositivo reverte o problema. O queloide, uma veze desencadeado, progride e qualquer tentativa de ressecção (retirada cirúrgica) esbarra na grande possibilidade da nova cicatriz enveredar pelo mesmo caminho, criando outro queloide.
Existem várias terapêuticas que são tentadas sem garantia de êxito nesses casos. Desde a injeção de agentes como corticoides no local, compressão local, oxigênio hiperbárico,  radioterapia, terapias modernas e experimentais com nanomoléculas de prata e até  mesmo o LASER de CO2.
 Não há tratamento totalmente eficaz. Muitas vezes a remoção cirúrgica cuidadosa, seguida de algum outro tratamento associado melhora o problema.  O excesso de cicatrização envolve a função dos fibroblastos e colágeno, fibrilas e demais estruturas envolvidas na “teia” que sustenta a nossa pele  e que é ativada quando a pele sofre uma agressão como um corte, uma incisão cirúrgica, etc.
Medidas locais na área da estética, mesmo que baseadas em procedimentos cientificamente úteis em outras situações não são de grande valia nessa situação, conforme atesta a Bióloga especializada em Estética  Luana Freato Berti Risso, habituada a recuperação  de pacientes com outros problemas e pós operatório de intervenções na derme e epiderme. “Há uma reticência muito grande em relação ao queloide e as técnicas atuais, fora do escopo cirúrgico e/ou experimental”, frisa Luana.
Desse modo aguardamos o resultado do LASER de CO2, pulsátil e em baixa potência utilizado nesse caso. Oportunamente voltaremos ao assunto.  

Ausência e atividades

Os leitores com certeza perceberam uma "pausa" aqui no blog.
Não foi sem propósito.
Com muito trabalho e as últimas revisões já está publicado nosso segundo livro sobre "Lesões Genitais Masculinas", em inglês "Male Genital Lesions - The urologic perspective" com quase 500 páginas e ao redor de 700 fotos coloridas sobre praticamente tudo o que pode afetar os genitais masculinos.
O livro, que é o segundo depois do inicial sobre HPV no homem, também foi publicado pela Editora Springer da Alemanha , Heidelberg-Berlin. Estava previsto para setembro, mas estará disponível antes.
Se o leitor tiver um tempinho dê uma olhada no link abaixo
http://www.springer.com/medicine/urology/book/978-3-642-29016-9




Outras atividades foram algumas aulas sobre Cistite Recorrente na Mulher e os novos tratamentos existentes. As aulas foram em algumas cidades e centros universitários do interior paulista, envolvendo ginecologistas e urologistas.

A cistite de repetição, um tipo muito comum de infecção urinária, atinge mais as  mulheres, notadamente entre os 20 e 55 anos, e pode ser prevenida com um programa que inclui diversas medidas e investigações.
De longe a infecção urinária é o tipo mais comum de infecção na raça humana e em termos de saúde pública responde por 6% de todas as consultas médicas em geral na população. O uso indiscriminado de antibióticos e uso incorreto colocaram o Brasil numa situação sui generis em relação ao resto do mundo, com níveis alarmantes de resistência bacteriana a agentes muito potentes como o ciprofloxacino. No resto do mundo a sensibilidade a esse medicamento ultrapassa os 95%. No Brasil os últimos dados do Hospital das Clínicas mostram uma sensibilidade abaixo de 70%.  Esse foi um dos fatores que motivaram a intervenção da ANVISA no sentido de controlar a venda de antibióticos mediante receita médica retida, validade de 10 dias e quantidade limitada.

A respeito da Cistite Recorrente ou de repetição, a TV Saúde Brasil fez um clipe conosco, durante o último congresso paulista de Ginecologia da SOGESP, confira abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=4PdT5jXknFI

Até a próxima!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Sífilis - algo que pensamos tão distante, mas que está tão perto...

Mais uma vez reproduzo com orgulho uma newsletter do nosso querido Prof. Mauro Romero Leal Passos da Universidade Federal Fluminense e editor do Jornal Brasileiro de DST.


"Heleno, sífilis, negligência, invisibilidade"




Há dias, assisti ao filme Heleno (grande jogador de futebol do Botafogo, 1920-1959).
Gosto muito de cinema, mas, honestamente, neste caso, meu interesse maior era ver a abordagem que seria dada à história de um astro que teve sífilis e dela morreu em um sanatório.
Não sou critico de cinema, todavia me sinto no direito de fazer alguns comentários.
Os autores fizeram um filme primoroso. Embora retrate a vida de um jogador de futebol, o esporte não é o foco principal. A meu ver, o filme é sobre comportamento humano – a história de um homem que escolhe um estilo de vida que define seu trágico futuro. Rodrigo Santoro, no papel de Heleno, tem desempenho digno das maiores premiações nacionais e internacionais. Com certeza, muitos e merecidos prêmios virão para a obra.
No entanto, cabem algumas reflexões de outro teor. A palavra sífilis só é pronunciada uma vez, ao longo de todo o filme. A abordagem dos médicos, em relação ao tema da DST, se não me engano, ocorre em apenas duas ocasiões. Ainda assim, foram observações apáticas, sem mostrar qualquer enfático interesse em que o cliente se tratasse. Nas entrelinhas, era como se lhe dissessem: "O senhor tem sífilis e trate-se se quiser." Em relação às pessoas com quem Heleno mantinha relações sexuais, os médicos não esboçaram qualquer preocupação. Ficamos sem saber se as mulheres com quem ele se relacionou sexualmente também contraíram a doença.  
Ainda não foi dessa vez que a sífilis e as DSTs conquistaram uma boa visibilidade, na tela maior. Não foi dessa vez que médicos apareceram com condutas proativas em relação às doenças sexualmente transmissíveis. 
Aprendi que a arte não tem o compromisso de responder a questões, tampouco de trazer explicações. A arte deve, sim, inquietar, levar o espectador a refletir.
De algum modo, Heleno me inquietou. Não por ter alertado sobre a gravidade das questões ligadas às DSTs, mas por ter silenciado a esse respeito.
Precisamos atuar em todos os cenários, para que menos pessoas sofram de flagelos que há milênios afligem os seres humanos, a despeito de todos os conhecimentos científicos e de todos os recursos disponíveis para combatê-los.
Por fim, vale ressaltar que, independentemente do meu forte, e, muitas vezes, chato, viés de especialista em DST, recomendo o filme. É obra imperdível e traduz com perfeição a alta qualidade do cinema brasileiro da atualidade.
Mauro Romero Leal Passos
Chefe do Setor de DST da Universidade Federal Fluminense
Editor-chefe do Jornal Brasileiro de DST

segunda-feira, 12 de março de 2012

Calvície e Hiperplasia Benigna da Próstata

Os jornais divulgaram recentemente um estudo realizado por espanhóis e ingleses em 87 homens, um número bastante pequeno para um estudo desse tipo, em que a conclusão aponta para a relação entre a calvície precoce, geralmente de caráter androgênico, com a possibilidade maior de desenvolvimento de hiperplasia benigna da próstata.

Calvície androgênica é aquela relacionada com um nível maior de testosterona.  Geralmente são jovens com uma distribuição abundante de pelos corporais que precocemente esboçam as entradas temporais na região do couro cabeludo, as duas famosas "entradas". Também é frequente o aparecimento da calvície na região central do topo do couro cabeludo ( a "calvície do frade", como chamada popularmente em alguns locais).
Esses rapazes tem, visivelmente, um aspecto físico em que as características masculinas, notadamente relacionadas com a pilificação são bastante viris.   "Sobra testosterona".

Esse tipo de calvície responde bastante bem ao uso da finasterida em dosagem menor da que é utilizada para a hiperplasia benigna. O efeito é o mesmo, em locais diferentes.  A finasterida bloqueia a entrada da testosterona no folículo capilar impedindo as reações negativas sobre o mesmo.

Já a hiperplasia ou hipertrofia benigna da próstata é um crescimento das células da glândula prostática,  que ocorre indistintamente nos homens a partir dos 40 anos, isso como média de idade. Se há bastante testosterona circulando esse processo é acelerado e maior.  Há indícios, inclusive, de que possa se desenvolver mais precocemente no homem jovem.

Isso já é conhecido de há muito na prática de cada urologista. O trabalho veio documentar o fato.

Um motivo a mais para termos cuidado com o uso de "suplementação"  de testosterona e seus derivados, objeto do nosso post anterior.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Lesões Genitais Masculinas - Perspectiva urológica - Novo livro

Male Genital Lesions 


Com previsão de lançamento até setembro de 2012, está pronto nosso segundo livro sobre "Lesões Genitais Masculinas - A perspectiva urológica".  O livro, como o primeiro sobre HPV em Urologia, é editado e publicado pela Springer, de Berlin, Alemanha, em inglês, conta com mais de 700 figuras de alta qualidade. Vem escrito por dois urologistas (Homero Guidi e Alberto Rosenblatt) e um dermatologista (Dr. Walter Belda Jr.), todos da Universidade de São Paulo..

O livro vem preencher uma lacuna na dermatologia genital masculina, cuja literatura conta com apenas uma outra obra similar.  Além dos capítulos específicos dos autores principais, o livro conta com uma seção bastante compreensiva e com documentação fotográfica primorosa,  da Anatomia Patológica da região, escrita pela Prof. Dra. Filomena M. Carvalho,  do Departamento de Anatomia Patológica da Universidade de São Paulo, além de um capítulo sobre Cãncer de Pênis, escrito por  um dos maiores especialistas do assunto no mundo, o brasileiro Dr. Antonio Augusto Ornellas do Instituto Nacional do Câncer - INCA, do Rio de Janeiro.

Confira, diretamente no site da Springer alemã, o conteúdo geral e demais informações:

http://www.springer.com/medicine/urology/book/978-3-642-29016-9

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Anti-aging, testosterona, vitaminas e o Harry Potter

Já há algum tempo, um amigo e cliente me assedia com perguntas sobre a minha opinião sobre alguns pontos relativos ao “não envelhecer”, à reposição hormonal e aparentes contradições do uso, digamos assim, à larga mano, da testosterona e seus derivados com finalidades de anti-aging, um  termo pomposo e modernoso, que, na minha opinião, fica muito perto da picaretagem, de uma Medicina  limítrofe, quase uma  para-medicina, para não ser mais deselegante. Respeito apenas a intenção de estudo, não o comércio que se faz, sem nenhuma evidência científica.
E não fujo (a quem quer que queira) a conversar profundamente sobre isso.  Comercial e tecnicamente, uma duplicidade, que por si só já não deveria existir, mas existe e posso confrontar.

Porque hoje, terça-feira de Carnaval de 2012, resolvi saciar a curiosidade do meu amigo?

A deixa veio pelo jornal. Um artigo relativamente longo e não-telegráfico, com direito a pequena chamada na primeira página do jornal de caráter nacional,   dá conta de resultados totalmente negativos em relação ao uso do Ômega-3 como um protetor contra o câncer.  Na mesma esteira outra informação de um  estudo, com mais de 7000 pessoas por uns bons cinco anos,  dando conta de que vitamina B diária também não protege contra acidentes cardiovasculares.

Oh!!!

A bem da verdade, esses estudos científicos, mesmo quando muito bem desenhados/projetados, são estudos epidemiológicos observacionais.  Observa-se uma população selecionada durante um período de tempo e se registra o que aconteceu. Ou,  mais especificamente, testa-se metade da população estudada que, por exemplo,  usa o Ômega-3 diariamente ou a vitamina B e outra metade que não o faz (idealmente, ninguém sabendo quem está usando ou não, idem os pesquisadores mais próximos das pessoas estudadas) e verifica-se ao final de algum tempo o quanto houve de câncer e morte por câncer ou eventos cardiovasculares, ou qualquer outra coisa em teste,  num grupo e no outro.

Belíssimo? 

Um sonoro NÃO. 

Em termos de pesquisa, esse tipo de estudo é mais ou menos comparável à situação insólita de se colocarem pessoas dentro de uma mansão escura, com  um telhado velho, sob forte aguaceiro e com muitas goteiras.  Não se sabe se aqueles que ficarem quietinhos,  de olhos bem  fechados e rezando em uma posição a direita ou a esquerda da casa vai manter-se  seco ou não ao final da tormenta.  Pode ser que uma  goteira enorme, desconhecida,  ao seu lado espirre tanta ou mais água e molhe você, participante do estudo, a partir do chão ou mesmo de cima,  escorrendo por um lustre ou uma viga da mansarda castigada pelo vendaval, enganando-nos totalmente.

Não se controlam outras variáveis. É muito difícil testar hipóteses isoladas. Não há controle com certeza. Os dados não se reproduzem na maioria das vezes. Pode ser que a presença ou ausência da vitamina  X ou Y não tenha sido tão importante quanto o zinco, o magnésio  ou seja lá o que for. Pode ser que muitos já tinham o câncer, indetectável, quando entraram para o estudo, num ou noutro grupo...

Poucos são os estudos que tem um direcionamento de evidência inicial já forte e robusto,  cuja observação, de uma população ao longo do tempo, possa confirmar o que, de antemão,  já se infere ou já se sabe uma verdade em sua parte, por outras pesquisas, por outras observações acumuladas. Exemplo disso é a doença coronariana.  O que entope a artéria é uma placa de gordura. As placas de gordura aparecem mais em quem tem níveis altos de lípides, esse e não aquele, mais esse e menos aquele. Então se observa uma cidade inteira por 10, 20 anos, (Framingham,UK,  no caso), controlando-se os níveis sanguíneos de colesterol, a pressão alta, diabetes, etc. e os achados se reproduzem,  você baixa o colesterol  de quem está em risco e também tem a expectativa confirmada de menos infartos e menos derrames cerebrais.
Agora, do nada,  tirar que comer brócolis que contém  X elemento em abundância pode deter o câncer assim ou assado...

Francamente, os pesquisadores que se dedicam a esse tipo de pesquisa,  “agulha no palheiro”, não estão entre aqueles de primeira linha, com maior nível de financiamento e/ou resultados práticos ou resultados essenciais que permitam que as pesquisas se desenrolem e se desdobrem efetivamente até o balcão da farmácia, o leito do hospital, o centro cirúrgico ou o receituário do seu médico, beneficiando você e a sociedade. .

Muito simples.  Descrever a AIDS foi trabalhoso, mas encontrar o vírus, os seus tipos, sua sequência foram passos essenciais para se começar a saber o que receitar para esses pacientes; senão para curá-los; para pelo menos fazer com que vivessem mais e mais,  antes de ficarem doentes e sucumbirem. Imagine se os melhores pesquisadores  do planeta, uma vez descrita a AIDS, tivessem partido para estudos populacionais para ver se um quilo de alho ingerido com vinagre e mais uns dez quilos de couve-flor não diminuiriam a atividade da doença ou mesmo a erradicariam...

Risível, não é?  Mas a sociedade é risível da mesma maneira quando fica esperando coisas tão maravilhosas e cartesianas para prevenir ou curar isso ou aquilo.  Para não envelhecer, para não ter esse ou aquele câncer.  É uma expectativa ridícula. Melhor assistir menos aos filmes do Harry Potter, abrir a janela e pensar um pouquinho.  Ou pensar muito e se informar mais.

Pesquisa científica médica  é uma rosa bem espinhenta, várias,  no meio de um salão eternamente escuro, com direito ao convívio com cactos mais espinhentos ainda, muitas falsas rosas e alguns animais peçonhentos, sequer imaginados por lady J.K. Rowllng na sua imaginosa saga dos bruxinhos, em seus sete famosos livros.

Muitos potenciais medicamentos descobertos levam décadas para que suas moléculas (o seu "corpo" sejam  vistas e enxergadas, se é que o são, na sua dimensão visual real.  Infere-se, muitas vezes, de uma substância, a  sua presença ou atividade,  por outras reações ou equações químicas. Vírus são detectados por mecanismos engenhosos de sondas que se atiram num verdadeiro “poço” microscópico e, se combinados, ativam um mecanismo radioluscente ou que consuma um outro reagente enzimático e assim por diante.  Remédios levam anos entre suas fases  de teste e, as vezes, só quando  já estão no mercado, usados por milhares e milhares de pacientes, é que sofrem o seu teste final. Uma dúzia ou duas de reações imprevistas em pacientes comuns, ao redor do mundo, que  não foram vistas nos 10 ou 20 mil voluntários (sadios ou pacientes extremamente doentes, sem alternativas) podem aparecer e determinar o caminho do lixo para o medicamento, sua retirada das prateleiras, sua  proscrição total (idem o investimento...).

De outro lado alguns medicamentos e/ou substâncias, na esteira dos “Harry Potter’s” da sociedade,  tornaram-se verdadeiras “Virgens de Vestal”. Puros e inatacáveis.  Inócuos e “naturais” (palavra chave e do momento).

Lêdo engano! 

Chá verde em excesso é  hepatotóxico. Chá de folha de maracujá pode matar,  pois contém cianeto. Ginkgo-biloba  interfere fortemente com a coagulação sanguínea, o que pode ser crucial numa cirurgia.  No polén de abelha pode se desenvolver com facilidade um fungo extremamente agressivo, além dos casos de forte alergia ao produto puro (até anafilaxia, notadamente em crianças). Vitamina A em excesso causa doença. Várias são as hiper-vitaminoses com consequências maléficas. 

De outro lado estão os comportamentos extremos, banir totalmente as gorduras da alimentação pode privar o seu organismo de várias vitaminas que são lipossolúveis e, desse modo,  só absorvíveis com uma mísera gordurinha na dieta...  Comer só “carne branca”, entenda-se aqui peixe e frango, pode também levar a algumas enrascadas. Ilusão idiota. Recentemente foram publicados alguns dados dando conta do aumento inusitado, nas últimas décadas, dos tumores germinativos (leia-se tumores de testículo e ovário) em gente jovem.  Pois bem, uma das hipóteses, de forte “indicação ao Oscar científico”, é de que algo anda "descendo goela abaixo" com hormônios a mais do que deveria...  Um pinto  vira um super frango, enorme, em 45 dias.  Paramos o assunto por aqui para não cansar a inteligência dos leitores.

Bom, e com a testosterona? 

Não é diferente. “O elixir da juventude” já foi obtido e utilizado  na Idade Média, à parte o teatro e rituais ridículos, com o consumo de testículos, mal-passados ou in natura,  de bodes e outros animais à mão. 

Deve receber quem precisa, não é “preventivo” de nada, pelo contrário, ninguém sabe o quão maléfica pode ser para determinado paciente pessoalmente. É o que se verificam com os anabolizantes, em última análise derivados da testosterona, sua principal mãe na "árvore química" dos esteróides. 
Aumenta a massa muscular?  Sim,  aumenta, mas pode golpear o fígado, pode atrofiar os testículos e a cessar a produção de espermatozoides e da própria testosterona natural do indivíduo, mexer com a mama masculina, afetar o sistema cardiovascular,  fomentar um câncer de próstata quiescente, acelerando o seu desenvolvimento e assim por diante.

Quem precisa de testosterona deve ser identificado pela dosagem baixa e pelos sintomas. Muita gente ao ganhar idade tem uma baixa nos seus níveis do hormônio, visto nos exames de laboratório, mas continua copulando a hora que quer, comanda empresas, diverte-se e vive normalmente, sem nenhum sintoma de deprivação ou insuficiência.

Quando juntamos níveis baixos, sintomas da sua falta e não identificamos contra-indicações  (próstata de risco,  deficiência hepática e renal, etc.) podemos repor a dita cuja, controlando efeitos benéficos e eventuais maléficios.

O mesmo se passa com as vitaminas. Identificada a sua deficiência, ou um estado em que sabidamente essa ou aquela vitamina, é ou será  necessária, seu uso deve ser encorajado e monitorado, do contrário, estamos voltando à Idade Média, quando acreditávamos na geração espontânea  fazendo nascer ratos num canto escuro do porão, com um pedaço de queijo e outro de pão velho, mais um bocadinho de umidade... 

Elixires maravilhosos, sangue de virgens e outras expectativas  muito próximas das indulgências que também se compravam nas igrejas...

Open your eyes and wake up!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Sífilis congênita - um problema sério e protelado

Reproduzo abaixo o boletim do Prof. Mauro Romero Leal Passos, um ícone e estudioso, respeitado no Brasil e no mundo, no campo das Doenças Sexualmente Transmissíveis, nosso particular amigo e Professor da Universidade Federal Fluminense. Assino embaixo do que ele disse.

"Prioridade para a sífilis congênita?


Em 1992, o Ministério da Saúde do Brasil assumiu compromisso, junto à Organização Mundial de Saúde, de eliminar a sífilis congênita, em terras brasileiras, até o ano 2.000.

Deu em nada.


Ao longo desses 20 anos (vinte anos), por várias vezes profissionais do Ministério da Saúde discursaram apontando a sífilis congênita como um sério problema de saúde pública no Brasil, mas nada de eficiente foi feito.


Em 8 de fevereiro de 2011, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, definiu três prioridades nas políticas de DST, aids e hepatites virais: o ministério faria o que fosse necessário para dar mais segurança e sustentabilidade aos tratamentos, além de reformular ações de diagnóstico precoce desses agravos, especialmente da sífilis. Disse mais: “Não faz sentido o Brasil, que conseguiu tanto sucesso no controle da transmissão vertical do HIV, não conseguir controlar a sífilis congênita”.


Por fim, o ministro referendou o compromisso assinado pela presidenta da República, Dilma Rousseff, com os movimentos sociais. “Será o programa de governo para o Departamento de DST, aids e hepatites virais. A Cnaids e a sociedade civil são muito importantes no monitoramento da execução desses compromissos”, asseverou.




Um ano depois, não conseguimos identificar ações efetivas e contundentes no combate à sífilis congênita.


Por que ministros de Estado, no Brasil, não cumprem o que falam?


Apesar de o ministro ser médico, vale lembrar que sífilis congênita é a continuação, em primeira instância, da sífilis adquirida por homens. Vale ainda assinalar que não há qualquer comprovação, em estudos publicados em periódicos científicos, de que a distribuição de preservativos em sambódromos atue efetivamente na diminuição das DSTs.



Mauro Romero Leal Passos

Professor associado chefe do Setor de DST da

Universidade Federal Fluminense"

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Fim das sacolinhas - opinião do cidadão*.


Às vezes eu me pego pensando em quão ardilosa é um parte da sociedade brasileira, uma pequena parte, e quão boba é o resto (enorme) dela.

Festeja-se junto com o aniversário de São Paulo, amanhã, o fim das sacolinhas plásticas dos supermercados.
Ecologia que atende o interesse econômico.

Os varejistas vão agir como os atacadistas que não fornecem embalagens e cobram mais barato, mas vão continuar cobrando o preço cheio do varejo, agregando ainda a venda das coloridas sacolas ecológicas.

Nos Estados Unidos não usam sacolas plásticas (ou usam biodegradáveis), mas se você faz compras em certo volume ainda existem os bons sacos de papel, grandes,  reciclados e recicláveis.  Aqui não.

Consumidor vire-se! Compre as nossas sacolas ecológicas! Numa compra de mês, imagine quantas...

Por que não então não voltarmos ao tempo do óleo em tambor, daquele que a gente levava o litro para encher, o mesmo que fazíamos com o tamborzinho de leite? 

E os pets que atulham os rios? Nesses ninguém vai mexer, porque comprar refrigerante a granel é inaceitável e aqui a ecologia não funciona, ou não interessa, pois quem teria que por a mão no bolso não seria o consumidor!!!

Wake up my fellow citizens!

* Janeiro é més de férias e reflexão. Na proposta desse blog, não só a Medicina e a Urologia estão em pauta, antes de médico, ou qualquer outra profissão, todos somos cidadãos comuns. Compartilharei algumas reflexões como tal com os leitores.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

ALERGIA AO LÁTEX - PERIGO

Se você é alérgico ao látex, cuidado, redobre seus cuidados pessoais para não precisar de um hospital ou uma cirurgia.

O motivo é muito simples: o Brasil não tem nenhum fabricante de luvas  "latex free" (geralmente as cirúrgicas são feitas de neoprene e as de procedimentos - mais simples - são feitas de nitrilo).

Esse material, vital para o manuseio de pacientes alérgicos ao látex (e mesmo para uso dos cirurgiões que também são alérgicos) era totalmente importado de fabricantes externos que supriam a demanda.

A importação está proibida ou "empacada".

O motivo:  a burocracia do Ministério do Trabalho e Anvisa.

O primeiro, desde 2009, baixou portaria segundo a qual as luvas cirúrgicas e de procedimento deveriam ter gravados em seus punhos, além da data de validade e lote , o seu  CA  estampado.  C A  é o número do Certificado de Autorização de Equipamento de Proteção Individual (EPI). Mais um número brasileiro.

Ocorre que o mercado brasileiro, para esse ítem, não têm tanto "charme" e volume para motivar os fabricantes internacionais  a mudarem a sua produção para atender  a Republiqueta Burocrática ao sul do Equador.  O que por sua vez não acaba com a necessidade desse produto pelos brasileiros  alérgicos ao látex...

Nessas horas, como médico,   dá vergonha,  não se ser brasileiro, mas de não sabermos votar e nem fiscalizar os estafetas de plantão nos milhares de órgãos que infernizam a vida de todos os cidadãos. Sem contar a ineficácia de nossos políticos eleitos (alguns já notificados em 2009 do problema).

Os fabricantes internacionais não deram nem bola para essa exigência.

Isso posto, diante de uma gritaria de familiares de crianças deficientes, que geralmente desenvolvem esse tipo de alergia em função das repetidas cirurgias a que tem que se submeter, a Anvisa suspendeu durante um tempo a exigência. Hoje, contudo, esse que lhes escreve, ao operar as 7 h da manhã num grande hospital de S. Paulo e, por ser alégico ao látex, solicitou uma luva de neoprene.  Foi quando foi informado que os estoques estão baixíssimos, senão inexistentes em vários e vários hospitais. 

Ao término da cirurgia, inconformado, consultou o Departamento de Compras de outro grande hospital paulistano, também de primeira linha  e a confirmação foi imediata:  apenas algumas luvas trancadas a sete chaves, sem perspectiva de fornecimento. Outro grande foi além,  informou que um distribuidor está com uma carga do precioso item retido na Alfândega pela "zelosa exigência" do MT/Anvisa.

Diga-me o leitor se não é para sentar na sargeta da rua e chorar?

Dica - se você suspeita que tem alergia ao látex há um exame específico  ( IG E específico contra o látex) feito com uma amostra de sangue, que além de acusar ou não a positividade quantifica a resposta.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Hepatite B - Maior cobertura da vacinação.

Começando 2012, com uma boa notícia:

Saúde amplia faixa etária para vacinação de Hepatite B

A partir deste ano, pessoas com até 29 anos poderão se vacinar contra essa doença que em 70% dos casos não apresentam os sintomas, mas pode se tornar crônica.
O Ministério da Saúde amplia a partir desse ano a faixa etária para vacinação contra a hepatite B. No ano passado, a idade limite para vacinação passou de 19 para 24 anos. Em 2012, o público-alvo será ampliado para pessoas de até 29 anos. A medida vale a partir deste mês. Para isso, em 2011, o Ministério da Saúde ampliou em 163% o quantitativo de vacinas compradas para a hepatite B – 83,2 milhões.


Vacine-se, aproveite o que você paga em impostos! Se tem dúvida sobre o seu estado de imunização consulte seu médico. Adultos também têm um programa de vacinação dinâmico. Não é coisa só de criança e é um assunto sério.