sábado, 12 de janeiro de 2013

Sangue no esperma - Hemospermia


Nada assusta mais um homem, ou mesmo o casal, do que a constatação de sangue no esperma ejaculado.

Tecnicamente a presença de sangue no esperma recebe o nome de Hemospermia (com a variante de hematospermia também válida).

O problema pode atingir desde jovens até homens mais maduros.

Pode ser isolado ou se repetir por meses e meses.

Não é um fato, no entanto, que não motive uma consulta imediata a um urologista.

O primeiro fato a considerar é que esse tipo de ocorrência costuma, na grande maioria das vezes, ser totalmente benigno e do mesmo jeito que vem, vai-se sozinho.

Dois comportamentos sexuais podem predispor  o acontecimento da hemospermia:  1 – relações intensas e muito demoradas (aquelas “especiais”)  e 2 – ejaculação após um período de abstinência, uma pausa entre as ejaculações, fora do normal, maior do que o habitual.  São fatos básicos  e muito fáceis de entender.

Nossa próstata, glândula que fica abaixo da bexiga e tem dois canais que desembocam na uretra, o mesmo canal do xixi que vem da bexiga, é uma glândula, cheia de ácinos, uma estrutura como uma grande esponja de banho.  As lacunas dessa “esponja” secretam o sêmen, que é um líquido que serve de “veículo” de transporte dos espermatozoides, produzidos continuamente nos testículos, maturados nos epidídimos e armazenados nas vesículas seminais, que ficam juntas à próstata e também produz parte do sêmen, do esperma final.

Essa “esponja” tem células que tem um ciclo de produção e descamação regular. Menor nas pessoas mais  moderadas na atividade sexual; maior nas que são mais ativas (com maior número de ejaculações, durante a semana por exemplo).  A glândula se adapta ao freguês, poderíamos trocar em miúdos....

Mas essa adaptação tem alguns limites importantes. Num jovem ela raramente será pacífica em termos de moderação.  Na flor da juventude, todo o potencial hormonal  aponta para uma atividade mais intensa – muitas ejaculações sejam elas de qualquer tipo, em relações sexuais ou na masturbação.  Nos homens mais velhos uma transição de uma vida sexual mais intensa para uma mais modesta abrupta também não é pacífica.

Em todas as idades as relações intensas levando a hemospermia eventual também é muito fácil de entender. Todo o trato genital, desde os testículos, epidídimos, vesículas seminais, próstata e uretra (toda a pélvis, diga-se) passa pelo mesmo processo visto no pênis quando da ereção. Um grande aumento do afluxo sanguíneo e grande turgescência de todos os órgãos. Prolongar demais o ciclo  desejo-excitação-ereção-atividade sexual-orgasmo/ejaculação, pode facilmente sobrecarregar  essas estruturas com um afluxo sanguíneo extraordinário. 

É como uma tubulação que sai de uma caldeira, submetida a uma pressão acima do suportável. Em algum lugar pode se romper e vazar...

Esse mecanismo é muito parecido com a excitação exagerada, sem consumação da ejaculação, nos famosos “amassos” e namoros pelos carros e festas da nossa vida. Excitação prolongada  e sem ejaculação pode resultar, normalmente, em dores nos testículos. Não é doença. É mau uso! 

Não há evidências concretas, mas observações clínicas apontam que esse tipo de comportamento, quando frequente, pode “cronificar” determinadas dores na região dos  testículos  e, notadamente, epidídimos.  A receita é bem simples: moderar excitações que não passarão disso (infelizmente) ou aliviar-se tão logo, quanto possível,  depois de tanto se deleitar  sem finalizar.

Voltando a hemospermia.

Apesar desse caráter benigno da grande maioria dos casos de hemospermia, o evento não deve, contudo, ser banalizado pelo paciente, nem pelo médico, em geral  já o urologista.

Estatística é algo capcioso.  As probabilidades gerais vão para o espaço, quando pessoalmente caímos nos extremos da curva de Gauss, ou viramos o 0,05% da coisa. 

Até há alguns anos a grande maioria das hemospermias era classificada como idiopática, um conceito médico 
que significa sem causa definida, um evento casual.

Alguns pesquisadores, contudo, diligentemente, estudaram sistematicamente,  mais a fundo muitos  desses 
casos, tendo à mão alguns vários recursos diagnósticos que evoluíram muito nas duas últimas décadas.  Aqui falamos de exames de imagem, exames funcionais e laboratoriais.

Um episódio de hemospermia é uma boa chance do homem, geralmente arredio em relação à sua saúde pessoal,  de fazer uma boa avaliação urológica e geral.

Esses investigadores encontraram 6 grandes grupos de fatores causais para a hemospermia que podem estar por trás do processo: 

-     Infecções, às vezes assintomáticas e inaparentes;

2 -    Tumores (muito raros,  de próstata; mais raros de vesícula seminal e outros órgãos do trato genital);

3 -   Obstrução dos dutos (canais) que ligam todos esses órgãos, causando cistos (dilatações, como se fosse uma represa num rio “obstruído”) e mesmo uma próstata aumentada (a famosa hiperplasia benigna).  Nesse caso, tanto os cistos como a hiperplasia causam uma proliferação aumentada, na vizinhança, de vasos sanguíneos que podem se romper numa situação de esforço e congestão; 

4 -  Anormalidades vasculares desde o cordão espermático (que liga o testículo), vesículas seminais, próstata e bexiga.  Para o leigo, como se fossem varicosidades, veias dilatadas como as que são visíveis nas pernas, as famosas varizes, que não são exclusivas das pernas;

5 - Causas sistêmicas (mais raras).  São doenças sistêmicas, que afetam todo o corpo da pessoa como a hipertensão arterial, doenças hepáticas, hemofilia e leucemias;

6 -  Procedimentos médicos -  causas não intencionais – como as biópsias de próstata por via transretal (muito comum e variável , de 5 %  a 89% dos casos), radioterapia, ressecção da próstata, traumas perineais e testiculares, fraturas da pélvis e até mais raramente a própria vasectomia.

Para encerrar:  Hemospermia não é caso de se atirar pela janela,  nem entrar em depressão profunda. Na grande maioria das vezes,  o evento é totalmente benigno, mas exige uma boa avaliação médica.

Mantenha a calma e procure o seu urologista. 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Diagnóstico no pedido de exame - Decisão da Justiça


Justiça Federal veda a exigência da colocação do diagnóstico (CID*) em pedidos de exame.

Conforme notícia publicada na última edição do Jornal do Conselho Federal de Medicina (acima), o Tribunal Regional Federal da 2a. Região, por decisão da sua 5a. Turma Especializada, reiterou que as operadoras e planos de saúde  não podem exigir o preenchimento do diagnóstico/CID nos pedidos de exame, como condição para a realização de qualquer exame e mesmo para o pagamento/ ressarcimento de honorários médicos. 
Na mesma decisão o TRF também se manifestou contrariamente a uma prática corrente entre alguns planos de saúde segundo a qual somente médicos do convênio podem solicitar exames através dos mesmos. Ou seja, você escolhe e paga um urologista de sua confiança, que não é do seu convênio e depois precisa ir a outro "do plano" para  pedir e  "esmolar" que o mesmo transcreva/refaça os pedidos de exames do médico original. 
Vale a pena ler na íntegra a notícia acima. 
Na especialidade urológica, lidamos com diagnósticos delicados e muito íntimos da pessoa. Geralmente esses "formulários" passam na mão de pessoas de função meramente burocrática que, então, tem acesso a esses diagnósticos delicados. 
Imagine se, sem que você saiba, um vizinho seu seja um desses funcionários do seu plano de saúde...

* Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (antigo Código Internacional de Doenças) - Organização Panamericana de Saúde e Organização Mundial de Saúde - Décima Revisão 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Jeitinho brasileiro - deturpando princípios e obrigações constitucionais.

Um leitor, cliente e amigo, me escreveu discordando da minha posição sobre a "romaria" de ambulâncias, micro-ônibus e ônibus de outros estados e cidades longínquas, todos os dias ao redor do Hospital das Clínicas.

Acha que pelo porte do hospital essa é a vocação dele.

Não está errado; mas também não está certo.  Vários levantamentos internos mostram que muitos desses pacientes forasteiros não vêm tratar doenças raras ou extraordinárias. A maioria são casos medianos que poderiam  e deveriam muito bem ser provisionados em seus estados de origem, cidades e regiões.

Não se engane o leitor. As instituições de saúde terciárias, mais complexas, não apenas o HC,  fazem um trabalho insano e incansável para atender melhor o paciente mais grave, a doença mais séria, quem realmente precisa de atendimento super-especializado e não unhas encravadas, controle de diabetes leves, hipertensão arterial simples e assim por diante.

A política de comprar ambulâncias, e outros meios de transporte, na realidade é um jeito de burlar a obrigatoriedade de se investir X por cento do orçamento municipal em Saúde. A mazela é muito simples de enxergar e entender.

Vá construir um bom ambulatório ou um sistema de postos de saúde, integrados, um hospital municipal de nível secundário. Contratar médicos, enfermeiros, assistentes sociais, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde,  na própria cidade. Criar e administrar um sistema municipal genuíno (veja bem, não aquele condenado, que até ao vocábulo maculou...).

Ilusão! Poucas cidades, políticos e povo (sim, povo também),  com raça,  para fazer isso e manter.

Muita dor de cabeça, impossível simplesmente licitar, superfaturar e agradar o eleitor de inteligência curta, com algo de longo prazo, mas tão necessário!

Um exemplo fora da Saúde?

Muito simples, na Educação! Um exemplo bem simples.

Comprar calçados e mochilas para os escolares.  E continuar mantendo salários ridículos de professores, sem carreira, sem chances de melhorar sua qualificação. Escolas como verdadeiras taperas, ausência de recursos dentro da sala de aula e assim por diante.

Seria muito interessante, na minha visão (um desafio até!) que se fizesse um levantamento nacional para saber em que porcentagem de salas de aula do ensino fundamental e médio do País,  existe pelo menos um recurso a mais do que a lousa e o giz, hoje, em 2013. Depois de 13 anos do século XXI.
Vale até um retroprojetor, vá lá...

Melhor não fazer a pesquisa.

Calçados e mochilas, uniformes, tudo que é produto passa por concorrências e licitações.... Aquelas que todos conhecemos muito bem.

Não vou abusar da inteligência de quem me lê.

Numa mesma dimensão e filosofia isso é o mesmo que investir em saneamento básico.

Esgoto é obra enterrada que ninguém vê!  Não dá voto. Não agrada aquele eleitor que tem dois neurônios e um "mata-burros" entre os dois!

E estamos conversados!



sábado, 5 de janeiro de 2013

O que é A.C.A. ?

Affordable Care Action  

Enjoy it and make your personal judgments

Imiquimode - possíveis reações adversas

O imiquimode é um agente extremamente eficaz no tratamento do HPV masculino, como agente adjuvante.
Seu uso deve ser monitorizado de perto pelo seu urologista.
As reações adversas podem ser simples, mas, as vezes podem ser mais complicadas.

Veja artigo recentemente publicado no International Journal of STD & AIDS na sua edição do dia 23 de dezembro de 2012 de nossa autoria, com 3 casos de reação adversa, mas resolução final muito satisfatória.


http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23258837

abs

O que é o A.C.A. nos Estados Unidos

Se você acha o SUS uma porcaria ou acha que paga muito no seu convênio, convém se informar no que está acontecendo no resto do mundo.

Os países nórdicos possuem uma medicina totalmente estatizada e funcionante. E estão muito preocupados, mesmo com uma carga de impostos ao redor de 50% dos seus cidadãos, nunca questionado ou motivo de revolução social (imposto arrecadado, imposto transformado em benefício social...).

Os Estados Unidos tinham algo parecido.

O Brasil tinha algo que parecia funcionar para algumas classes até ANTES da revolução de 64, hoje "persona non grata", sem discussão.

O espírito do bem, contudo, foi sempre mantido, felizmente.

Em 1963 se esboçou o FUNRURAL, para assistir o trabalhador rural. Não vingou, adivinhe o leitor por quê - falta de contribuição de qual parte?  Empregador, empregado ou União?

A União, para variar.

Tínhamos, naquela época todos os Institutos de Assistência Médica (os IAPs) imagináveis,  por categorias ou outros critérios de agrupamento. Uns iam muito bem; outros beiravam a insolvência.

Em janeiro de 1967 foram estatizados todos os fundos de previdência no País. O problema eram as aposentadorias que não fechavam as contas dos IAPs (IAPS, IAPI, IAPC, IAPM, IAPB, IAPETEC, e mais um monte de siglas que cada pessoa mais velha na sua família conhece...)

A Saúde era um tema, não menos importante, mas secundário, no momento, Hospitais de Servidores Públicos, municipais, estaduais , federais, e tudo o mais, incluindo as Santas Casas e tudo o que se possa imaginar,  acabou numa vala comum.

Todos os fundos eram obrigados a manter o SAMDU - Serviço de Assistência Médica de Urgência. Imagine como isso funcionava. Algumas  ilhas de grande excelência, outras simplesmente inexistentes...

Para sua curiosidade , no Brasil, o Ministério da Saúde só foi criado em 1953, desmembrado do Ministério da Saúde e Educação, coisa muito parecida do que tinha sido legada por décadas por Oswaldo Cruz e outros pioneiros da Saúde Pública, o que não é menos importante, mas não é a mesma coisa (combate a endemias e sanitarismo, muitas vezes  praticado à força, diga-se).


Logo em seguida veio o  INPS e o INAMPS, Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social.  As coisas se confundiram. O INAMPS assumiu tudo o que era hospital público federal, estadual e municipal, com várias exceções e a Previdência Social.
Politicamente, uma legião de pessoas que nunca pagou aposentadoria passou a ter direito a mesma...

O sistema de previdência e saúde implodiram.

Principalmente o sistema de Saúde.

Foi então criado o SUDS, Sistema Único e Descentralizado de Saúde, gerido pelos estados da federação.  As verbas sempre foram erráticas e imprevisíveis. A corrupção correu solta. Até hoje confunde-se comprar uma ambulância ou transportar doentes, com investir num ambulatório, num pronto-socorro ou  construir/melhorar um hospital.

(Comentário pessoal  :  Eu que moro ao redor do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo fico enojado ao ver diariamente  as  vans, micro-ônibus e  até ônibus grandes,  estacionados mas redondezas, geralmente na parte baixa em direção à Pinheiros, com placas de cidades do nosso estado, de muito longe,  e de estados vizinhos, também de cidades bem longe do  Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e outros locais . É um absurdo. ).

Voltando à história...

Alguns estados da federação conseguiram grandes avanços mesmo que tenham sido apenas na aquisição irrefreada de ambulâncias e ônibus para transportar os doentes para os grandes hospitais...

Depois nasceu o SUS, consagrado na Constituição de 1989. Um sistema ideal, único no mundo, mas que exige, antes de tudo, honestidade dos políticos, nada mais.

Se houver honestidade e correção na aplicação dos recursos que devem ir para a Saúde, viramos exemplo para o mundo.


Mas pela história....
Um avanço e tanto. Em nenhum lugar no mundo, nada igual. Só que os nossos legisladores esqueceram-se de irrigá-lo.

Um Don Quixote, ainda vivo, que atende pelo nome de Prof. Adib Jatene, com voz de falsete, e que exala bem estar a uns 5 metros de distância da sua pessoa, conseguiu que se criasse a CPF (contribuição sobre as movimentações financeiras, o "famoso imposto do cheque", a princípio concebido para investimento na Saúde do país, o P era de PROVISÓRIO, vejam bem a idoneidade....).

Leda  ilusão (que, fora a ilusão, no mundo real, é o nome de filha amada e competente do Professor).

Esses recursos, para amargura do seu idealizador, foram usados para tudo, menos para o que se propunha.

O Brasil tem muito disso.

Herdou da corte portuguesa, que confundia o privado com o público, nosso maior defeito.

As rubricas originais nunca foram honradas.

Vide a nossa Presidenta, que para fechar o ano fiscal, no século XXI, usou de todas as manobras contábeis possíveis.

Se sair da Presidência com uma mão na frente e outra atrás, como se diz vulgarmente, não há de se preocupar, vai ser alguma  "Titular de Contabilidade" (a definir a cadeira, curso ou faculdade "amiga") na "mágica" de maquiar orçamentos....

Cuidado aos incautos e contribuintes bovinos, isso é apenas privilégio da alta administração; do contrário a Lei é impiedosa.

Mas voltando a Saúde, nos Estados Unidos da América do Norte, o   Health Care, o Home Care e todos os Cares existentes, que financiaram tudo, da melhor qualidade da Medicina, chegaram ao limite do seu  equilíbrio financeiro.

A Medicina ficou muito cara, inclusive pela sua judicialização (leia-se aqui , os processos legais,  muitas vezes, sem base alguma  e que apenas alimentam os advogados de ambas as partes e os respectivos seguros - litigância de má fé...).

Então o governo Obama, no primeiro mandato, não agora na reeleição,  propôs o A.C.A. - (http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMp1213674  - link apenas para começar, se você estiver disposto....).

Em resumo, parte da assistência médica, caríssima, tem que ser sustentada pelos usuários e não por todos
os cidadãos. Eles discutem. Nós devemos aprender, porque aqui não se sabe discutir, sem a intervenção irreal ou passageira das coisas...

Mais uma vez a citação do Prof. Dario Birolini, Titular da Cirurgia e  Medina do Trauma, Chefe do Pronto Socorro do Hospital das Clínicas de São Paulo,  no final,  "Morremos muito caros".....

É só para pensar e saber o que vai por aí, no mundo afora....

Pensar faz bem a todos, até a nós mesmos.