Nada assusta mais um homem, ou mesmo o casal, do que a
constatação de sangue no esperma ejaculado.
Tecnicamente a presença de sangue no esperma recebe o
nome de Hemospermia (com a variante de hematospermia também válida).
O problema pode atingir desde jovens até homens mais
maduros.
Pode ser isolado ou se repetir por meses e meses.
Não é um fato, no entanto, que não motive uma consulta
imediata a um urologista.
O primeiro fato a considerar é que esse tipo de
ocorrência costuma, na grande maioria das vezes, ser totalmente benigno e do
mesmo jeito que vem, vai-se sozinho.
Dois comportamentos sexuais podem predispor o acontecimento da hemospermia: 1 – relações intensas e muito demoradas
(aquelas “especiais”) e 2 – ejaculação
após um período de abstinência, uma pausa entre as ejaculações, fora do normal,
maior do que o habitual. São fatos
básicos e muito fáceis de entender.
Nossa próstata, glândula que fica abaixo da bexiga e tem
dois canais que desembocam na uretra, o mesmo canal do xixi que vem da bexiga,
é uma glândula, cheia de ácinos, uma estrutura como uma grande esponja de
banho. As lacunas dessa “esponja”
secretam o sêmen, que é um líquido que serve de “veículo” de transporte dos
espermatozoides, produzidos continuamente nos testículos, maturados nos
epidídimos e armazenados nas vesículas seminais, que ficam juntas à próstata e
também produz parte do sêmen, do esperma final.
Essa “esponja” tem células que tem um ciclo de produção e
descamação regular. Menor nas pessoas mais
moderadas na atividade sexual; maior nas que são mais ativas (com maior
número de ejaculações, durante a semana por exemplo). A glândula se adapta ao freguês, poderíamos
trocar em miúdos....
Mas essa adaptação tem alguns limites importantes. Num
jovem ela raramente será pacífica em termos de moderação. Na flor da juventude, todo o potencial
hormonal aponta para uma atividade mais
intensa – muitas ejaculações sejam elas de qualquer tipo, em relações sexuais
ou na masturbação. Nos homens mais
velhos uma transição de uma vida sexual mais intensa para uma mais modesta
abrupta também não é pacífica.
Em todas as idades as relações intensas levando a
hemospermia eventual também é muito fácil de entender. Todo o trato genital,
desde os testículos, epidídimos, vesículas seminais, próstata e uretra (toda a
pélvis, diga-se) passa pelo mesmo processo visto no pênis quando da ereção. Um
grande aumento do afluxo sanguíneo e grande turgescência de todos os órgãos.
Prolongar demais o ciclo desejo-excitação-ereção-atividade
sexual-orgasmo/ejaculação, pode facilmente sobrecarregar essas estruturas com um afluxo sanguíneo
extraordinário.
É como uma tubulação que sai de uma caldeira, submetida a uma
pressão acima do suportável. Em algum lugar pode se romper e vazar...
Esse mecanismo é muito parecido com a excitação exagerada,
sem consumação da ejaculação, nos famosos “amassos” e namoros pelos carros e
festas da nossa vida. Excitação prolongada e sem ejaculação pode resultar, normalmente,
em dores nos testículos. Não é doença. É mau uso!
Não há evidências concretas, mas observações clínicas
apontam que esse tipo de comportamento, quando frequente, pode “cronificar”
determinadas dores na região dos testículos e, notadamente, epidídimos. A receita é bem simples: moderar excitações
que não passarão disso (infelizmente) ou aliviar-se tão logo, quanto possível, depois de tanto se deleitar sem finalizar.
Voltando a hemospermia.
Apesar desse caráter benigno da grande maioria dos casos
de hemospermia, o evento não deve, contudo, ser banalizado pelo paciente, nem
pelo médico, em geral já o urologista.
Estatística é algo capcioso. As probabilidades gerais vão para o espaço,
quando pessoalmente caímos nos extremos da curva de Gauss, ou viramos o 0,05%
da coisa.
Até há alguns anos a grande maioria das hemospermias era
classificada como idiopática, um conceito médico
que significa sem causa
definida, um evento casual.
Alguns pesquisadores, contudo, diligentemente, estudaram
sistematicamente, mais a fundo muitos desses
casos, tendo à mão alguns vários
recursos diagnósticos que evoluíram muito nas duas últimas décadas. Aqui falamos de exames de imagem, exames
funcionais e laboratoriais.
Um episódio de hemospermia é uma boa chance do homem,
geralmente arredio em relação à sua saúde pessoal, de fazer uma boa avaliação urológica e geral.
Esses investigadores encontraram 6 grandes grupos de
fatores causais para a hemospermia que podem estar por trás do processo:
1 - Infecções,
às vezes assintomáticas e inaparentes;
2 - Tumores
(muito raros, de próstata; mais raros de
vesícula seminal e outros órgãos do trato genital);
3 - Obstrução
dos dutos (canais) que ligam todos esses órgãos, causando cistos (dilatações,
como se fosse uma represa num rio “obstruído”) e mesmo uma próstata aumentada
(a famosa hiperplasia benigna). Nesse
caso, tanto os cistos como a hiperplasia causam uma proliferação aumentada, na
vizinhança, de vasos sanguíneos que podem se romper numa situação de esforço e
congestão;
4 - Anormalidades
vasculares desde o cordão espermático (que liga o testículo), vesículas
seminais, próstata e bexiga. Para o
leigo, como se fossem varicosidades, veias dilatadas como as que são visíveis nas
pernas, as famosas varizes, que não são exclusivas das pernas;
5 - Causas
sistêmicas (mais raras). São doenças
sistêmicas, que afetam todo o corpo da pessoa como a hipertensão arterial,
doenças hepáticas, hemofilia e leucemias;
6 - Procedimentos
médicos - causas não intencionais – como
as biópsias de próstata por via transretal (muito comum e variável , de 5
% a 89% dos casos), radioterapia,
ressecção da próstata, traumas perineais e testiculares, fraturas da pélvis e
até mais raramente a própria vasectomia.
Para encerrar:
Hemospermia não é caso de se atirar pela janela, nem entrar em depressão profunda. Na grande
maioria das vezes, o evento é totalmente
benigno, mas exige uma boa avaliação médica.
Mantenha a calma e procure o seu urologista.