segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Vacina contra Herpes - tudo o que você precisa saber

Há oito tipos do Herpes (palavra correta é o Hespes, Hespes Vívus e não a Herpes).
Na classificação denominamos famílias Herpesviridae.

Os principais, mais comuns, são:

1 - O Herpes vírus genital/oral ou científicamente  Herpes Vírus Simplex  tipos 1 e 2.
2 - O Herpes Zóster, também conhecido como Vírus Varicela-Zóster (ou Zooster).

Os primeiros acometem a região oral, notadamente os lábios e regiões vizinhas, até a mucosa nasal, os genitais masculinos e femininos. Ambos são de transmissão direta por contato. Embora não seja comum o 1 e o 2 podem acometer cruzadamente os dois lugares.

Para o Herpes Simplex  1 e 2  ainda não existe vacina disponível.

Para o Herpes Zóster existe uma vacina atenuada que pode prevenir  os seus surtos ou amenizar os sintomas desses surtos em pessoas com mais de 50 anos.  Na realidade um episódio de Herpes Zóster é sempre uma reativação o vírus da Varicela (a famosa catapora, que nos acomete quando crianças).

As manifestações agudas do Herpes Zóster costuma ser muito dolorosas e aparecem em pessoas de mais idade quando existe um enfraquecimento imunológico da pessoa (causa podem ser bastante variadas).

São comuns o acometimento de faixas (dermátomos) de pele na região do tronco. Geralmente uma região que é bastante frequente (50%) é a região torácica, indo de acima abaixo (axila, região peitoral até o término das costelas). Aparecem multiplas pequelas bolhas acastanhadas/avermelhadas e dolorosas (vesículas). O conteúdo dessas vesículas e muito rico em vírus e são altamente contagiosos, para outros adultos ou crianças de baixa idade. Só quando elas secam e forma crostas é que o perigo de contágio diminui drásticamente. Outras regiões envolvidas podem ser: a região da nuca, descendo pela escáula , ombro e porções variáveis do braço. Essa distribuição aparentemente caprichosa, tem uma explicação simples, ele segue o trajeto de grandes nervos ou nervos importantes. O primeiro é do nervo torácico, o segundo é no plexo braquial.  Há ainda localizações mais sérias como o nervo facial que quando afetado pode dar paralisia fascial, erupções no conduto auditivo (orelha), pálato  (céu da boca) e língua e o nervo oftálmico que acomete a região ocular, com ptose da pálpebra acompanhando as vesículas, e grande chance de desenvolvimento de doença ocular crônica, recorrente e mesmo cegueira.

Para o Hespes Zóster existe uma vacina em dose única, recomendada para pessoas de mais de 50 anos. Ela é de aplicação intra-dérmica, com efeitos colaterais benignos e locais (ligeira dor no local, edema, hematomas, etc). A vacina é contra-indicada em pessoas com febre acima de 38,5 oC., estados conhecidos de imunossupressão (linfoma, quimioterapia, leucemia, AIDS, tratamento supressor, incluindo altas doses de corticóides em uso, etc.  Devem ainda evitar-se o seu uso em pessoas com reconhecida alergia à neomicina e gelatina.

A vacina contra o Zóster não tem, até onde foi estudada, nenhum efeito sobre os tipos 1 e 2  (oral/genital).

Os outros tipos de Herpes vírus conhecidos, para seu conhecimento e informação, são

Herpes vírus simplex 1
Herpes vírus simplex 2
Vírus da Varicela- Zóster
Vírus de Epstein- Barr
Vírus do Sarcoma de Kaposi
Citomegalovírus
Herpes vírus humano 6
Herpes vírus humano 7.

sábado, 25 de outubro de 2014

HPV - últimas novidades em outubro de 2014


Em evento muito recente, reunindo especialistas de 57 países do mundo, em Barcelona na Espanha, várias experiências globais foram compartilhadas. Dessa vez o Brasil não fez feio. 

Embora tímida, sua campanha de vacinação das meninas em idade pré-puberal foi admirada por toda a plateia, em termos do seu índice de cobertura (aproximadamente 90% dessa faixa da população recebeu a vacina pelo sistema público). Só a Austrália, que fez isso em 2007/2008 tem índices semelhantes, juntamente com os países nórdicos, onde cada habitante, foco da iniciativa de saúde pública recebeu carta com nome e sobrenome. Anos luz à frente do resto do mundo. 

O HPV é um vírus que pode causar o câncer de colo uterino, câncer anal e câncer de laringe/cabeça e pescoço, vulva e pênis.

Mas ainda falta estender o benefício aos meninos, que também padecem e transmitem o vírus.

SAIBA MAIS

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Vacinação contra o HPV no Brasil - 2a. etapa


Nessa semana o Brasil realizou a segunda etapa da vacinação contra o HPV  para as meninas entre 9 e 11 anos.

É fato para comemorar. Vacinação no Brasil sempre foi coisa séria, mesmo com todas as intempéries políticas, uma erva daninha na área da Saúde.

Se as pessoas clamam, exigem e demandam um estado laico (até rezam por isso!), na Saúde deveríamos ter uma blindagem técnica igual.

Saúde não é política. É coisa básica da qual político nenhum pode chegar perto a não ser para melhorar e não esperar dividendos. Não faz nada mais do que a obrigação e olhe lá.... Sempre poderia fazer um pouco mais!

Bom, mas voltando aos ovos que frigem... Nova leva de imunização. Ótimo.

Como Urologista estou totalmente descontente com esse programa. E os meninos? Será que ninguém no MS ou em qualquer outra sigla que se incumba de vacinação não aprendeu nada com a Austrália?

Será que essa gente não lê literatura médica?

Não me venham com argumentos financeiros que eu tenho um caminhão trucado, de umas trinta toneladas, de desvairos financeiros, até a fundo perdido e criminoso, para descarregar em cima da cabeça e ainda colocar uma lápide de RIP...

Não mexam comigo nisso.

Aos pais leigos que me leem, algumas coisas bem simples:

1 - A vacina não tem o vírus vivo;

2 - A vacina não estimula sexo precoce. De onde tiraram isso ??? Só se vocês, pais, não estiverem conversando com filhos e filhas de 9 a 11 anos... Se não estão, repensem imediatamente sua vida. Mais tarde isso não vai acontecer, de jeito nenhum!;

3- O único efeito colateral é uma dorzinha no braço. No "Dr. Google" tem um monte de asneira sem respaldo científico. Sem outros comentários. Compre um carro pelo Google, se você acredita tanto nele! Só não venha reclamar comigo. Isso não foi uma sugestão, mas uma provocação.
Atrás da minha afirmação estão quase mais de 200 milhões de dose aplicadas (não, você não leu errado, são 200.000.000 de doses).  Tem país que não se limita as moçoilas de 9 a 11 anos. Vai bem mais além, meninos e meninas, jovens até os 26 aos de graça ou com cobertura dos seguros de saúde;

4 - Câncer de colo de útero não é a única coisa que a vacina previne. Também previne câncer de laringe e de ânus.

E mais: seu filhão pode lhe chamar no canto e mostrar umas verrugas horríveis  no seu "equipamento" e talvez ele não tenha um Dr. Homero ou genérico por perto... Condiloma, crista de galo não é coisa de gente pobre.... Está aí, a atazanar todo mundo, em todas as classes sociais. Hoje ninguém mais faz sexo no escuro. Com a luz acesa, olhando uma verruga "naquele" lugar, não tem nada mais frustante do que um "não, não , não...."

Amar não é só ir ao shopping, comprar aquele tênis, aquele iphone, ou dizer belas palavras. 

Amar é enxergar longe, pensar, prevenir e fazer tudo o que a gente pode pelos pequenos e jovens que criamos. 

Porque com a gente mesmo, cá entre nós, sabemos que não fazemos a "lição de casa" certinha, não é?


Nossos pais, se soubesse e/ou estivessem aqui, iam dar um bom puxão de orelhas na gente, não é não?

terça-feira, 26 de agosto de 2014

HPV2014 - Congresso Mundial em Seattle, EUA Agosto de 2014

ECOS DO CONGRESSO

Lição de casa para os médicos envolvidos com o HPV -

"O que o ginecologista, urologista, proctologista, otorrino e cirurgião de cabeça e pescoço deveriam dizer aos pediatras?

Cuide bem dos seus pacientes para que eles não se tornem nossos pacientes"

É um fato simples que reflete o consenso dos especialistas do mundo inteiro de que meninas e meninos devem receber a vacina com o vírus do HPV.  Entre os 9 e 15 anos ocorre a melhor qualidade em imunização ( melhor resposta imunológica, em anticorpos, etc.). 

Isso vai evitar  uma quantidade enorme, praticamente eliminando a chance dessas crianças desenvolverem cânceres como o de colo uterino, anal, peniano, da oro-faringe, etc.

O Congresso, realizado em Seattle, estado de Washington, perto do Alaska, na costa oeste (Pacífico) realizou-se entre 20 e 25 de agosto e reuniu especialistas do mundo inteiro em ciências básicas, clínicas e saúde pública. 

www.hpv2014.org  


quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Gonorréia um fantasma em ascenção

Ainda não existem dados oficiais e recentes, mas a prática clínica e notadamente a troca de informações entre diversos colegas em especialidades afins tem levado a constatação e conclusão (com base na experiência praticamente unânime dos demais colegas) de que estamos vivendo uma epidemia de infecção pelo gonococo, o causador da gonorréia. 

No homem a manifestação principal é uma inflamação da uretra, chamada uretrite, com produção de pus abundante, amarelo-esverdeado, fortes sintomas de irritação, dor e ardor da uretra, edema do pênis e vermelhidão, consequente à inflamação. Os sintomas urinários (ardor para urinar e até febre) podem ser os primeiros e sugerir apenas uma infecção urinária. 

Na mulher além da inflamação vaginal pode haver um quadro mais grave chamado moléstia inflamatória pélvica que atinge além da vagina as trompas e ovários com dor importante no baixo ventre (o "pé" da barriga). 

A transmissão do gonococo é eminentemente sexual, nas diversas formas de contato (vaginal, anal e oral). Alguns pacientes, homens e mulheres, podem portar o gonococo na garganta e reto, sem necessariamente apresentarem sintomas, mas funcionarem como transmissores. 

O tratamento da gonorréia merece cuidado especial e acompanhamento. No mundo todo vem sendo notada uma resistência crescente aos antibióticos tradicionais utilizados para o tratamento da bactéria. Não é incomum que haja, ainda, a associação com outros agentes no mesmo quadro infeccioso (como  a associação entre gonococo e clamídia). 

A menor suspeita consulte um médico. Evite o balconista, mesmo porque, antibióticos só com receita médica. 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

HIV no Brasil - Outra goleada perdida.




Dados recentes da UNAIDS, órgão ligado a Organização Mundial de Saúde mostram que, ao contrário do que a maioria dos outros países, a transmissão do HIV no Brasil, nos últimos 8 - 9 anos, como "nunca antes nesse país", aumentou 11%.

O grupo mais afetado são homens jovens que fazem sexo com homens  (HSH ou MSM do inglês). 

Nossos órgãos públicos, como sempre, logo em seguida,  tentaram "tapar o sol com a peneira". 

Com todas as letras é mais uma incompetência governamental na área da Saúde. 

É nova "goleada" que o País toma, anonimamente. 

Veja o Relatório GAP na íntegra aqui e tire suas próprias conclusões. 

Nesse grupo há ainda consequências muito mais danosas, por "tabela".  Nesse grupo o HPV, papilomavírus, por exemplo,  é a principal causa de câncer anal, igualzinho ao câncer de colo nas mulheres. Isso sem contar a crescente incidência de sífilis, verificada até nos consultórios particulares. 

No entanto, no caso do HPV, existe prevenção primária, além do sexo seguro. Tem vacina! 
Mas o Brasil, também na contra-mão do resto do mundo,  iniciou um programa de vacinação tímido contra o HPV, que contempla apenas meninas em idade escolar bastante reduzida. 

Esqueceu-se dos meninos e dos jovens de ambos os sexos. 

A vacinação, tal como no resto do mundo, deveria imediatamente cobrir essa população, pelo SUS, não se esquecer do sexo masculino. 

No mundo uma dose de vacina sai por 5 dólares.  Não vou me alongar nos "rios de dinheiro" que nosso desgoverno gasta em outras coisas. É uma redundância nauseante. 

Em agosto vou participar do 29th International Papillomavirus Conference em Seattle nos Estados Unidos. Grandes novidades científicas devem ser anunciadas e grandes avanços em saúde pública pelo mundo. 

Do Brasil o que levamos?  Bem do Brasil, não há muito que se falar... Deveremos ficar quietinhos, como já vi pessoalmente acontecer. 

Tenha uma ideia do que será o congresso de HPV de Seattle

EM TEMPO  -  No desastre criminoso do voo da Malaysia Airlines sobre o leste da Ucrânia estavam quase 100 pessoas viajando para um congresso internacional de HIV/AIDS em Melbourne na Austrália, incluindo grandes pesquisadores

Veja abaixo a matéria da TIME


sexta-feira, 13 de junho de 2014

Male genital lesions - Springer



Tenho a satisfação de compartilhar uma alegria. Nosso livro, em conjunto com Dr. Alberto Rosenblatt e Dr.Walter Belda Jr., vem tendo enorme sucesso no exterior, tanto como e-book e na versão impressa. Abaixo uma revisão/comentário sobre o mesmo:



From the reviews:

“This comprehensive review of dermatological lesions of the male external genitalia is
unique in that it covers embryology, anatomy, nonmalignant and malignant lesions. …
Although targeted at urologists and dermatologists, this book also would help primary care
providers with patient care. Urologists and dermatologists, as well as residents in these fields,
would benefit having this as a guide. … index is excellent and the references are extensive
and current. This book should be part of the reference library of all urologists and many
dermatologists.” (Akhil K. Das, Doody’s Book Reviews, May, 2013)

sábado, 26 de abril de 2014

Infecção Urinária - dimensão do problema

As infecções urinárias, muitas vezes encaradas como um problema banal no sistema de saúde tem grande importância.
Em primeiro lugar pelo sofrimento em maior ou menor grau de quem as apresenta, notadamente as mulheres, vítimas mais frequentes da doença. 
Dados apontam que essa infecção, a mais comum na raça humana, responde por 15% de todas as prescrições de antibióticos nos Estados Unidos, que resultam num custo entre 1,6 a 2,5 milhões de dólares anuais, naquele país. Contados todos os custos a soma ultrapassa 1 bilhão de dólares.
Embora com um índice raro de complicações mais sérias, ainda assim, elas geram 100.000 hospitalizações anuais (em geral por pielonefrite, infecção que se estende até o rim). 

Nas mulheres, o ônus é maior, gerando perdas não contabilizadas em termos de dias perdidos em suas atividades e produtividade. Mesmo bem tratada a infecção nas mulheres podem reaparecer em 25% das pessoas num espaço de 6 meses (uma nova infecção) ou em até 44% no período de um ano inteiro após o primeiro episódio. 

Outro grande problema é a automedicação, geralmente errada, em termos de medicação, tempo de duração, etc.

Esses e outros problemas estão sendo discutidos em um encontro agora, manhã do dia 26 de abril de 2014, em Buenos Aires, Argentina no Uro-Vaxom Summit em sua segunda versão na América Latina (a primeira foi no Peru em 2012). Participam médicos de todo o continente, incluindo o México e palestrantes da Inglaterra, Alemanha, Suécia, Itália e Hungria entre outros. 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Próstata e problemas de ereção

Há algum tempo a relação entre problemas na próstata e problemas de ereção tinham uma relação meio nebulosa, não muito bem explicada. 

É lógico que de longa data se sabia que: 1- cirurgias de próstata poderiam afetar a capacidade de ereção; 2- tratamentos para câncer de próstata (sem cirurgia), baseados em medicamentos e radioterapia também podiam afetar a ereção; 3-  graves infecções de próstata (as prostatites) poderiam afetar a ereção (clinica e psicologicamente). 

Só não se sabia exatamente se um crescimento benigno, a hiperplasia benigna da próstata, que ocorrem em graus variáveis em todos os homens  depois dos 40 anos, e não tem nada a ver com câncer, poderia ou não afetar diretamente a ereção. 

Hoje isso está bem estabelecido.  A hiperplasia benigna, tem, entre alguns fatores que a causam, a diminuição da irrigação sanguínea de toda a região. O mesmo problema envolvido na ereção masculina. 

Fato é que vários e vários estudos recentes tem demonstrado que o uso de pequenas doses diárias de medicamentos facilitadores da ereção, que melhorar o aporte de sangue, também melhoram os sintomas da próstata crescida, Aqui falamos mais especificamente da Tadalafila de 5 mg diariamente. 

Um desses estudos recente envolveu mais de 600 homens asiáticos acompanhados por 12 semanas, em dois grupos, um recebendo a droga e outro apenas o placebo. O resultado foi extremamente favorável ao uso do medicamento. 

No exterior já se estuda o lançamento de drogas combinadas com atuação nos dois problemas ao mesmo tempo. 

Ref.Tadalafil 5 mg once-daily therapy for men with lower urinary tract symptoms suggestive of benign prostatic hyperplasia: Results from a randomized, double-blind, placebo-controlled trial carried out in Japan and Korea.  Takeda M, Yokoyama O, Lee SW, Murakami M, Morisaki Y, Viktrup L.  Int J Urol. 2014 Feb 27. 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Embolização da próstata - sensacionalismo

Um do grandes problemas por que passa o  país é a confiabilidade das notícias que recebemos e mesmo a falta de sincronia de alguns órgãos públicos.
É o caso da embolização da próstata, que teve matéria publicada em grande jornal com uma série de incorreções e com a ideia de ser um "ovo de Colombo".
Abaixo a nota oficial da Sociedade Brasileira de Urologia veiculada hoje dia 15 de janeiro de 2014. É contundente, mas é bem clara para quem acompanha e estuda a especialidade.



NOTA OFICIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE UROLOGIA

PARECER DA SBU SOBRE EMBOLIZAÇÃO PROSTÁTICA:

Em 28 de novembro de 2013, através do parecer 29/13 (1), o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou o procedimento denominado “Embolização Seletiva das Artérias da Próstata” como opção terapêutica em pacientes portadores de Hiperplasia Prostática Benigna (HPB).

Houve grande veiculação do assunto em órgãos da imprensa, não sendo apresentado nenhum posicionamento da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) nestas matérias publicadas.

Desta forma, cabe esclarecer alguns pontos importantes sobre o assunto:
I – LITERATURA MÉDICA E EMBASAMENTO CIENTÍFICO
  • Ao contrário do que foi vinculado na imprensa, a embolização seletiva das artérias da próstata (ESAP) não é uma técnica desenvolvida exclusivamente por médicos brasileiros. Ela já é realizada há muitos anos para tratamento de sangramento maciço tanto da próstata quanto da bexiga.
  • O primeiro relato de evidências de melhora dos sintomas urinários de esvaziamento após embolização arterial seletiva foi feito em 2000 em um paciente tratado por hematúria maciça, porém com seguimento de somente um ano (2).
  • Em 2010 foi publicado um estudo realizado por médicos brasileiros apresentando resultados do tratamento por embolização em apenas dois pacientes (3) Este estudo avaliou somente a redução do volume da próstata, não obtendo os dados sobre resultados clínicos, como escore de sintomas prostáticos (IPSS), qualidade de vida (QOL), fluxo urinário, disfunção sexual e volume residual. Posteriormente o mesmo grupo publicou experiência em 11 pacientes com retenção urinária com resultados preliminares satisfatórios.
  • A maior experiência publicada sobre a técnica foi publicada por um grupo português em 2013 (4). Este estudo avaliou retrospectivamente o resultado da técnica em 238 pacientes comsintomatologia moderada a importante após falha terapia medicamentosa, com seguimento médio de 10 meses. Foram avaliados escore de sintomas (IPSS), qualidade de vida, função sexual (IIEF), urofluxometria, volume prostático e PSA. Houve melhora de parâmetros clínicos, embora pouca melhora nos parâmetros da urofluxometria. Importante ressaltar que apenas 89, 47, 21, 12 e 8 pacientes apresentavam seguimento de 12, 18, 24, 30 e 36 meses, respectivamente.
  • Pesquisa clínica em fase I/II a respeito dos resultados e segurança da técnica está sendo conduzida nos EUA em parceria com o FDA (NCT01924988). Este estudo tem estimativa de término em 2019.
Desta forma, não há na literatura médica estudos prospectivos com alto nível de evidência de demonstrem com eficácia e a segurança da técnica. Todos os dados disponíveis proveem de experiência limitada a poucos centros no mundo, com seguimento muito curto em um número limitado de pacientes. Estes resultados ainda não foram comprovados por estudos randomizados comparativos com a técnica padrão (RTU), nem com grande número de casos que possa, nos fornecer base científica confiável para sua utilização em larga escala, sendo, portanto, realizados no momento exclusivamente de maneira experimental.
II – POSIÇÃO DE SOCIEDADES DE UROLOGIA OU ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS
  • Baseadas em estudos de longo seguimento, randomizados, de alto nível de evidência científica, a ESAP não é recomendada como tratamento em pacientes com HPB em nenhuma circunstância por Sociedades de Urologia, como a Sociedade Brasileira de Urologia, Associação Americana de Urologia e Associação Europeia de Urologia.
  • Recente recomendação da Associação Australiana e Neo-Zelandeza de Urologia recomenda que a ESAP deve ser realizada apenas de forma experimental (5).
  • Recente diretriz do “National Institute of Health Care Excellence”, órgão governamental do Reino Unido, determinou que a ESAP deve ser realizada somente de forma experimental, sempre por equipe multidisciplinar envolvendo urologista e radiologista (6).

III – PARECER DO CFM
  • A SBU não foi consultada em nenhum momento pelo CFM durante a avaliação do processo de aprovação desta nova técnica.
  • O parecer do CFM indica que a ESAP foi definida como de alto risco e complexidade, devendo ser avaliada por 5 anos para que seja plenamente autorizada.
  • O parecer não foi baseado em estudos com alto nível de evidência científica que demonstrem a eficácia e segurança da técnica.
  • Após entendimento da SBU, o CFM realizará em fevereiro de 2014 reunião com a Sociedade onde rediscutirá o tema. A SBU apresentará os estudos e materiais a respeito mostrando que é preciso ainda estudar o procedimento até que sua eficácia e segurança sejam definitivamente comprovadas.
Pelo exposto, a SBU indica que a ESAP não deve ser ainda considerada opção terapêutica em pacientes com HPB, como já transpareceu em reportagens veiculadas nos canais jornalísticos. Seu emprego deve ser restrito a pesquisa clínica até que sua eficácia e segurança sejam definitivamente comprovados.
REFERÊNCIAS
1. CFM. Embolização de artérias prostáticas. 2013;http://www.portalmedico.org.br/brareceres/CFM/2013/29_2013.pdf. Accessed 01/12/2014, 2014.
2. DeMeritt JS, Elmasri FF, Esposito MP, Rosenberg GS. Relief of benign prostatic hyperplasia-related bladder outlet obstruction after transarterial polyvinyl alcohol prostate embolization. Journal of vascular and interventional radiology : JVIR. Jun 2000;11(6):767-770.
3. Carnevale FC, Antunes AA, da Motta Leal Filho JM, et al. Prostatic artery embolization as a primary treatment for benign prostatic hyperplasia: preliminary results in two patients. Cardiovascular and interventional radiology. Apr 2010;33(2):355-361.
4. Pisco JM, Rio Tinto H, Campos Pinheiro L, et al. Embolisation of prostatic arteries as treatment of moderate to severe lower urinary symptoms (LUTS) secondary to benign hyperplasia: results of short- and mid-term follow-up. European radiology. Sep 2013;23(9):2561-2572.
5. USANZ. Position Statement on Prostatic Arterial Embolization for the Treatment of Lower Urinary Tract Symptoms due to Benign Prostatic Hyperplasia 2013;http://www.usanz.org.au/uploads/29168/ufiles/LUTS_SAG_Position_Statement_on_PAE_Final.pdf. Accessed 01/12/2014, 2014.
6. NICE. Prostate artery embolisation for benign prostatic hyperplasia. 2013; guidance.nice.org.uk/ipg453. Accessed 01/12/2014, 2014.



Sociedade Brasileira de Urologia