HPV - Saiba mais e previna-se.

HPV - pontos importantes
•O HPV é um vírus de transmissão sexual. O uso do preservativo deve ser recomendado como método eficaz de prevenção para o HPV e outras doenças sexualmente transmitidas (DST).
 
Comentário - a transmissão sem relação sexual propriamente dita é possível. As mãos podem funcionar como veículo de transmissão mesmo que não se consume a penetração. O vírus já foi encontrado em roupas, sabonete e outros objetos de contato com os genitais/lesões. Essas vias, contudo, têm um poder infectante desprezível. O vírus precisa de atrito das mucosas, que por sua vez causa váris fendas microscópicas (micro-traumas) na superfície da mucosa. Ele precisa atingir a camada basal da mucosa. Nessa camada ele consegue entrar na célula e permanece inerte até que essas células vão maturando e migrando para a superfície da mucosa. Nessa fase, durante esse caminho, o vírus se integra ao núcleo da célula. É figurativamente como um terrorista, que entrasse clandestinamente num navio, ainda no porto, ficasse escondido e só dominasse a tripulação e o comando do navio quando esse estivesse afastado da costa (o que figurativamente explica as defesas mais lentas do organismo contra uma lesão tão superficial e longe do sistema imune).

•A infecção por HPV é muito comum na população em geral, cerca de 60 a 80% das mulheres irão contrair o HPV durante a vida, entretanto a maioria não perceberá nenhum sintoma clínico e a maioria vai eliminar o vírus naturalmente.
•A infecção pelos papilomavírus é transitória na grande maioria das pessoas, regredindo espontaneamente quando o sistema imune está normal num período entre 8 a 15 meses

Comentário - 60% da população geral tem comprovação laboratorial de ter tido contato com o vírus e o eliminou, sem lesões e sem seqüelas. 25% nunca teve contato com o vírus. Os 15% restantes se dividem em 1% com verrugas, 5% com lesões planas, muitas vezes só detectadas com peniscopia e colposcopia e 10% podem portar o vírus sem lesão (exames com material escovado dos genitais (pênis, vagina, colo do útero, ânus, etc., apontam a presença de DNA do vírus). Quando nos contaminamos todas as evoluções acima podem ocorrer. Quando existe a evolução para o aparecimento de lesões pode haver um período de incubação variável entre 1 semana e 1 ano em média.
Quando estamos na situação de presença do vírus sem lesão podemos evoluir para lesões (verrugas ou lesões planas) ou para a eliminação do vírus – entrando na estatística dos 60% da população.
•A infecção por HPV por si só não é considerada uma doença e não existe tratamento contra o vírus somente para as lesões provocadas por ele

Comentário - Apesar disso podemos intervir nos sentido de melhorar a resposta imune do organismo. A prática clínica mostra que no nosso cotidiano as pessoas nem se dão conta do quanto trabalham contra si mesmas: dormindo mal, comendo mal, estressando-se em excesso mais do que o necessário, “neurotizando” a situação relacionada ao HPV (o que também trabalha contra a pessoa), não se exercitando, etc.
Tratamos as lesões diminuindo o tempo de eliminação das mesmas, mas a cura, o clareamento do vírus é feito pelo organismo, que pode ser ajudado, inclusive com as novas vacinas.
•Uma pequena proporção das mulheres infectadas apresenta infecção persistente, o que aumenta o risco de desenvolver o câncer cervical
Comentário - mesmo essa pequena porcentagem que apresenta os tipos de HPV mais agressivos podem não apresentar vírus com real atividade que iniba a p53 e RB, proteínas que nos defendem da transformação celular que leva ao desenvolvimento de câncer. Existe exame que determina essa atividade, medindo o risco do HPV de risco! No homem esse exame de atividade do HPV de alto risco tem pouca utilidade porque a chance de transformação maligna no pênis é muito pequena. Os cânceres de pênis são muito raros em termos estatísticos. Há necessidade de uma conjunção de fatores muito além do HPV em si. A higiene é um dos fatores primordiais no caso do câncer de pênis.

•Mesmo pacientes com um único parceiro sexual fixo devem realizar os exames preventivos, pois o vírus pode permanecer latente por muitos anos, até décadas
Comentário - a latência é comprovada e é um fato científico. A priori deve ser interpretada como um bom sinal da imunidade da pessoa, pois durante anos e anos o vírus está ali e não progride para uma situação em que lesões tornem-se presentes. A latência, além disso, não é uma regra, mas uma exceção do ponto de vista estatístico e médico. Muitas pessoas que se julgam com a presença de um HPV latente, na realidade têm novas contaminações durante a sua vida.

•Ter HPV não é sinal de infidelidade
Comentário - Quem leu os fatos acima já chegou a essa conclusão em função das inúmeras variáveis de tempo e biologia do vírus.

•A maioria das mulheres que tem HPV não terá necessariamente alterações celulares ou câncer, mas todas devem seguir as orientações médicas para prevenção da doença.
•A infecção por HPV é muito comum, mas o câncer cervical é raro
Comentário - E, quando indicado, também seguir as medidas de tratamento. O HPV deve ser encarado como uma DST em ambos os sexos em primeiro lugar. A conseqüência na esfera do câncer ginecológico é relativamente rara e praticamente inexistente em quem se previne e se trata. No homem vale a mesma coisa – HPV é DST. A transformação celular com possibilidade de câncer de pênis é mais remota ainda, embora não impossível.

•Existe vacina para o HPV. Deve ser utilizada por mulheres entre 9 a 26 anos que ainda não iniciaram a atividade sexual. Mesmo as mulheres vacinadas devem continuar a fazer os exames preventivos, pois a vacina não previne contra os tipos de HPV menos comuns.
Comentário - A introdução da vacina deverá determinar um impacto muito grande a médio e longo prazo na incidência de câncer de colo uterino. A prevenção contudo deve ser mantida não só pelos tipos mais raros, mas por uma questão de segurança em relação a outros tipos de doenças e mesmo cânceres de outra linhagem. Mulheres jovens e sexualmente ativas devem ser acompanhadas em relação a outras DSTs que podem influenciar na sua saúde geral e reprodutiva (como é o caso da Clamídia, que passou a ser de rastreamento obrigatório nos Estados Unidos). A vacina também está sendo utilizada em homens com a mesma indicação e especial interesse em evitar as lesões verrucosas que mesmo nos países mais adiantados têm exibido uma curva ascendente preocupante na sua incidência, com mais e mais casos anualmente. Além disso, existem evidências de que ela possa ter um efeito benéfico nos casos de homens que já tiveram o HPV e estão na situação clínica de persistência do vírus (lesões que voltam apesar do tratamento). Um estudo americano com quase quatro mil homens nessa condição mostrou que as recidivas das lesões podem ser reduzidas em mais de 60%.
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18 Jan, 2010
 
Uma pesquisa científica muito recente envolvendo 3.400 homens heterossexuais e 600 homens que fazem sexo com homens (MSM - sigla do inglês médico), com idades entre 16 e 26 anos mostrou que a vacina contra o HPV (de quatro tipos) mostrou-se efetiva em prevenir lesões acuminadas (verrugas) ano-genitais em 89,4% dos imunizados.
Mas a novidade mesmo não fica por conta desse dado.
O que tem chamado a atenção nesse trabalho é um outro resultado: as infecções por HPV persistentes (aquelas famosas, cujas lesões vão e voltam) tiveram uma redução de 85,6% nas recorrências (volta de novas lesões) quando se utilizava a vacina quadrivalente.
Os índices mais altos de redução das recidivas (volta das lesões) foram vistos nas infecções pelo HPV 18 (com 96% de redução de novas lesões) e nas infecções pelo HPV 11 (com 93,4%). O HPV 18 está classificado como um dos de maior risco para o câncer de colo e o HPV 11 está mais relacionado com verrugas ao lado do tipo 6.
Esse estudo foi conduzido por pesquisadores liderados pelos Drs. Palefsky e Giuliano, nomes com extensa tradição no estudo do HPV, com pesquisas e publicações desde o início da década de 90.
A implicação prática disso é bastante interessante, uma vez que se verifica um efeito clínico comprovado e publicado muito importante e além do papel puramente preventivo das duas vacinas que foram desenhadas e lançadas no mercado com o propósito inicial de serem apenas profiláticas. Ao contrário mostram uma ação efetiva em quem já tem o HPV e, melhor ainda, em quem tem o HPV persistente. Justamente o que dá mais dor de cabeça aos pacientes e seus médicos.
 
 
Existem muitas dúvidas relacionadas à vacina quadrivalente contra o HPV no sexo masculino.
A vacina foi originalmente lançada como preventiva. Existem outras vacinas em fase de testes com a finalidade curativa. No entanto, começam a aparecer publicações dando conta de efeitos benéficos da vacinação em pessoas já afetadas pelo HPV.
Os índices de anticorpos desencadeados nos rapazes até 15 anos são até um pouco maiores do que os observados nas meninas.
Não há necessidade absoluta de fazer exame prévio para a vacinação quando indicada, porque a infecção por um dos tipos não invalida a proteção contra os outros três.
Quando alguém se infecta com o HPV não adquire imunidade permanente contra os demais tipos.
Novos contatos sexuais podem gerar novas infecções por tipos diferentes.
"Nunca mais vou sarar?" "Nunca mais vou eliminar o vírus?"
NÃO ! A grande maioria da população em geral (60%) tem contato com os vírus do HPV e os elimina espontaneamente. Uma minoria desenvolve lesões e dentro dessa minoria uma outra minoria entra no que classificamos como doença recorrente, com recidivas (novas lesões). Mesmo esses, por uma questão de tempo, têm uma chance muito grande de "clarear" o vírus, eliminá-lo. O paralelismo que se faz com o comportamento do Herpe vírus não é procedente.
A vacinação idealmente deve ocorrer nos meninos que ainda não tiveram relações sexuais.
"Quanto tempo dura a vacina?" "Tenho que tomar nova dose em 5 anos?"
Isso ainda não está completamente estudado e comprovado. No entanto, mesmo com a queda dos anticorpos ao final desses 5 anos, dados preliminares nas populações que estão sob acompanhamento nos estudos (alguns já com quase 15 anos) mostram que uma eventual exposição ao vírus tem a capacidade de despertar a "memória imunológica", elevando novamente o nível de anticorpos. Isso ainda é inconclusivo mas o dado é uma constatação animadora e eventualmente não haja necessidade de uma nova dose de vacina após 5 anos ( efeito"booster").
"A vacina contém vírus vivo ou morto, atenuado?"
Não, as vacinas utilizam uma proteína praticamente comum aos diversos tipos de HPV para estimular o sistema imunológico contra essa proteína e por tabela ao vírus que a produz precocemente. A proteína além disso é sintetizada por engenharia genética. Uma das vacina utiliza uma levedura (que é usada para a fabricação da cerveja) modificada para produzir a tal proteína que depois é adicionada de outras substâncias estimulantes da resposta imunológica.
"E os outros tipos de HPV?"
Quando dos estudos iniciais e até o presente momento se investiu nessa terapia o alvo sempre foi prevenir o câncer de colo do útero (principalmente causado pelo HPV 16 e HPV18), além das verrugas causadas pelo HPV 6 e 11 (esses últimos praticamente sem potencial oncogênico). Sabe-se, também do acompanhamento dessas populações distribuidas no mundo todo (estudos multicêntricos) que existe um grau menor de proteção (anticorpos) cruzada com outros HPVs "próximos" dos tipos alvo.
Essa proteção não é total e ainda não foi definitivamente mensurada e testada clinicamente sob o ponto de vista de proteção clínica. Mas é outro dado animador.
"Se no homem o HPV não causa câncer, qual o benefício da vacina?"
Os HPVs de comportamento mais agressivo, também conhecidos como de alto risco, podem causar outros tipos de câncer, sobretudo, o câncer anal e também o câncer da região da laringe e esôfago.
No pênis o HPV associado a outros fatores, notadamente, higiene precária, podem favorecer alguns tipos de câncer de pênis. A circuncisão é extremamente protetora nesses casos, notadamente quando realizada na primeira infância. Além disso o homem desleixado nesse aspecto é um "reservatório" e "vetor" do vírus (transmissor). Um ponto final, ainda a considerar, é que o homem também pode apresentar a doença verrucosa (condiloma acuminado) que pode assumir proporções não desprezíveis e com consequências facilmente previsíveis na sua vida sexual.
 
Embora praticamente toda a Europa já tivesse aprovado o uso da vacina quadrivalente contra o HPV no sexo masculino, ontem o FDA ( Food & Drug Administration) aprovou o seu uso em rapazes entre 9 e 26 anos.
No Brasil a recomendação da vacina já era feita por pesquisadores e médicos envolvidos de perto com o estudo do HPV, inclusive com pacientes recebendo a imunização fora do país.
Alguns pacientes já estão protegidos há um bom tempo.
Quem ainda não está protegido e estava céptico em relação a sua indicação, aí está a notícia.
27 Mar, 2009
 
Está em fase final de impressão, com lançamento previsto para o próximo dia 1o. de junho, o nosso livro sobre HPV - "Human Papillomavirus - A practical guide for urologists", editado pela Springer, editora médica da Alemanha.
O livro já pode ser encomendado pela Amazon.com
Um resumo de nossa obra, divulgada pela "Editorial Review" da Amazon:
Editorial Reviews
Product Description
This book is a practical and comprehensive guide to the diagnosis and treatment of human papillomavirus (HPV)-related diseases from a urological perspective.
With a strong emphasis on the clinical aspects of genital HPV infection, it reviews new diagnostic methods for virus detection and typing, management of penile and urethral lesions, new treatment modalities including an overview of the use of lasers, the link between HPV and cancer, and new prevention methods with an update on HPV vaccines.
This illustrated guide is recommended for urologists and medical practitioners wishing to acquire or expand their knowledge of urologic diseases caused by HPV.

8 Fev, 2009
 
A vacina preventiva contra os quatro principais tipos de HPV foi concebida para uso nas mulheres em função do risco de câncer do colo uterino.
Os estudos que vem de mais de 12 a 15 anos, incluindo a fase clínica mostraram uma grande efetividade do ponto de vista de produção de anticorpos e proteção efetiva contra a doença em pessoas vacinadas e acompanhadas por vários anos.
A recomendação atual da vacina é para a aplicação em meninas e moças na faixa etária entre os 9 e 26 anos.
Os estudos no sexo masculino, apesar de contar com vários anos também, incluindo a fase clínica de acompanhamento para verificar a proteção contra a doença, mostraram que os meninos e rapazes respondem com altos títulos de anticorpos iguais ou maiores até do que o sexo feminino ( é o chamado aspecto imunogênico - capacidade da vacina produzir anticorpos). Os estudos finais de proteção contra a doença terminam oficialmente em 2.010.
Vários países aprovaram o uso da vacina em meninos, faixa etária dos 9 aos 15 anos, antes da atividade sexual portanto, com base no critério da imunogenicidade (formação de anticorpos). Os países são, em ordem alfabética:
Argentina, Austria, Alemanha.
Bélgica, Bulgária,
Costa Rica, Ciprus, República Tcheca,
Dinamarca
Equador, El Salvador, Estônia, Eslováquia, Eslovênia, Espanha
Finlândia, França, Filipinas
Grécia, Guatemala
Honduras, Hungria, Holanda
Inglaterra, Indonésia, Islândia, Irlanda, Itália
Latvia, Libano, Liechtenstein, Lituania, Luxembourgo
Malta, México, Nicarágua, Noruega
Panamá, Polonia, Portugal
Romenia
Suécia
Tailândia
Também alguns países aprovaram o uso no sexo masculino na faixa entre os 9 e 26 anos, baseados nos dados disponíveis até o momento de proteção contra a doença, que já atestam resultados bastante favoráveis de proteção:
Austrália, Coréia e Nova Zelândia.
O Brasil, através da ANVISA, resolveu esperar os resultados finais de 2.010.
23 Dez, 2008
 
Foi lançado pelo Laboratório Salomão e Zoppi, em São Paulo, um novo exame de biologia molecular, já utilizado na Europa e América, relacionado à atividade do HPV, mais especificamente dos tipos mais agressivos na mulher.
O novo exame quantifica a expressão ou atividade de duas pequenas partes do vírus que são responsáveis pela sua atividade oncológica, sua capacidade de gerar câncer potencialmente.
Os HPVs podem ser divididos em tipos de alto e baixo risco para o câncer de colo uterino.
Os de alto risco, se não tratados e acompanhados, se deixados agir livremente podem causar o aparecimento do câncer de colo na mulher.
A parte do vírus que faz isso está representada por duas regiões (chamadas de expressão precoce - E de early em inglês). Essas regiões ou genes são os E6 e E7.
Hoje sabemos que o fato do gene potencialmente existir naquele tipo de HPV diagnosticado, nem sempre significa que ele vai mostrar a cara em 100% das vezes ou do tempo - é o que chamamos de expressão.
O gene pode se manifestar com grande atividade ou baixa atividade, o que clinicamente significa ser agressivo ou não.
Esse novo exame mede a atividade das duas regiões.
Ele só se aplica às mulheres portadoras do HPV de alto risco em que haja interesse clínico de se determinar se aqueles vírus que ali estão exprimem o seu potencial de transformação ou não, em que medida o fazem.
Sua utilização no homem é muito rara, porque a agressividade em termos de câncer de pênis é muito pequena. Mesmo os casos de neoplasia intraepitelial no pênis (o câncer precursor microscópico) têm uma evolução muito boa em termos de auto eliminação, sem progressão para câncer clínico.
Parabéns ao Prof. Ismael Guerreiro, responsável pelo exame, por mais esse avanço entre nós.

10 Dez, 2008
 
No mes passado em Nice, Riviera Francesa, foi realizado o EUROGIN um tradicional congresso sobre o câncer de colo do útero e também sobre o HPV ( vírus do papiloma humano).
Nesse congresso foram apresentados os primeiros dados de grandes grupos de homens vacinados contra o HPV. Os resultados são extremamente promissores e mostram uma alta eficácia da vacina contra o HPV no sexo masculino, considerado o vetor e reservatório do HPV.
O homem tem uma incidência muito mais baixa de complicações do HPV no sentido de lesões cancerosas do pênis. Há uma proteção e um comportamento biológico e dinâmico do epitélio peniano que, em conjunto, tornam pequenas as chances de processos mais sérios a partir da evolução do HPV.
Mas os homens sofrem muito com as lesões verrucosas, as verrugas genitais ( genital warts) ou o condiloma, a forma exofítica, semelhante a verrugas, a couve-flor, que acometem os genitais e também a região perianal.
A região perianal vem também recebendo grande atenção em relação ao HPV, não somente na população de homens que têm sexo com homens, mas na população heterossexual em que as mãos do próprio indivíduo podem funcionar como veículo de auto-inoculação, o que já era verificado em mulheres que não tinham pratica de sexo anal.
Esses resultados no sexo masculino fazem prever uma recomendação muito breve da vacina também para os meninos e rapazes, a exemplo do que já ocorreu em vários países da Europa, Oceania e América Latina.
No Brasil ainda não estão disponíveis dados da cobertura vacinal, ainda não incorporada a rede pública, mesmo em bolsões de grande incidência do HPV e também do câncer de colo uterino.
Nesse aspecto a medicina privada saiu na frente. Grandes empresas tem oferecido a possibilidade de suas funcionárias e filhas de funcionários terem acesso à vacina. Uma das grandes corporações que já o fizeram foi o Grupo ITAU, para todos os seus funcionários. Na ponta do lápis esse investimento além do aspecto preventivo, que é salutar e elegante, traz uma vantagem econômica muito grande : a médio prazo as despesas com o diagnóstico e tratamento das infecções pelo HPV e suas consequências, as lesões pré-cancerosas e mesmo invasivas, devem cair drasticamente. É o tipo de investimento inteligente tanto em apreço humano, quanto em economia de saúde.

1 Nov, 2008
 
Um dos ganhadores do prêmio Nobel de Medicina de 2008 é uma figura marcante, num dos assuntos mais palpitantes dos últimos anos: o vírus do Papiloma Humano ( sigla em inglês HPV).
O pesquisador Prof. Harald zur Hausen foi quem primeiro descreveu, na década de 70, a relação dessa familia de vírus com o câncer de colo do útero, a segunda neoplasia feminina em incidência e letalidade no mundo desenvolvido e primeira no mundo em desenvolvimento e nos países pobres.
Fez isso em meio ao descrédito da classe científica na epóca. Ainda se pensava fortemente que o vírus do Herpes pudesse ser o vilão implicado nesse câncer.
O tempo passou e todas as pesquisas foram corroborando a descrição e os estudos de zur Hausen. Hoje, trinta e tantos anos depois, dispomos de duas vacinas profiláticas que podem proteger meninas e meninos dos malefícios do HPV, desde os tipos mais relacionados com o câncer do colo uterino e as verrugas genitais, não menos preocupantes e motivo de pesados tratamentos.
Por coincidência, a vacina contra o HPV recebeu ontem (31/outubro/2008) o prêmio "2008 International Prix Galien Award"., considerado o "prêmio Nobel" da indústria farmacêutica.
No Brasil, temos a Vacina Quadrivalente contra o HPV e a Bivalente, até o momento oficialmente liberadas para uso no sexo feminino, apesar da sua liberação em homens em vários outros países.
Espera-se que na próxima semana, durante o congresso europeu EUROGIN sejam divulgados amplos dados sobre a utilização da vacina em rapazes, os verdadeiros vetores do HPV.
18 Set, 2008
 
No último dia 2 de setembro o Serviço de Saúde da Escócia iniciou a vacinação contra o HPV das meninas em idade escolar. Dentro do Reino Unido, torna-se o primeiro dos seus quatro países a estabelecer esse tipo de vacinação como política de saúde pública.
Os custos com as infecções pelo HPV são altíssimos, mesmo nos países desenvolvidos, onde o screening do câncer de colo é efetivo e a previsão de incidência desse câncer até 2020 é de comportamento estável, ao contrário dos países em desenvolvimento, em que se prevê um aumento considerável da incidência dessa neoplasia. O câncer de colo uterino nas mulheres só perde para o câncer de mama em termos de incidência e, em algumas regiões pobres do mundo, está a frente deste último. Para que se tenha uma idéia dos custos, na Alemanha foi feito um levantamento nacional recente e os custos com essas infecções foram estimados em 58 milhões de euros, com um gasto médio pessoal de 655 euros.

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HPV - Vacina que salva vidas !
Numa tarde quente de março de 1984, numa pequena sala do CECAN (Centro de Controle do Câncer ) da Unicamp, embrião do que depois viria a ser o Hospital da Mulher, agregado ao Complexo do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, recebi um convite para participar de um estudo prospectivo.
Em medicina temos os estudos retrospectivos, em que analisamos os dados de pacientes que já foram tratados, operados, etc. , através de seus prontuários, e também desenhamos estudos prospectivos, voltados ao atendimento, estudo e acompanhamento de um grupo pacientes com esta ou aquela doença, durante um certo tempo.
Naquele dia minha colega ginecologista Nadir Oyakawa, que havia recentemente voltado da Europa, propunha-me que estudasse os parceiros masculinos das pacientes atendidas de toda a região de Campinas, cidades satélites e do sul de Minas, portadoras de câncer de colo do útero ou citologia oncótica alterada ( o famoso teste de Papanicolaou). O projeto se chamava CONDINEO, numa alusão à recém-estabelecida relação entre o Condiloma Acuminado ( HPV - vírus do papiloma humano) e a neoplasia, o câncer de colo do útero.
O convite era interessante porque, àquela altura, muito pouco se sabia a respeito do HPV no homem e os conhecimentos sobre o vírus na mulher estavam se firmando. A incidência, no mundo inteiro, explodia.
Aceito o convite, passamos a atender aqueles parceiros, diagnosticando e tratando, ao mesmo tempo em que atendíamos as complicações urológicas das pacientes que já apresentavam o câncer de colo em estágios mais avançados, a fase final da história. Tínhamos alí um contato de ponta a ponta com a causa e o efeito do famigerado HPV.
Hoje passados quase vinte e cinco anos é com grande alegria que vimos se materializar a sonhada vacina contra o inimigo de tantos anos.
Meu filho e minha filha, ambos adolescentes já foram imunizados.
Vez por outra, durante esses anos, eles viram as fotos da doença que o pai utilizava rotineiramente nas suas aulas aqui e acolá. As vezes um livro aberto, uma ajuda nas fotos para digitalizar, um empréstimo de câmera digital aqui e ali. Enfim, muitas vezes essas fotos, à parte o natural susto, tiveram que ser explicadas e cumpriram um papel educativo para os dois.
Agora que a vacina chegou, a torcida fica por conta da sua difusão e de seu acesso nas áreas mais afetadas por essa praga dos nossos dias. Dentro do Brasil temos vários outros Brasis, regiões com grande incidência do vírus, como Recife, a região norte, o nordeste...
Em recente encontro na cidade do México discutiu-se a barreira do custo dessas vacinas, principalmente em países em desenvolvimento, que concentram 80% dos casos de câncer de colo uterino do mundo. O impacto da doença no mundo desenvolvido é menor em termos de câncer, mas continua enorme no aspecto de doença sexualmente transmissível ( as verrugas genitais - o condiloma acuminado) que impõe um grande gasto em termos de saúde pública, não só para as moças mas também para os rapazes que padecem do HPV clínico e são o vetor de transmissão do vírus.
No Brasil, o cobertor curto, das verbas para saúde, leva a um debate estéril entre prevenção tradicional do câncer de colo, com programas de rastreamento do câncer já em suas fases iniciais microscópicas e a prevenção vacinal, incluido aí o aspecto da DST. De um lado o INCA e de outro o Programa de Imunização.
Razão de parte a parte, as duas coisas deveriam coexistir porque as populações alvo são distintas em termos de faixa etária e lembram a passagem bíblica da sabedoria de Salomão com o filho reclamado pelas duas supostas mães.
Aqui, se privilegiarmos apenas o rastreamento do câncer nas moças mais velhas, vamos continuar a ter as filhas dessas cumprindo a mesma sina mais tarde. Serão as rastreadas daqui há alguns anos. Se pendermos apenas para a vacinação das meninas, filhas das que deixarem de ser rastreadas, elas serão salvas do câncer que poderá levar suas mães.
Dilema da pobreza. Esperança da negociação.
Não há produto que resista ao mercado. Se a demanda for grande, com certeza barateiam-se os custos de produção na escala. Talvez os ecos do México despertem vontades políticas concretas nesse sentido, resultando numa ação conjunta dos países envolvidos com o drama.
Vontades políticas verdadeiras e honestas, no que se refere às verbas para a Saúde, que como se vê, vão muito além do que hospitais, postos de saúde e ambulâncias do hoje; envolvem toda uma geração de brasileiros e brasileiras, ou companheiras e companheiros do amanhã !
Quem sabe o cobertor possa então cobrir os pés e a cabeça e ninguém passe frio !