quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

São Paulo sediará encontro internacional de Uroginecologia.



A International Urogynecological Association (IUGA) uma das duas mais respeitáveis e representativas entidades mundiais da Uroginecologia realiza em São Paulo, na Universidade Federal de São Paulo, vila Mariana, um  “Regional Symposia” nos dias 12 e 13 de dezembro de 2011.

Uroginecologia, ou Urologia Feminina ou Cirurgia Reconstrutiva Pélvica é a união multidisciplinar voltada ao tratamento dos distúrbios miccionais e fecais da mulher.
O assoalho pélvico e os respectivos órgãos, bexiga, reto e canal vaginal/útero, compõem estruturas complexas, com controle neurológico específico, que afetam as funções urinárias, fecais, reprodutivas/sexuais e posicionamento dos órgãos pélvicos da mulher.

Disfunções nesse conjunto de órgãos, músculos, ligamentos e demais estruturas estão representadas nas incontinências (perdas involuntárias) de urina e fezes/gases, queda do útero que se exterioriza em graus variados pela vagina, os chamados prolapsos, que também afetam o intestino descendo pelo canal vaginal.

O tratamento dessas condições evoluiu muito e hoje vários ginecologistas, urologistas, proctologistas, fisioterapeutas, neurologistas, enfermeiros e outros profissionais se dedicam a essa área.  Distúrbios uroginecológicos geralmente não matam ninguém, mas trazem um ônus incalculável na qualidade de vida, depreciação pessoal, limitação profissional e social, desajustes sexuais, entre várias outras coisas.

O evento tem a característica de ser limitado a poucos profissionais (no Brasil, 200 vagas, preenchidas imediatamente), presença maciça de professores estrangeiros, caráter didático/prático de primeira linha e alto nível dos cursos. São dois dias, praticamente 24 horas, de atividades científicas, vídeos, demonstrações e compartilhamento de experiências de alto valor.

Confira o site do evento e o programa

Drs. Rodrigo Castro (Unifesp), Membro re-eleito do Board/ Latin America da IUGA e Aparecida Pacetta (USP)  são os “Chair/ Local Organizing Committee” .  Entre os convidados internacionais destacam-se os Profs. Guilhermo Willy D´Avila, vice- presidente da IUGA e professor na  Cleveland Clinic (EUA), Gunnar Lose (Dinamarca), Gamal N. Ghoniem (EUA), Jean Depreste (Bélgica),  Enrique Ubertazzi (Argentina), Cesar Descouvieres (Chile) e German Urenda (Bolívia).  Os Speakers brasileiros somam 24, a grande maioria oriunda do Nucléo Brasileiro de Uroginecologia.

Nós participaremos com um aula sobre "Overflow incontinence"  ou Incontinência por Transbordamento, aquela que acontece na bexiga obstruída, que vaza como um depósito de água que enche até o seu limite.

Esse curso já é um prenúncio,  muito importante para os brasileiros,  que receberão o Congresso mundial da  ICS - International Continence Society, a outra maior e mais importante sociedade na área, entidade co-irmã da IUGA, no ano de 2014, no Rio de Janeiro.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Bexiga Hiperativa - novidades no tratamento

Bexiga hiperativa é uma condição clínica muito importante e frequente em que a pessoa apresenta necessidade urgente e frequente de urinar, conseguindo ou não segurar o xixi (seca ou úmida), em que o sintoma principal é a urgência, uma vontade imperiosa de urinar, ocorrendo várias vezes ao dia e mesmo à noite.

A Bexiga Hiperativa pode ser avaliada clinicamente, excluindo-se causas mais imediatas que podem ser tratadas e resolvem o problema de uma vez, como na infecção urinária, cálculos vesicais, crescimento prostático, efeito da radioterapia na bexiga e assim por diante.

Às vezes, contudo, não há uma causa aparente ou presente, apenas os sintomas.

Nesses casos os tipos de tratamento são bastante variáveis, desde técnicas de fisioterapia, medicamentos, toxina botulínica (Botox ) intravesical, eletro-estimulação, biofeedback entre outros.

O carro chefe do tratamento é o medicamento que inibe a atividade contrátil da bexiga (ou atividade motora). São medicamentos que colocam em repouso o músculo da bexiga - tornando-o "normoativo", em oposição à situação de "hiperatividade"!).

Há ótimos medicamentos, mas nenhum é 100%  em efetividade e ausência de efeitos colaterais.

Além disso, uma coisa que sempre intrigou os especialistas dessa área (os distúrbios da micção) era que uma parcela considerável dos pacientes, homens, mulheres e crianças, que apresentam a bexiga hiperativa, na realização do exame urodinâmico, não apresentavam contrações em excesso,  apenas sintomas sensitivos alterados.

O estudo sistemático das vias nervosas envolvidas, estudo de ressonância associados a PET (emissão de pósitrons) e outros estudos básicos avançados (modelos animais com alta tecnologia, tem possibilitado a identificação de vários mecanismos que podem explicar a doença.

Nesse sentido, a primeira novidade, no campo dos medicamentos é que começam a ser utilizados medicamentos para a Bexiga Hiperativa, que não atuam na parte motora, mas vão alterar a parte sensitiva, melhorando a resposta dessa outra parcela de pacientes a que nos referimos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Vacina contra a Malária pode ser realidade em 2015.

O jornal médico New England Journal of Medicine acaba de publicar on line first um artigo relatando os resultados positivos de uma vacina em fase 3 de teste (uso em humanos) com resultados animadores, e já respaldados pela OMS,  contra a Malária. Falta apenas a avalição sobre a necessidade ou não de uma dose de reforço (booster) após 18 meses da imunização e acompanhamento após esse reforço. Vencidas essas etapas a vacina deve estar em uso em 2015.

A notícia é extremamente auspiciosa. A pesquisa é resultado de uma parceria entre a GSK, uma indústria farmacêutica, e a Fundação Melinda e Bill Gates.

A pesquisa

O alvo para proteção foram 15.460 crianças da Africa sub-saariana,  em sete países,  que,  a exemplo de outras áreas tropicais e sub-tropicais, são as piores vítimas da Malária, uma doença transmitida pelo  mosquito anófeles.  A doença também é endêmica no norte e centro-oeste do Brasil.  O estudo dividiu as crianças em dois grupos:  de 6 a 12 semanas de vida e de 5 a 17 meses de idade.

As crianças são as maiores vítimas das formas mais graves e letais da doença, que é mais bem tolerada na idade adulta na sua forma clínica e também nos efeitos colaterais de seu tratamento.

A técnica

A  RTS,S/AS01, nome técnico inicial da vacina é constituída de um híbrido, construído a partir do antígeno do vírus da hepatite B em fusão com um antígeno recombinante derivado de parte da proteína do agente causador da malária. Na realidade a proteína envolve o esporozoíta,  que é a forma transmitida pelo mosquito ao picar a pele dos humanos para se alimentar do sangue humano. Essas formas invadem o fígado e se multiplicam antes de invadir a corrente sanguínea da pessoa infectada, causando a doença.

sábado, 15 de outubro de 2011

Hoje é o Dia do Professor

Hoje é o dia do Professor, 15 de outubro.

Provavelmente você não vei ver nenhum anúncio no jornal ou na televisão. Nem nas revistas semanais. Em apenas uma estará lá o ENEM, como uma mensagem emblemática da situação triste desse dia...
Não há muito que comemorar e a sociedade deve refletir bastante sobre isso.

Seguramente se o Brasil é um país otimista, o que está estampado em outra revista "da semana", deveria repensar esse assunto em que enveredamos pela contramão, ao contrário de vários países asiáticos e praticamente todos os do primeiro mundo que já fizeram e continuam fazendo a sua lição.

Nem sempre foi assim. Ser Professor já foi motivo de muito orgulho e responsabilidade. Já foi uma posição de respeito na sociedade e na comunidade.

Já foi uma profissão respeitada e da qual se podia viver dignamente, com uma perspectiva de vida, uma profissão única, em que não apenas alunos e pais eram conhecidos, mas os próprios professores eram conhecidos, pelo nome, sobrenome, família e tudo o mais.

Hoje os tempos são outros. Professor virou uma profissão “fora de moda”, um artigo descartável e barato. Ninguém mais, salvo escassas exceções, consegue  se sustentar com os salários aviltantes que a sociedade paga.

Virou um trampolim e um rito de passagem para outras profissões. É uma fase intermediária, “temporária”. Sim, para os que têm um pouquinho de memória, o próprio  sistema educacional cunhou o termo, em leis, decretos e resoluções  “Professor Temporário” para suprir as lacunas dos Professores Efetivos e concursados, estatutários.  Hoje a lacuna virou a regra, um grande rombo no tecido social.  O “CLT mágico” sempre foi mais barato e destruiu a profissão. O Estado economizou no que não devia, no que não podia e nem tinha o direito de fazê-lo.

Fizeram, da mesma forma, os seguidos governos em praticamente todas as esferas. Governos políticos, que se confundem com o Estado, terminaram por  usurpar obrigações básicas constitucionais que não podem estar sujeitas às políticas do momento, nem ser objeto de barganha e economia porca num dos pilares mais importantes  para a formação da Nação. 

Provavelmente esses governantes não foram bons alunos, pois de duas uma; ou não estudaram devidamente esses conceitos republicanos e democráticos; ou agem de reptícia má-fé. Talvez incorram nas duas situações, na ignorância dos conceitos de Nação, País, Estado e Governo ou propositadamente não os respeitem para descaradamente se locupletarem das posições a que foram alçados. 

O mesmo se vê na Saúde.  Seguirá o mesmo destino.

Depois de destruída a Educação, notadamente a pública, os mesmos governantes tapam o sol com a peneira. Lançam iniciativas ridículas para compensar a “divida social”, travestida de injustiça ou falta de oportunidades igualitárias aos alunos semi-letrados de um sistema inoperante. Criam-se os ENEMs, os ProUnis, as Cotas e outras asneiras.  Educa-se pelo decreto, Tenta-se recuperar a farsa a que esses jovens brasileiros estiveram expostos durante os anos mais férteis e propícios à educação. Não se aprendeu nada, não se ensinou nada.  O diploma do ensino superior ilusoriamente vai colocar uma pá de cal sobre o assunto.  Magicamente vai suprir, como num truque de mágica, o que não se aprendeu. Engenheiros, Médicos e quaisquer outras profissões que mal sabem falar o português, não sabem escrever, não sabem história, matemática. Sabem uma profissão, e às vezes tem a felicidade de exercê-la, ou em sua grande maioria agregam alguma coisa a mais (ou nada) a outras funções totalmente díspares. É como se o diploma da faculdade servisse de decoração na sala da casa.

Triste País. 

Triste sociedade que relega os seus professores a um papel secundário; mal remunerados e desvalorizados na sociedade. Em que seus professores tem até vergonha de declarar a sua profissão, ou o fazem se desculpando.

De minha parte, apesar de toda esses motivos para não se comemorar o Dia do Professor, fica, contudo a minha homenagem aos que me ensinaram o pouco que sou, desde o velho Grupo Escolar Brasil onde escrevi minhas primeiras letras e abri o velho “Caminho Suave” de Branca Alves de Lima, o “Castello Branco” de Limeira, O “Ely”... Lugares que marcaram a Educação Pública de qualidade de um tempo que não volta mais.

Minha homenagem a Dona Daicy, saudosa primeira Mestra, Martha, Elza, Vilma, Dora, Júlia, Paulina, Elza, Jacyra, Heitor, Helio, Haydeè, Nilo, Arlindo, Corina, Maria Flávia, Milton, Miguel, Dora, Cristina, Guzzi, Mário, Oscar, Doralice,  Cidinha, Maria Augusta, Caetano, Carlos, Alcides, Lia, Eduardo e todos mais que a memória não me ajuda agora, mas lá estão.

Vocês não constam nos nossos Curriculum Vitae, por uma formalidade injusta, mas constam, com certeza em nossas  trajetórias de vida na sua mais pura acepção e, sobretudo, na nossa gratidão.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Cistos renais, exames de imagens e preocupações desnecessárias.

Depois que a tecnologia médica no setor de imagem evoluiu bastante com o ultrassom, a tomografia e a ressonância magnética, os diagnósticos melhoraram muito em comparação com o antigo RX e suas limitações.

Há, contudo, alguns aspectos negativos, quando analisamos esse tipo de tecnologia.

Na linguagem médica passamos a descobrir muitas coisas incidentais, achados de exame, muitas vezes sem nenhum significado, clínico e/ou prático.

Muitas vezes, esses “incidentalomas”, um jargão da Medicina, só servem para atormentar pacientes e médicos, trazendo ansiedade, desconforto e exames adicionais, nem sempre muito necessários.

São achados comuns (às vezes muito comuns) e sem consequência alguma, a médio e longo prazo.

Um dos achados mais frequentes nos consultórios de Urologia são os cistos renais simples. São pequena “bolinhas” de líquido, de urina, localizados nos rins. Podem ser solitários, podem aparecer nos dois rins e mesmo em multiplicidade. São muito comuns nas pessoas acima de 50 anos (estatísticas variam entre 45-50% das pessoas depois dessa idade tem pelo menos um cisto renal simples!).

Podem variar de pequenos, com alguns milímetros de diâmetro a vários centímetros. Se não causam hemorragias, não obstruem o sistema coletor de urina ou não causam dor pelo volume, não demandam nenhum tratamento; apenas um acompanhamento.

Cistos que não são simples - que podem ter septações no seu interior, paredes irregulares, formações sólidas e císticas já são uma conversa totalmente diferente. A chance de abrigarem um tumor renal cresce na medida das alterações encontradas.

Ainda assim podem existir cistos intermediários (numa classificação que vai de I a IV, os do tipo II – classificação de Bosniak) que podem ser apenas consequência de hemorragias ou traumas localizados no rim, com posterior formação de cistos. Esses também precisam de investigação.

Na dúvida consulte seu urologista, mas sempre mantenha a calma ao abrir um exame laboratorial ou de imagem e “analisá-lo” sozinho e por sua conta.

Até a próxima.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Novas drogas - “Sais de Banho”

Nos últimos dias circularam nos Estados Unidos alguns alertas e notícias sobre algumas novas drogas “recreacionais”, na linha das anfetaminas, que estariam sendo vendidas como “sais de banho”. De sais de banho não tem nada. São drogas de ingestão oral com efeitos bastante graves e, como sempre, de limites muito imprecisos entre o “ficar alto” apenas e o “ficar” extremamente agressivo, com espasmos, com crise hipertensiva e arritmia cardíaca e mesmo morte, incluindo de “brinde” delírios extremamente acentuados como visão de alienígenas, animais ferozes e assim por diante.

A burla e a venda ocorre em lojas “especializadas de alto astral e cuidados pessoais”, de conveniência, em postos de gasolina e, como não poderia deixar de ser, também na Internet. Os nomes são muito variados: White Rush, Cloud Nine, Ivory Wave, Ocean Snow, White Lightning, Scarface, Hurricane Charlie, Blue Silk e Bloom. Todas vem rotuladas como sais de banho, "impróprias para consumo humano".

Os organismos responsáveis pelo controle de drogas naquele país já se mobilizam para enquadrar esses produtos, que disfarçados dessa maneira, burlaram o controle existente. Provavelmente, quando isso se implementar, a “produção" existente vai buscar novos mercados no exterior...

Vale a pena, contudo, reter a informação e ficar atento.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Os riscos do uso de anabolizantes


O abuso de andrógenos anabolizantes (mais conhecidos como “bombas”) por parte de atletas com a finalidade de aumento de massa muscular tem sido motivo de grandes preocupações de médicos e dos usuários desses medicamentos, quando se veem vítimas dos efeitos colaterais indesejáveis que eles podem ocasionar.

O conhecimento leigo e mesmo da “experiência” de alguns treinadores, instrutores e “usuários experientes” às vezes é superestimado, quando na realidade, é coisa bastante limitada à apenas alguns dos aspectos desses efeitos colaterais. Muitas vezes eles se limitam à ginecomastia (desenvolvimento da glândula mamária masculina) que pode ser ocasionada pelo uso dos andrógenos.

Alguns efeitos indesejáveis, contudo, estão fora do alcance desses “gurus”.

Os andrógenos (hormônios da linhagem masculina, naturalmente produzidos nos testículos, adrenais e também tecido adiposo periférico) na realidade fazem parte de uma grande “cascata” de substâncias químicas relacionadas às várias classes de hormônios e seus precursores em ambos os sexos.

Consequência prática disso? 
Muito simples. Um pode se converter em outro ou num segundo ou terceiro.
Ainda há a possibilidade de o hormônio inibir a sua produção natural ou até estimular um antagonista (um hormônio com atividade oposta).

A bioquímica de cada uma dessas substâncias (e há muitas!) pode ser bastante complicada e não segue um modelo matemático previsível ou aplicável a todas as pessoas igualmente.

O exemplo mais simples é  a própria ginecomastia. Um fato aparentemente paradoxal. Como um hormônio sabidamente masculino pode estimular a mama masculina a assumir contornos femininos?

A dinâmica a que fizemos menção explica isso. O excesso de andrógeno, que não segue uma regra na dose utilizada, mas sim uma resposta individual, pode ser convertido em hormônios que terão esse efeito oposto, até feminilizante.

A inibição dos hormônios naturais e dos seus controladores poderá colocar o testículo em repouso (inibição da glândula hipófise). Muitas vezes pode ser um “repouso” definitivo e irreversível. Há uma para na produção da testosterona natural e mesmo dos espermatozóides que garantem a fertilidade, a capacidade de reprodução da pessoa!

O uso continuado dos esteróides leva à atrofia dos testículos. Na falência do testículo, sem produção da testosterona, cria-se uma dependência total da fonte externa desses hormônios. A reposição hormonal contínua, contudo, pode contornar a parte endócrina, mas não adianta nada para o aspecto reprodutivo. A infertilidade geralmente é irreversível para esses pacientes.

O fígado também sofre em várias de suas funções com a elevação de vários dos marcadores laboratoriais que utilizamos para monitorar a atividade hepática. Hepatites por reações de hipersensibilidade, icterícia e adenomas hepáticos podem ocorrer com o uso prolongado desses agentes.

Na pele, a ocorrência de acne é muito frequente. Geralmente é do tipo mais agressivo (“acne fulminans” e “acne coglobata” – formas extensas em que as erupções costumam se confluir pela vizinhança e profundidade do processo inflamatório da pele). Geralmente são quadros prolongados que costumam deixar cicatrizes ou mesmo assumir um aspecto crônico.

Se o músculo se beneficia do efeito de crescimento fácil (hipertrofia), aumentando a massa muscular, o mesmo não se pode dizer dos tendões e ligamentos. Os anabolizantes esteróides tem um efeito paradoxal nessas estruturas, que ficam mais frágeis e com possibilidade de freqüentes rompimentos.

Por fim, dois sistemas muito importantes em que os efeitos colaterais dos anabolizantes não são muito conhecidos entre os usuários são o sistema nervoso e o sistema cardiovascular.

No primeiro, são claros os efeitos aumentando os distúrbios psiquiátricos que incluem: agressividade, distimia (flutuações importantes do humor), psicose, comportamento criminal, comportamento maníaco, quadros delirantes (de grandeza, euforia, estados confusionais e delírio associado a comportamento criminal). Várias dessas constatações foram feitas com bases em estudos controlados, isto é, estudos em que um grupo de homens recebia doses crescentes de anabolizantes e no outro eles recebiam apenas placebo, sem conhecimento de quem estava recebendo o quê, inclusive os pesquisadores durante o mesmo estudo (o que se chama em pesquisa clínica, estudo duplo-cego).

Várias pesquisas na mesma linha apontam que o uso desses anabolizantes se associa, em proporções enormes, com a dependência mista; tanto do próprio anabolizante; quanto de outras substâncias passíveis de adição (álcool, opióides e outras substâncias) chegando a até 70% usuários.

Já no sistema cardiovascular os efeitos são divididos em duas partes: naqueles diretamente ligados ao coração e vasos e os indiretos,  que vão alterar o colesterol e lípides do organismo. Casos de morte súbita, por infarto agudo do miocárdio, estão relatados em todos os lugares. Geralmente em atletas novos, sem antecedentes de doença cardíaca, totalmente saudáveis, e com uso de altas doses de anabolizantes.

Na autópsia desses pacientes as células do músculo cardíaco estão contraídas e com ruptura das microfibrilas. Também se encontram efeitos do excesso da resposta do sistema comandado pela adrenalina e derivados, bem como aumento do sistema de catecolaminas que afetam a pressão arterial.

Diminuição do colesterol de alta densidade “o que desentope as artérias” é uma constante, aumento do colesterol ruim, aumento dos fatores de coagulação (que facilitam as tromboses e acidentes vasculares cerebrais), aumento excessivo dos glóbulos vermelhos, levando à chamada policitemia (que termina por “engrossar” o sangue) são algumas das consequências do uso indiscriminado de anabolizantes.

O resultado final é que a chance maior de morte prematura por acidentes cardiovasculares nos usuários de anabolizantes é uma constatação em vários e vários estudos pelo mundo todo.

Em resumo, o que a atividade física pode trazer de vida saudável e mesmo prolongá-la é encurtado pelo uso dos anabolizantes.

 
Mais “bonito” e morrendo mais cedo!


Fonte:

Androgen Abuse in Athletes: Detection and Consequences.  Bazaria, S., Boston University School of Medicine, Ma. U.S.A. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. Vol 95, pgs 1533-1543, ano 2010.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Curso de Reciclagem em Ginecologia apresenta novidades relativas ao HPV no casal.

Realizado em 24 de setembro de 2011 em São Paulo, o curso de Reciclagem em Ginecologia (clique aqui para rever a notícia) apresentou novos parâmetros para a avaliação e acompanhamento para o HPV no casal.Confira os quatro pontos mais interessantes do encontro.

1. Mudanças no exame de Papanicolaou* (ou citologia oncótica do colo do útero)-Dr. Gustavo Focchi da Universidade Federal de São Paulo/ Escola Paulista de Medicina discorreu sobre a citologia em base líquida que propicia, além da citopatologia convencional (que era vista nos esfregaços em lâmina de vidro), a realização de muitos outros exames no mesmo material desde a biologia molecular (rastreamento do HPV) até a aplicação da imunocitoquímica, com pesquisa de marcadores mais confiáveis e até com certo valor prognóstico na análise da citologia, facilitando quando ou não indicar a biópsia e/ou prosseguir com a investigação. Esse novo método também permite a identificação com segurança de micro-organismos como a Neisséria (agente da gonorréia), Herpes, Clamídia e trombofilias.

2. HPV na gravidez - O assunto foi discutido nos seus aspectos práticos. Na gestação o tratamento do HPV sofre sérias restrições de medicamentos e mesmo procedimentos cirúrgicos no colo uterino gravídico. Felizmente durante a gravidez não existe aumento ou recrudescimento do HPV. É, de certa maneira, um enigma. Além disso, a evolução do HPV após a gravidez costuma ser favorável com a
melhora do quadro e, ainda como uma surpresa;alguns estudos apontam que alterações atípicas evoluem melhor quando a via de parto é vaginal. Não se sabe ao certo o porquê, mas provavelmente as grandes modificações de dilatação do colo uterino durante o parto possam ativar os mecanismos de defesa locais.

3. HPV e proctologia - Uso do imiquimode na área proctológica está em alta e com bons resultados. Dr. Sidney Nadal, do serviço de Proctologia da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e do Hospital de Infectologia “Emílio Ribas” apresentou sua experiência com o uso de imiquimode, um imunomodulador, em lesões HPV-induzidas na região perianal em população HIV positiva. O trabalho inclusive, ganhou um prêmio de melhor trabalho durante o último Congresso Brasileiro de Colo-Proctologia , realizado em Fortaleza, agora no começo de setembro de 2011.

4. HPV e câncer de orofaringe/ cabeça e pescoço - O Dr. Henrique Olival Costa, também da Santa Casa de São Paulo e vice-presidente do Instituto do HPV, mostrou dados ainda inconclusivos a respeito do efeito do HPV nos cânceres de laringe e orofaringe. A presença do HPV na população em geral é estimada em aproximadamente 4,5% (com diferença mínima entre um sexo e outro). Mais estudos são necessários para a avaliação real do problema. Sabe-se, contudo, que os cânceresdessa região em que o HPV tem participação exibem um perfil diferente: incidem mais em jovens, mais em mulheres, mais em não fumantes e tem uma evolução melhor do que os demais. Outra surpresa.


o balanço sobre as vacinas no mundo todo fica para uma outra ocasião.

*Papanicolaou (com “ou“ no final em homenagem ao médico grego Geogios Papanicolaou, considerado o pai da Citopatologia).

sábado, 24 de setembro de 2011

HPV no casal - Reciclagem em Ginecologia

No sábado, dia 24 de setembro de 2011, foi realizado o segundo módulo da série de eventos em Reciclagem em Ginecologia Baseada em Evidências da Clínica Ginecológica da Universidade de São Paulo, sob a coordenação da Dra. Maricy Tacla e Dr. Homero Guidi.

O evento ocorreu entre 8 e 14 horas, no Centro de Convenções Rebouças em São Paulo.

Foram duas sessões: a primeira tratando sobre o HPV na Mulher, sua imunologia, aspectos diagnósticos ligados aos avanços da citologia, clposcopia e rtreamento mlecular, além das lesões prcursoras do câncer do colo uterino.

Na segunda sessão foi abordada a Extensão do HPV, com os seus aspectos na gravidez, nos seus aspectos urológicos, proctológicos e otorrinolaringológicos (incluindo as patologias da cabeça e pescoço). 

O evento foi fechado com uma revisão sobre o estado atual da Prevenção Primária do HPV ,centrado nas vacinas atuais, com dados muito reais das situações no continente americano, australiano e europeu

Para um público seleto de especialistas, um rol de experts fez apresentações precisas e concisas sobre os temas que têm uma importância ímpar num país sul-americano, como o Brasil, em que o câncer de colo uterino ainda é uma vergonha nacional, em que passados dez anos, a despeito das intervenções e medidas governamentais, os índices permanecem iguais.
Nesse aspecto, as estatísticas reais, pouco conhecidas e reveladas, mantém-se iguais, apesar das indicações e interpretações oficiais, do que se faz em termos de prevenção primária (rastreamento do câncer cervical).

Mantemos uma triste estatisca (end point) igual às de países pobres e em desenvolvimento, diferentes de países em igual condição, em que verdadeiramente houve comprometimento com resultados na sua prevenção e erradicação e não apenas com medidas nesse sentido que se mostram inócuas pela sua falta de organização e efetividade.

Mensuramos um aumento dos exames de Papanicolaou no País, sem sabermos se esse aumento não foi apenas de pessoas que se conscientizaram da importância de fazê-lo e o fazem até demais. De outro lado deixamos de intervir efetivamente para evitar que mulheres que nunca  fizeram a prevenção sejam alcançadas e incluídas nesses programas.

Ou, pior, das que o fazem e diante de um exame alterado, necessitando de medidas diagnósticas e terapêuticas mais especializadas, se perdem nas filas e nos intermináveis prazos da assistência médica. Não há resolutividade. Diagnostica-se  precocemente e trata-se tardiamente.

Incluidos aí vâo os resultados alterados que nunca foram conhecidos e notificados para cidadãs relapsas ao não verificarem os seus resultados (não voltando para verificar o seu exame), mas também vítimas da falta de "assistencialismo"  (que aqui sim, seria muito necessário!). Falta organização do sistema oficial de saúde pública ao assistir as cidadãs nesses aspectos da sua saúde.

É uma atitude omissa silenciosa no âmbito pessoal e político, incoerente  e bastante diferente do que vemos com a "presteza"  em outras "necessidades cidadãs", muitas vezes não tão "basicas" mas  objeto de ações governamentais bastante efetivas  para gerar dividendos políticos mais imediatos, como os verificados nas diversas "bolsas", que não as de uma "bolsa saúde" de mais longo prazo.

Uma questão de administração global organizada e responsável e não apenas populista de oferecer um recurso a fundo perdido e sem administração responsável e efetiva.

Inexcusável numa sociedade em que todos as cidadãs e cidadãos tem um CPF, conta bancária (em sua grande maioria), inscrição no INSS e milhares de outros órgãos e cadastros de funcionamento "suiço" e não tem um "prontuário" ou algo parecido da sua saúde pessoal, mesmo em seus requisitos mínimos.

Experimente qualquer cidadão, mais humilde que seja, atrasar ou se esquecer de pagar uma conta ou um imposto e na semana seguinte já estará sendo notificado e achado em qualquer canto do país...

No próximo post vamos tratar de detalhes desse evento que lhe possam interessar, mesmo que apenas  a título de informação e cultura geral a respeito desse assunto.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Biópsia de Próstata

A biópsia de próstata é um recurso/procedimento muito valioso para fazer o diagnóstico do câncer de próstata ou excluí-lo. Felizmente, muitas vezes o diagnóstico mais sério não é confirmado.

Não se pode, contudo, ficar na dúvida. Se a prevenção é entendida como uma medida efetiva, aceita pelo paciente que quer ter uma assistência adequada e se beneficiar de um diagnóstico precoce e obter uma terapia que seja efetiva e eficaz, a biópsia tem que ser encarada como um procedimento normal e sem delongas.

Como se indica uma biópsia de próstata?

Pelo toque retal da próstata suspeito em primeiro lugar.

Não se iluda com exames de PSA normais, pedidos pelo seu clínico ou cardiologista num "check up geral". Um PSA isolado é como um eletrocardiograma de repouso que diagnostica pouca coisa para o seu cardiologista. Geralmente nós, urologistas, não pedimos um eletrocardiograma de repouso isoladamente. Raras vezes como pré-operatório...

O critério de normalidade do PSA ("abaixo de 4 ng/mL) é um critério que vale apenas no papel.

Está  sujeito a interpretações não cartesianas (não é um número absoluto e/ou matemático), com um colesterol total ou um triglicérides (que por sinal tem interpretações bem elaboradas....);

Em segundo lugar porque o PSA tem um interpretação urológica elaborada.

Não se admite, em nenhum lugar do mundo um PSA isolado, sem um toque retal, por quem saiba fazer um toque retal para avaliar a próstata.

O exame tem  que ser interpretado de acordo com a idade, volume da próstata, antecedentes, fatores intercorrentes, relação entre o PSA livre e total, velocidade do PSA (o quanto o nível se eleva em determinado tempo) e muitas outras coisas que a Internet não pode banalizar ou, perigosamente, "resolver".

15% dos tumores prostáticos ocorrem sem alteração do PSA.

O exane do PSA (sigla em inglês de "antígeno prostático específico") é um exame de sangue que funciona como um marcador sanguíneo (detectável no sangue, por exame específico) que pode ajudar na avaliação prostática.

Sua interpretação não é matemática,como já dissemos. Além da correlação com o histórico, sintomas  e exame físico específico é preciso muito cuidado na interpretação do resultado do exame.

Nem sempre um PSA alto é câncer. Nem sempre um PSA dentro do normal é ausência dele.

Para começar:  fazer um PSA no dia seguinte a um exame retal na consulta, após uma relação na noite anterior ou madrugada da coleta do sangue é bobagem total.

Espere só um susto (ou um despesa desnecessária se você estiver pagando o exame...

Qualquer manipulação da próstata - toque, relação sexual, masturbação (ejaculação de qualquer tipo), exames urológicos, sondagem da uretra (passagem de sonda pelo canal do xixi), colonoscopia/ retossigmoidospia ou toque retal do proctologista), bicicleta ergomética, equitação (andar a cavalo), até mesmo motocicleta pode alterar o exame.  Todas essas atividade elevam o PSA e podem induzir um raciocínio falso sobre o significado dessa elevação.


Exemplo:
Recentemente recebemos um paciente que tinha tido uma retenção urinária aguda. A próstata estava aumentada, o canal tinha se estreitado e numa situação extrema (viagem prolongada, sem urinar, bexiga bem cheia) houve a retenção - o paciente não conseguiu esvaziar a bexiga.
Houve necessidade de colocar uma sonda  na bexiga no Pronto Socorro, que drenou a urina acumulada na bexiga. As vezes drenamos 1 até 2 litros de urina "presos" e que fazem a bexiga se dilatar e doer muito. Muito bem. O PSA desse paciente, dosado nessa situação, não vale nada. Vai estar sempre alto enquanto não se retirar esse cateter (sonda) do canal e da bexiga.  Esse paciente foi submetido a vários exames, entre eles uma dosagem de PSA que veio alta. O médico, desavisado, indicou uma biópsia de próstata, achando que poderia se trata de um câncer de próstata.
Pode até ser que haja um câncer mas esse PSA não é fidedigno. Não reflete uma situação normal. Desobstruir  esse paciente é mais importante do que a biópsia.

São detalhes que exemplificam a necessidade de uma assistência especializada e, sobretudo, individualizada, que você não vai encontrar aqui na Internet (por mais que nos esforcemos!)

Consulte seu urologista.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Pedra nos rins - Alimentação influencia?

Originalmente postado em 17 de Agosto de 2011

A litíase renal, nome científico da formação de cálculos (pedras) renais pode ter vários componentes que contribuem em conjunto para o aparecimento do problema.
Desde a genética, indiscutivelmente envolvida numa porcentagem de casos, até alterações específicas do metabolismo de alguns dos minerais com que o organismo trabalha (sempre o mais lembrado é o cálcio, mas o mais comum é o oxalato, que por sua vez pode ser o oxalato de cálcio).
No meio desses fatores, contudo, existem 3 elementos importantes e que não têm muito a ver com genética ou alterações sofisticadas de metabolismo, que teoricamente são fatores mais difíceis de alterar. São, ao contrário, fatores cuja alteração é possível com o comportamento do paciente que apresenta os cálculos: excesso de peso, uso excessivo de sal na alimentação e baixa ingestão de líquidos.
O excesso de peso, que pode ser combatido com dieta e atividade física, influencia diretamente a função renal. A obesidade tem uma grande chance de se acompanhar com excesso de ácido úrico, que é eliminado na urina e dependendo da sua concentração e do pH da urina pode, por si só, precipitar e formar cálculos.

O sal é outro vilão importantíssimo. Sua sobrecarga não apenas desequilibra todo o metabolismo dos minerais com que o rim trabalha, mas também afeta o sistema cárdio-vascular, notadamente a pressão arterial, diretamente relacionada com o controle renal.
O excesso de sal nos alimentos industrializados tem sido uma das maiores preocupações no primeiro mundo, através das autoridades de Saúde Pública desses países. Para que se tenha uma idéia, o sal tem sido considerado mais prejudicial do que o colesterol, gorduras trans, etc.
É um inimigo silencioso e invisível.

Para orientação geral os alimentos mais salgados, com os quais devemos ter cuidado e reduzir o seu consumo ou moderá-lo judiciosamente:

- Salgadinhos industrializados e bolachas salgadas (amendoim, batatinha, castanhas, massinhas, etc.);
- Embutidos (salsichas, lingüiças, frios em geral, queijos amarelos, etc.);
- Carnes industrializadas (defumados, carne-seca, carne de sol, bacalhau salgado, etc.);
- Enlatados (fiambre, feijoada, patês, molhos de tomate, legumes enlatados, etc.);
- Azeitonas, picles, palmito, aspargo, catch-up, molho de mostarda, shoyo, etc.

O consumo de leite e derivados, por sua vez, não deve ser abandonado por decisão exclusiva do paciente. Nem sempre isso resulta em benefício; muitas vezes em prejuízo nutricional desnecessário e inócuo pelo tipo de litíase. Consulte seu médico antes.
Mais efetivo do que isso é não abusar de suplementos alimentares, muito em moda nas academias hoje em dia, evitar doses excessivas de vitaminas (notadamente a vitamina C – ácido ascórbico) que podem alterar muito a composição urinária. Nessa mesma linha estão os “isotônicos” com grandes quantidade de minerais, nem sempre tão necessários na grande maioria da atividade física habitual das pessoas (em que efetivamente eles não seriam tão consumidos a ponto de justificar a sua “reposição”).

O oxalato que participa da maioria dos cálculos urinários pode ser controlado evitando alimentos em que ele é abundante: refrigerantes, frutos do mar e mariscos, chocolate, sementes oleaginosas (castanhas, nozes, amendoim, etc.), espinafre e tomate (em excesso).
Por fim o grande vilão dos cálculos urinários é a urina concentrada, que tem a missão de carregar uma quantidade enorme de metabolitos para fora do nosso organismo num meio líquido muito concentrado, sem volume suficiente para a sua diluição.
As pessoas sempre perguntam quanto tomar de líquidos: a resposta não é quanto tomar apenas em números absolutos. A quantidade é aquela necessária para manter todas as micções com urina clara ou de um amarelo muito suave e clarinho. Essa é a melhor medida para aferir se estamos nos hidratando corretamente.

HPV para Urologistas

Originalmente postado em 1 de Junho de 2011

Compartilhando uma grande honra.

No final de 2009 lançamos, o Dr. A. Rosenblatt e o autor desse blog um livro em inglês, editado pela Springer Verlag de Hamburgo, Alemanha, sobre o HPV em Urologia.

Foi o primeiro livro na nossa especialidade. O livro tem uma quantidade enorme de fotos e informações, da nossa experiência profissional nessa infecção no homem.

No exterior a obra tem feito muito sucesso e mereceu uma resenha/crítica por parte do Canadian Journal of Urology, a publicação mais importante no Canadá em Urologia.

Sentimo-nos, o Dr. Alberto e o autor desse blog (Dr.Homero Guidi), muito felizes pelos elogios recebidos do Canadian Journal of Urology, na sua sessão “Book Review” a respeito de nossa obra.

Veja a
página original e veja o resumo

Câncer de Próstata e PSA

Originalmente postado em 16 de Maio de 2011

O urologista e a Urologia frequentemente são cobrados pelo suposto caráter “arcaico” do toque retal para avaliação da próstata. As alegações invariavelmente começam com um preâmbulo que diz mais ou menos isso “ Ainda no século XXI, não foi inventado nada mais ou menos…..”

Pessoalmente procuramos explicar o quanto isso está longe da realidade pelos dados incomparáveis e insubstituíveis que o toque retal (ou DRE – digital rectal examination, no inglês) fornece e ajuda.

Os métodos se somam e não se excluem. Nenhum deles é infalível isoladamente. Eles se complementam.

Recentes estudos apontaram a necessidade de uma avaliação criteriosa do PSA , que não deve ser usado como um exame “abaixo ou acima do limite superior “ . Não há interpretação cartesiana e/ou simples, matemática, do exame.

A Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, tem um Centro de Conhecimento em Próstata, parte de um Centro maior de estudos e pesquisas nessa área.

Recentemente ela disponibilizou uma página com um QUIZ para o público leigo avaliar os seus conhecimentos sobre o PSA e o Câncer de Próstata.

Faça a sua avaliação e aprenda. As perguntas, após submetida cada uma das respostas do tipo Verdadeiro ou falso, tem, cada uma, um conteúdo educativo bem curto e objetivo.
Desenferruje o seu inglês (que por sinal está bem fácil) e participe.
Clique aqui . E boa sorte.

PSA e Câncer de Próstata - as mensagens de Washington DC - AUA Annual Meeting

Originalmente postado em 19 de Maio de 2011

Está terminando agora (quinta, 19 de maio de 2011), pela manhã a Reunião Anual da Associação Americana de Urologia (
AUA - American Urological Associãtion). O congresso ocorreu em Washington e é um dos mais importantes na especialidade.

Neste e nos próximos posts, vamos compartilhar com os leitores alguns assuntos que foram destaque nesse congresso, de interesse direto do leigo, em linguagem bastante leve.

Começamos com o que foi dito sobre o uso do PSA e o rastreamento ou prevenção do Câncer de Próstata.

O conferencista foi um expert, já de muitos anos, no assunto, considerado um mestre mundial em próstata, Dr. William Catalona.

A conferência do Dr. Catalona chamou a atenção sobre um estudo sueco, de vários anos de duração e acompanhamento de muitos pacientes, mostrando que a prevençãodo câncer de próstata diminuiu em 44% a mortalidade por esse tipo de câncer e reduziu em 41% o risco de se diagnosticar a doença numa fase já avançada, quando o tratamento não alcança cura e muitas vezes é apenas paliativo. Esse estudo foi publicado no
New England Journal of Medicine

Toque retal e PSA são preconizados aos 40 anos, dependendo dos fatores de risco que são avaliados em cada paciente vai se individualizar o tipo de acompanhamento indicado para quem tem mais ou menos risco de apresentar a doença.

Uma outra conferência importante foi do Dr. Schroder que trouxe os dados mais recentes de um estudo europeu cooperativo, entre vários países daquele continente. Nesse estudo o conferencista mostrou que com 12 anos de acompanhamento a diminuição dos casos que apresentam metástases (quando o câncer sai do seu lugar original e células cancerosas vão para os ossos, cérebro, etc.) foi de 31% . Na Europa a estatistica desse estudo que dura mais de uma década mostra que o benefício de se evitar um caso de paciente com câncer metastático (disseminado) é alcançado quando se faz a prevenção em cada 338 homens , que por sua vez demandam (são necessários) 16 tratamentos.

O estudo europeu ainda mostra que os casos que são diagnosticados na primeira vez em que a pessoa faz o exame preventivo são os que tem maior impacto (maior benefício) pelo tratamento precoce.

Esse estudo também aponta uma diretriz muito importante para não se superdiagnosticar casos supostos de câncer de próstata: nunca se limitar a avaliação apenas no exame de sangue, o PSA, mas uma avaliação completa com exame de toque e outros de rotina.

Dr Schroder acenou que novos marcadores e exames estão ainda em estudo nos laboratórios de pesquisa e ainda tem aplicação e validação na clínica do dia-a-dia muito limitada, senão quase inexistente ainda.

Vacina contra HPV no homem

Originalmente postado em 24 de Maio de 2011

A Anvisa, através de publicação no Diário Oficial da União, liberou ontem, dia 23 de maio de 2011, o uso da Vacina Quadrivalente contra o HPV no homem.
A liberação ocorre depois que vários países já fazem o mesmo, inclusive em alguns com a vacina fazendo parte do rol de vacinas do calendário de vacinação oficial.
A liberação recomenda a vacina para meninos e rapazes entre os 9 e 26 anos.
O seu uso já vinha sendo feito no Brasil mediante receita específica, face à comprovação científica em diversos trabalhos na literatura médica apontando o benefício do uso no sexo masculino.

O HPV no homem pode produzir infecção inaparente, detectável apenas por exames, e que geralmente após um determinado tempo cura-se espontâneamente, persiste ou pode evoluir para o aparecimento de lesões verrucosas, conhecidas como Condiloma Acuminado.
A vacina tem vantagens também em idades superiores e em quem eventualmente já teve infecção por um determinado tipo de HPV. Isso também já está publicado na literatura médica, em diversos trabalhos. Apesar de concebida como uma vacina profilática há beneficios na diminuição das recorrências de lesões, uma vez que muitas vezes ocorrem novas infecções virais, até mesmo por tipos diferentes do que os originais.

Na bancada dos laboratórios de pesquisa já se trabalha com uma segunda geração de vacinas voltadas contra nove tipos de HPV e também correm estudos, notadamente na Holanda, para a fabricação de vacinas terapêuticas.
Tanto a vacina contra os nove tipos e a terapêutica devem demorar ainda para chegar às farmácias.

I Encontro Paulista de Especialistas em HPV

Originalmente postado em 11 de Abril de 2011

No dia 9 de abril de 2011 um grupo de alguns especialistas em HPV de todo o Brasil se reuniu no Grand Hyatt, em São Paulo, para um reunião de atualização nas mais diferentes áreas envolvendo a infecção e doença causadas pelos Papilomavírus.

Estivemos participando como debatedor de um dos dois blocos de apresentações muito interessantes sobre os avanços dos conhecimentos imunológicos da infecção viral e métodos diagnósticos, além de novidades no tratamento.

A imunologia vem fazendo progressos no entendimento do comportamento desses vírus que é bastante peculiar em relação aos demais, sobretudo pelo seu comportamento em relação à sua infectividade e mesmo ao poder de transformação das células epiteliais em alguns tipos de câncer, notadamente do colo do útero, região perianal e trato respiratório (sobretudo o alto).

O DNA-vírus, embora pequeno, tem em suas 8 proteínas de expressão precoce um poder muito grande de driblar alguns mecanismos de defesa de nosso organismo , muitos relacionados com as células especializadas em defender o organismo (células de Langhans que se diferenciam em outras células mais especializadas e específicas contra os agentes agressores, linfócitos T killer, linfócitos reguladores, entre outros). Assim além das proteínas E6/E7 que podem determinar a agressividade do tipo de HPV incorporado às células, também a E5 desempenha um papel nesses fatores que confundem o nosso sistema imune e a própria resposta inflamatória que pode paradoxalmente trabalhar contra o nosso organismo.
São conhecimentos de ciência básica que precisam ser ampliados largamente para que possamos ter aplicações clínicas e práticas para uso nos consultórios e clínicas.

Outro assunto importante, pelo qual passa o HPV no Brasil é a detecção do câncer de colo do útero, sua principal complicação nas mulheres.

No Brasil, nas regiões sudeste e sul o câncer de colo uterino é o segundo câncer mais comum no sexo feminino. O primeiro é o câncer de mama. Mas a mortalidade é igual para ambos, em torno de 13%. Em algumas regiões do país, contudo, o câncer de colo do útero vem em primeiro lugar.

Nesse panorama entram alguns fatores de saúde pública importantes, sendo o principal deles o acesso e a procura por exames preventivos, hoje principalmente baseados na citologia oncótica ou como conhecido, o famoso Exame de Papanicolaou (o médico que o descreveu e aperfeiçou).

Acesso dizemos em relação à disponibilidade; procura dizemos em relação ao ato espontâneo de, em havendo onde fazer o teste, as mulheres procurarem esses locais para a sua realização regularmente.

Com muita propriedade o Prof. Dr. Luiz Carlos Zeferino, da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, chamou a atenção que não apenas a falta de cobertura do SUS nesse aspecto deve ser reconhecida, mas, principalmente, a falta de organização em termos de informação e registro de cada um dos brasileiros no sistema de saúde, o que, definitivamente, não existe.

Fez um paralelo muito interessante e inteligente na capacidade da estrutura social e governamental reconhecer e atuar através da Receita Federal ou mesmo do sistema econômico e bancário sobre todo cidadão que tem conta em banco ou apenas contas a pagar.

Ali o cidadão existe, tem vários números e tem um registro draconiano de suas atividades, invejável até a George Orwell.

Na Saúde isso não existe. Muitas vezes se exibem números fabulosos de tantos e tantos exames de Papanicolaou realizados no país, mas o que se vê na verdade é que, muitas vezes, quem já fez o exame, tem uma grande chance de estar fazendo muitos exames, até mais do que o recomendado, e outras mulheres por sua vez (que simplesmente “não existem no sistema de saúde”) nunca fizeram um exame na vida.

É a mágica da estatística : você come dois frangos e eu nenhum; pela estatística ambos comemos um frango cada um….

A solução disso passa por um sistema de informação organizado.

Um número único de seguro social como faz os Estados Unidos ou, como lembrou a Coordenadora do evento, Dra. Maricy Tacla, um número único do cidadão sueco, sem complicações, que é sempre a sua data de nascimento e um número de ordem de registro civil do seu nascimento naquele dia (exemplo alguém que tenha sido o primeiro cidadão registrado no dia 10 de abril de 2011 receberia para toda a sua vida o número 10042011000001, para registro no sistema de saúde, carteira de motorista, imposto de renda, previdência, carteira de identidade, passaporte, etc. ).

Mais que isso com base nesse registro o nosso sistema de saúde deveria saber quem fez o Papanicolaou, quem está sem fazer ou nunca fez e notificar. Isso serviria para outras coisas importantes como vacinação, outras prevenções, etc. Do contrário, pelo atacado e à granel o que se observa é uma saúde imperfeita, com gastos não racionais para os objetivos finais.

Foi lembrada a experiência positiva nesse aspecto dos agentes de saúde comunitários e do próprio Programa de Saúde da Família em que a população se divide em pequenos grupos, comunidades ou áreas geográficas e o agente e as unidades podem identificar esses desvios relacionados com quem recebe alguma atenção e quem não recebe (e mesmo não se interessa em recebe-la, mas possa ser notificado sobre tal…).

Nas próximas postagens vamos abordar outros temas que forma objeto do referido evento, como quem transmite com mais facilidade o HPV (homem ou mulher), vacinas, meios diagnósticos novos, tratamentos novos e outros fatos interessantes.

Fonte de informação

Originalmente postado em 11 de Abril de 2011

Você pode utilizar nossos textos. Cite a fonte!.Contribua para aumentar a ética e a civilidade do brasileiro.

As informações aqui contidas não substituem, em absoluto, o método tradicional de diagnosticar doenças, confirmá-las e tratá-las.

A Internet não é médico.
Nessa época de globalização a informação é disseminada e acessível, mas a experiência ainda é um diferencial insubstituível. A chave é como e onde acessar, analisar e utilizar a informação.
Isso sem contar a necessidade da habilidade do contato no exame físico e demais procedimentos médicos individualizados, que vão muito além do que a Internet pode fornecer.

Disfunção erétil e hipertrofia prostática sintomática - tratamento único?

Originalmente postado em 27 de Abril de 2011

Várias evidência científicas têm apontado para um provável sinergismo no tratamento de dois problemas urológicos muito comuns, a disfunção erétil e os sintomas irritativos do trato urinário baixo, geralmente causados, em grande parte, pelo crescimento benigno da próstata.

Os inibidores da PDE, uma enzina que faz reverter a vasodilatação do pênis durante a ereção, fazendo com que a mesma acabe, parecem ter um efeito benéfico nos sintomas irritativos do trato urinário baixo.

No mecanismo de ação envolvido parece estar o aumento do fluxo sanguíneo para os dois locais, causado e prolongado pelos medicamentos até aqui utilizados para tratar a disfunção erétil , ou melhorar os “motores mais cansados”. Como aquela propaganda de um determinado óleo, parecido com Pardal….

O fato é que um dos grande fabricantes dos medicamentos citados lançou, já há algum tempo nos Estados Unidos, e agora também no Brasil, uma versão de uso diário, com dose bem menor, com o intuito de atingir dois objetivos :

Primeiro - não ficar refém dos 40 minutos do “será que é agora?” , “será que é hoje?”, “será que na hora H, não vai ter aquela dor de cabeça?” Teoricamente e pelas constatações iniciais, obtém-se um stand by permantente. Verdade? A conferir…

Segundo - com o uso contínuo, os sintomas irritativos podem melhorar bastante.

Também a conferir.

Veja artigo no nosso site, um pouco mais extenso e educativo,
www.drhomeroguidi.com.br

Vacina do HPV para Homens - novos dados, novas publicações

Originalmente postado em 2 de Fevereiro de 2011

A edição de 3/2/2011 do New England Journal of Medicine, o mais importante e prestigioso canal de publicação médica traz em sua edição mais recente um artigo do grupo HIM (Human Papillomavirus in Men), capitaneado pela Dra. Giuliano e colaboradores em 18 paises pelo mundo as conclusões sobre os benefícios da vacina quadrivalente contra o HPV em homens jovens em relação as doenças causadas pelos virus do HPV.

O artigo mereceu um editorial mostrando as vantagens da vacinação da população masculina jovem.
Um editorial, nessa publicação, ressalta a importância e relevância do assunto para a saúde pública e a informação médica.

Em seguida, nesse espaço, num post seguinte, vamos comentar os dois artigos, publicados agora a noite, aqui no Brasil.

HPV no homem - novidades recentes

Originalmente postasdo em 11 de Janeiro de 2011

Major Article
“The HPV in Men (HIM) Study”*

Prevalência por Idade e Fatores de Risco para o HPV Anal entre Homens que fazem sexo com Mulheres e Homens que fazem sexo com Homens.

Artigo principal do Journal of Infectious Diseases de 1º. janeiro de 2011
JID 203:49-57, 2011

* O HIM é um estudo multicêntrico coordenado pelo Instituto Lee Moffitt de Tampa, na Flórida, USA, envolvendo o Brasil e México. A pesquisadora principal é a Dra. Anna R. Giuliano. Esse projeto é bastante abrangente e procura esclarecer todos os aspectos envolvendo o HPV no homem. Nesse estudo, relatado abaixo, foram verificados os fatores de risco e prevalência do HPV anal nos homens que não são portadores de HIV e, dentro desse grupo entre aqueles que têm relações com mulheres e os que têm relações com homens.

Adendo - Na literatura médica atualmente se utiliza a denominação MSW (men who have sex with women/ homens que têm relações com mulheres) e MSM (men who have sex with men/ homens que têm relações com homens).

Resumo do estudo - O objetivo do estudo foi estudar melhor a infecção pelo HPV do canal anal no homem HIV negativo, uma vez que existe uma incidência crescente de câncer anal entre os homens (e também mulheres).

No estudo, realizado concomitantemente nos Estados Unidos (Tampa, FL); México (Cuernavaca) e Brasil ( São Paulo) , foram examinadas células esfoliadas do canal anal de mais de 1.400 homens envolvidos no estudo e com o devido consentimento, além de um questionário padrão de mais de 80 itens envolvendo aspectos de comportamento sexual, número de parceiras, etc. A idade variou entre 18 e 70 anos. Entre os homens que se recusaram a participar dessa etapa do estudo (já participando em outros aspectos do projeto – que tem um total de 2.049 homens em acompanhamento) verificou-se uma proporção maior de pacientes solteiros, mais jovens, entre 18 e 30 anos e com atividade sexual apenas com mulheres. Nos Estados Unidos verificou-se ainda que entre os que se recusaram a participar o nível de instrução era menor (medido em escolaridade menor ou igual a 12 anos de instrução recebida).

Os resultados encontrados podem ser resumidos da seguinte maneira:

1- A prevalência de HPV de qualquer tipo não foi diferente nas três cidades.

2- A prevalência de HPV no canal anal foi de 12,2% entre os homens que fazem sexo com mulheres e 47,2% entre os que fazem sexo com homens.

3- Entre os homens que fazem sexo com mulheres foram detectados como fatores independentes associados à positividade do HPV anal os seguintes pontos: ter mais do que 10 parceiras desde o início das atividades sexuais; relacionamento sexual primário com duração menor que 1 ano e diagnóstico de hepatite B.

4- Entre os homens que fazem sexo com homens os fatores de risco associado à positividade do HPV do canal anal foram: ser mais jovem ( quanto mais jovem, maior o risco); 2 ou mais parceiros nos últimos 3 meses; nunca usar condom nas relações nos últimos seis meses. Note-se ainda que entre esses homens a incidência de HPV anal foi 3 vezes maior naqueles que praticavam coito anal receptivo comparativamente aos que se negavam a esse tipo de contato. O hábito de fumar também foi um fator de risco significativo entre os homens que fazem sexo com homens.

Além desses resultados é importante ressaltar que a prevalência do HPV 16 foi o dobro nos MSM do que nos MSW (o HPV 16 é um tipo sabidamente oncogênico, que expressa um potencial de alto risco idêntico na região anal, tanto quanto o que é visto no colo do útero). Também a infecção por vários tipos de HPV foi vista 10 vezes mais nos MSM do que nos MSW.

As conclusões dos autores apontam que o HPV do canal anal está associado em qualquer homem, independente do tipo de comportamento sexual, ao número de parceiros(as), sendo mediada ainda pela idade, duração da relação sexual e uso do preservativo

1° de dezembro - Dia Mundial de Prevenção da AIDS

Originalmente postado em 1 de Dezembro de 2010

Hoje comemora-se o dia mundial da prevenção da AIDS.
AIDS é a sígla em inglês de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Acquired immune deficiency syndrome or acquired immunodeficiency syndrome), uma doença causada pela infecção pelo vírus da imunodeficiência humana ou HIV, sua sigla em inglês (human immunodeficiency virus) .

Doença chamamos a um conjunto de manifestações como infecções, doenças, tumores e outros problemas de saúde que aparecem no paciente em função da falha das defesas imunitárias que foram minadas pela ação do vírus.

Antes de chegar à doença a pessoa é apenas infectada ou portadora do vírus HIV. Nessa fase geralmente a sua saúde é normal. A ação dos antivirais é eficaz e a quantidade de HIV costuma se reduzir bastante.

Bastante, mas não totalmente. O organismo humano tem alguns “santuários” com difícil ação de qualquer medicamento, além de peculiaridades biológicas do próprio vírus que desafiam até hoje a ciência humana, que não consegue desenvolver uma vacina ou um tratamento definitivo.

Nessa situação - doença adquirida por contágio, viral, sem vacina e sem tratamento 100% eficaz - a melhor arma é a prevenção.Não se contagiar.
O contágio ocorre por relações sexuais desprotegidas. O vírus está presente na secreção vaginal, no sêmen, no sangue e outros fluídos.
O atrito das mucosas geralmente mistura várias dessas secreções e fluídos corporais.

Outros meios de contágio incluem transfusões sanguíneas (o que passou a ser menos provável por medidas enérgicas disciplinando os bancos de sangue e a hemoterapia, hoje totalmente sob o controle (eficiente, aplauda-se) do setor governamental. Mas não podemos esquecer o contágio com feridos, acidentes, acidentes profissionais, cirurgias, e outras situações em que podemos entrar em contato com o sangue de alguém contaminado pelo HIV.

O uso de drogas injetáveis, mais especificamente o compartilhamento de instrumentos para a injeção da droga, também constitui um meio altamente perigoso de contaminação. Drogas injetáveis são preparadas e injetadas com seringas e agulhas muitas vezes reutilizadas e/ou compartilhadas durante a utilização da substância preparada, entre várias pessoas. Esse uso comum contamina com sangue positivo essas agulhas e seringas que facilmente podem também servir de meio de “compartilhar” o HIV…

Alguns tipos de relações sexuais podem ser mais traumáticos para as mucosas de ambas as pessoas que se relacionam. Isso adiciona o sangue às secreções existentes no pênis, vagina e ânus.

Sexo seguro e não compartilhar seringas e agulhas são fatores decisivos para prevenir a contaminação pelo HIV.

Sexo seguro é igual preservativo, seletividade de parceiras(os), evitar promiscuidade e comportamentos perigosos. O maior exemplo é a combinação explosiva entre sexo, álcool e drogas. Nessa situação há a perda do discernimento, responsabilidade e procedimentos básicos de comportamento seguro. Esse é um ponto muito importante para todos refletirem pessoalmente…

Aids e HIV - necessidade de informação e educação contínuas.

Originalmente postado em 13 de Outubro de 2010

Terminou no dia 10 de outubro de 2010 o XV Congresso Brasileiro de Genitoscopia e Patologia do Trato Genital Inferior. Realizado em Porto Alegre, esse congresso reuniu muitos especialistas em ginecologia, urologia, infectologia e outras especialidades envolvidas em HPV, DST, câncer de colo uterino e outras doenças relacionadas.

Embora não seja um congresso específico de DST /Aids, o binômio está sempre na ordem do dia. As doenças sexualmente transmissíveis (sigla DST) são indissociáveis e hoje sabemos que muitas facilitam a aquisição de outras e vice-versa.

O que se vê em relação ao HIV (vírus da imunodeficiência humana) cuja infecção evolui para a doença AIDS (ou SIDA, síndrome da imunodeficiência adquirida) são fatos inquietantes.
A cura por uma vacina é um luz no final de um túnel bem longo ainda, infelizmente.

E o comportamento na população vem sofrendo uma alteração. Não se fala mais em grupos de risco. As mulheres passaram a constitui um grupo de infectados muito grande e em primeiro lugar. É a chamada “feminização” da doença. Pior que isso é que voltaram a crescer os índices de contaminação entre as faixas mais jovens da população. Isso decorre do enfraquecimento das campanhas de conscientização e informação das práticas de sexo seguro. As gerações mais novas não têm sido atingidas por essa informação, pela conscientização e ensino do sexo seguro. Gerações mais novas são dadas psicologicamente ao gosto pela aventura, ao se comportar perigosamente. Faz parte de um mecanismo psicológico da evolução da adolescência para o mundo adulto. Mas isso pode ser mudado, como já se fez com algumas gerações que precederam a atual. A palavra chave é a informação.
Precisa haver um equilíbrio entre as ações de saúde e prevenção. Entre o remédio e a educação em saúde. Entre assistir quem se contaminou e está doente e entre ensinar quem está descobrindo a sexualidade agora. E isso não se faz apenas distribuindo camisinha e outras coisas.

Não há espaço para outro tipo de filosofia.

Superbactérias - temas recorrentes que assustam a população.

Originalmente postado em 27 de Outubro de 2010

Como tornar um fato uma manchete?Como realçar um assunto, “dourar a pílula” ou mesmo tornar uma figura inexpressiva uma “personalidade” ou até um candidato “vendável” à opinião pública?

As técnicas são todas conhecidas do leitor inteligente. Marketing, “tratamento da notícia”, um exagero aqui, uma fonte que gostaria de aparecer um pouco mais (ou desfrutar de seus “15 minutos” de glória…) Por aí vão os truques de “esquentar” um assunto.

Vira e mexe aparecem as superbactérias na mídia.

Não existe uma superbactéria única, com foto, RG, endereço e CPF.

A microbiologia é um mundo em constante transformação. A resistência bacteriana aos agentes antibióticos é coisa que nasceu quando já se inventou a penicilina.

Decorre do abuso do uso desses agentes. Decorre dos mecanismos biológicos de sobrevivência das próprias bactérias, mais precisamente de suas capacidades bioquímicas e recursos biológicos.

Os antibióticos são separados por classes. Essas classes são definidas pela origem, como por exemplo as penicilinas, as cefalosporinas, os aminoglicosídeos. São agentes de uma mesma família que têm em comum uma origem quimica semelhante fundamental, um processo de obtenção, etc.

Os agentes vão sendo desdobrados em compostos mais avançados, com melhoras na sua composição química e isso é voltado à capacidade de cada um em atacar determinado ponto do ciclo biológico da bactéria. Assim temos antibióticos que impedem que a bactéria faça a sua cápsula ( seria como um agente que impedisse um ser humano ou um animal de formar a sua pele e, portanto, morrer em função da falta da proteção conferida pela mesma). Outros agentes interferem na síntese de determinadas proteínas que são fundamentais ao desenvolvimento da propria bactéria e a multiplicação desses micróbios fica comprometida e bloqueada e assim por diante.

Muitos desses mecanimos envolvem o bloqueio da síntese de determinadas enzimas, proteínas, etc.

Uma dita “superbactéria” é uma cepa de determinadas bactérias, as vezes vários gêneros delas, que incorporam um desenvolvimento, uma capacidade de inativar uma ação, bloquear uma etapa do antibiótico e assim por diante.

O episódio mais recente refere-se a bactérias que tem a capacidade de sintetizar uma enzima chamada KPC.

Essa enzima é responsável pelo mecanismo de resistência de um grupo de bactérias a uma determinada classe de antimicrobianos muito fortes e eficazes, de uso hospitalar, os Carbapenens (Ertapenem, Imipenem e Meropenem:).

A primeira bactéria que desenvolveu essa enzima foi a Klebsiella pneumoniae, que deu origem a sigla KPC.

Apesar de sua presença ser mais comum nessa espécie que originou o nome, a carbamapenase pode ser identificado em outras entero-bactérias (bactérias eminetemente da flora intestinal).

O primeiro relato da KPC foi registrado nos Estados Unidos no ano de 2001. No Brasil o primeiro relato foi feito em 2003, sendo a primeira vez que se registrou isso na América Latina.

O aparecimento dessas bactérias especiais só pode mesmo ocorrer em ambiente hospitalar pois é nesse ambiente que se tratam as graves infecções, em pacientes graves, com múltiplas doenças, imunossuprimidos e debilitados. É no ambiente hospitalar onde existe o confronto de bactérias agindo e se replicando e sendo combatidas com antibióticos suficientemente fortes e eficazes para a tentativa de vencer a parada. Ingenuidade seria pensar que elas apareceriam em outros locais ou na comunidade onde não se usam esses agentes, na sua grande maioria objeto de administração por via endovenosa, com bomba de infusão, etc. e preço extremamente elevado.

O fato torna-se inevitável e constitui uma realidade mundial, independente de todas as precauções das melhores instituições hospitalares do mundo todo. É uma questão de seleção natural dos seres vivos (o que naturalmente inclui as bactérias).

Torna-se, pois, um raciocínio ignorante tomar o aparecimento dessas “superbactérias” como um fato derivado de desleixo ou “exageros da Medicina”. Não há definição maior do que uma “batalha de vida ou morte” o que se tenta fazer por milhares e milhares de pacientes nos hospitais do mundo todo, todos os dias, trezentos e sessenta e cinco dias no ano. Sobretudo e com afinco naqueles que têm reais chances de uma recuperação total.

A prevenção ou procedimentos para diminuir ou conter esses eventos microbiológicos são simples e estão baseados em protocolos complexos de cuidados e procedimentos na manipulação desses pacientes, mas também se estendem a atitudes bastante simples como o fato de lavar as mãos e outros cuidados.

O ato de lavar as mãos deve se estender aos acompanhantes e visitantes de pacientes internados.

E uma coisa bastante importante a ser lembrada que todos podemos fazer é ter critério no uso de antibióticos mais comuns e de uso por via oral, no ambiente comunitário.

Isso não vai alterar muito as “superbactérias” que vão continuar existindo no front hospitalar, mas devem começar a fazer parte de uma cultura já existente no Exterior onde Farmácia não é supermercado e remédio não é um ítem para “self service”.

Ano Internacional de Juventude 2010

Originalmente postado em 13 de Agosto de 2010

A ONU, através da OMS (Organização Mundial de Saúde), acaba de lançar hoje, 12 de agosto de 2010, as 8 h de Brasília, o início do Ano da Juventude.

Mais uma data, mais um evento vazio?

Depende da proatividade com que mantemos as nossas mentes e ações.
Pelo menos uma reflexão o tema merece.

De acordo com os dados disponíveis nos diversos organismos da ONU/OMS, mais de 1,8 milhões de pessoas jovens morrem a cada ano.

Um número infinitamente maior de jovens se engaja em comportamentos que vão turvar e arruinar não apenas a sua saúde atual, mas o que deveriam ter de vida saudável no futuro, nos anos, que se espera possam desfrutar, se não morrerem antes.

“O Ano Internacional da Juventude pontua firmemente que a saúde é um direito humano e é parte integral do desenvolvimento do jovem”.

A reflexão se justifica por alguns dados que são desalentadores e refletem a nossa situação mundial atual:
* Em torno de 16 milhões de meninas entre 15 e 19 anos dão à luz a cada ano

* Mais do 1,8 milhões de jovens entre 15 e 24 anos morrem a cada ano, principalmente de causas totalmente preveníveis.

* Aproximadamente 565 jovens entre 10 e 29 anos morrem a cada dia por violência interpessoal.

* Acidentes de trânsito matam mais de 1.000 jovens a cada dia (estatística confirmada e real)

* Jovens entre 15 e 24 anos responderam por 40% de todos os novos casos de infecção pelo HIV entre adultos, durante o ano de 2008.

* Estima-se que 150 milhões de jovens usem o cigarro

* Em algum dos seus anos de juventude, em torno de 20% dos jovens irão experimentar um problema de saúde mental, sendo os mais comuns a depressão e a ansiedade.

Não há estatísticas globais de drogas lícitas e ilícitas. Não há o que comemorar!

Quando olhamos para frente, já vendo os adultos, vamos verificar que dois terços das mortes prematuras nesses adultos e um terço do total das suas doenças e consequências ( o “fardo das doenças” - no inglês disease burden) se devem a condições e comportamentos que se iniciaram na juventude.

Principais fatores: cigarro, álcool, drogas, sexo inseguro, estilo de vida e exposição à violência.

Durante a próxima semana, nesse espaço, vamos discutir um pouco desses aspectos em novos posts.

Doenças raras, pesquisa médica e cidadania.

Originalmente postado em 10 de Agosto de 2010

Mahatma Gandhi escreveu que se todos os livros que amparam os fundamentos do Ocidente se perdessem e sobrasse apenas o Sermão da Montanha, um ícone do Cristianismo, ainda assim o Ocidente poderia se recompor. Literalmente não foram essas as suas palavras, mas o sentido sim.

Em tempos de eleição de todos os lados somos bombardeados com algumas noções que orientam o nosso sistema de governo, nosso Estado e a Nação.

Cidadania tem sido um dos valores mais valorizados e utilizados no chamamento das pessoas, para os assuntos que vêm à baila nessas ocasiões, nos últimos anos.

Dentro da cidadania cabe a pressão social por reclamos justos que interessam diretamente o cidadão e a coletividade. É como uma catarse pública das necessidades e anseios de cada um e da coletividade. Justo é reivindicar aquilo de que necessitamos e carecemos.

A identificação dessas necessidades e carências é cristalina a cada povo, cada comunidade e, até mesmo, a cada grupo organizado. O mesmo não pode se dizer quando deitamos o olhar nos interesses dos outros ou naqueles de outras comunidades e grupos.

A beleza em se identificar e pressionar não apenas pelo que precisamos e queremos, mas do que precisam e querem outras pessoas, grupos e comunidades, é inquestionável e se insere perfeitamente no espírito e nos fundamentos do curto texto do Sermão da Montanha, exaltado por Gandhi.

Pena que isso, no conjunto das nações, não seja muitas vezes identificado.

Parte, porque a pressão popular nem sempre exibe maturidade e independência e muitas vezes olha apenas o seu umbigo. No caso da manipulação abundam os exemplos de espertalhões, pessoas e instituições orquestrando a “pressão popular”. Mascaram ou descaradamente envolvem interesses pessoais, escusos ou menos nobres. Interesses de poder e domínio. Esses exemplos, infelizmente, todos nós, com mais de dois neurônios ativos, sabemos nomear, de súbito, meia dúzia de exemplos próximos, no país e no exterior.

Muitos, contudo, são inocentes úteis, massa de manobra moldável por poucos trocados ou fraca filosofia e ideologia de poucos neurônios, engrossando um movimento de milhões de marionetes, ansiosas por satisfazer interesse do dia e do agora.

Outros são tão difusos, que mesmo aqueles por quem se clama, sequer percebem o clamor.
Na Medicina nos últimos anos algo nessa exata medida vem acontecendo.

Refere-se ao clamor da comunidade científica e comunidade comum dos países de primeiro mundo em relação ao baixo volume de recursos, interesse e disposição de se pesquisar as doenças mais raras e/ou tropicais mais incidentes no terceiro mundo. No mundo pobre, digamos com todas as letras, sem subterfúgios semânticos.

É discussão longa levantada em revistas como o New England Journal of Medicine, através de várias dezenas de artigos e cartas, bem como em outras revistas de igual ou menor quilate, ganhando também várias instâncias da sociedade organizada de muitos desses países, incluindo audiências no poder legislativo de vários deles.

É responsabilidade social sendo cobrada de suas empresas, não apenas do que interessa ao quintal da casa de cada um, mas num olhar mas longe.

É prova inequívoca de que existe uma distinção entre sociedade e suas organizações não-econômicas de um lado e as empresas, representando a atividade econômica e o lucro de outro.

Esse é um daqueles fatos que devem ser chamados à atenção para as mentes tupiniquins extremamente limitadas e estreitas em sua visão. Aquelas que julgam todos os que não são brasileiros, ou seus “iguais”, como “capitalistas selvagens”, de alto a baixo.

Para essas mentes deficientes, com certeza, esse fato todo deve ter escapado ao conhecimento, como devem ter escapado vários outros exemplos da mesma natureza.

Para essas mentes, apenas fisicamente no século XXI, resta a limitação de seu mundinho. Restam os conceitos até,
pasmem, da “burguesia”. Embora, com grande probabilidade, noventa e nove vírgula nove por cento dos donos dessas mentes não saiba sequer o que foi um “burgo”…

O fato é que os reclamos pelo descaso científico de institutos governamentais e privados, empresas farmacêuticas e demais entidades envolvidas com pesquisa, começa a frutificar.

Entre outras ações concretas, já existem redes sociais como o Collaborative Drug Discovery em que a filosofia do “código aberto” está lá, disponível para todos os que se dispuserem investigar e pesquisar. Esse compartilhamento de conhecimento evita o “partir do zero” e propicia complementações de valor inestimável no mundo da pesquisa.

Gigantes como a empresa farmacêutica Glaxo-Smith-Kline estão aderindo a esse tipo de código. No caso específico da GSK, disponibilizando todas as fórmulas e informações de nada mais do que 13.500 compostos químicos de uso potencial na inibição do parasita responsável pela malária.

Malária, uma doença que, “por acaso”, temos aos montes aqui no Brasil, na Venezuela, em Cuba e em outros “recantos” envolvidos em “antagonismos ideológicos ressuscitados” por parte de algumas pessoas que parecem não simplesmente não ter um calendário em casa. Livro de História, então, nem pensar!!!

A propósito a citação de Gandhi :
“…se toda a literatura espiritual da Humanidade perecesse, e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido”

Violência e juventude

Originalmente postado em 17 de Agosto de 2010

As estatísticas da OMS são gerais e podem estar subestimadas em funçãos de vários conflitos bélicos atívos no mundo nos dias de hoje, o que faz aumentar o potencial letal dessas vítimas.
Em nosso país também devemos considerar o subregistro da violência urbana, sobretudo aquelas que não são fatais e escapam às estatísticas policiais e hospitalares.

Mas mesmo com essas nuances os números não deixam de ser perturbadores: a violência na juventude (ou contra os jovens) é uma das causas principais de morte entre os jovens, particularmente os jovens do sexo masculino. Estima-se que 565 jovens entre os 10 e 29 anos morra a cada dia em função de violência interpessoal . Para cada uma dessas mortes há uma estimativa de que hajam até 40 outros jovens que sofrem violência resultando em situações que necessitam de cuidados hospitalares diariamente.

Quais são os “remédios” e “vacinas profiláticas” para esse problema de saúde pública?
O assunto pode parecer complexo mas não é tanto.

Começa pela necessidade de disposição do poder público em querer atuar nesse sentido.

Passa por leis mais rígidas e efetivamente cumpridas, sobretudo na sua fiscalização, no que tange à restrição do comércio e acesso a armas de fogo, redução do acesso ao álcool e drogas. Passa também pela educação, fortalecimento de instrumentos sociais de convívio como acesso ao esporte, atividades sociais e de socialização, fortalecimento das relações familiares e da própria família.

Nesse particular é preciso mudar a visão tacanha dos governantes a respeito do acesso ao esporte, muitas vezes limitada à construção de campos de futebol ou piscinas desprovidas de educadores físicos e treinadores. Esportes “burgueses”, nessa mesma visão tacanha e deplorável podem e devem muito bem estar a disposição de jovens desprovidos e sem acesso à pluralidade de sonhos e desejos tornados comunitários e banais a todas as “classes” em países que já deixaram os primórdios do século passado e para cujas sociedades alguns conceitos como “burguesia”, “classes sociais” e outras “pérolas” do passado são apenas conhecimentos histórios devidamene socializados. Certamente esportes um pouquinho diferentes do futebol podem envolver e resgatar jovens com incontáveis talentos ocultos e significar a diferença fundamental na vida dessas pessoas em formação. Certamente não falta ao Brasil uma plêiade de professores e técnicos em Educação Física que veriam suas profissões e carreiras merecidamente valorizadas.

No escopo das relações instituicionais e constitucionais falta também, em muitos países, um sistema correcional que desperte um mínimo de respeito e temor das consequências em jovens que já sabem muito bem raciocinar e responder por seus atos. Países com séculos a mais de desenvolvimento e vivência, sobretudo com democracias mais antigas do que muitos desses países, frouxos em seus sistemas de correção e recuperação social, não devem estar errados em seus sistemas correcionais mais rígidos. Colocam em prática sistemas que já despertam um respeito maior pelas suas penas quando a ordem social é quebrada. É um fator de inibição formidável sempre presente.

Pura perda de tempo querer reinventar a roda!

Álcool e Juventude

Originalmente postado em 17 de Agosto de 2010

Na seqüência de nossos artigos, não há como separar o uso abusivo e pesado do álcool pelos jovens e alguns fatos que publicamos no post anterior.

Os dados estatísticos não são uniformes em todas as nações, pela crônica falta de pesquisas padronizadas e homogêneas em todos os países. Mas o que há disponível não deixa muita margem à interpretações diferentes ou a um senso comum no assunto.
Existem muitas variações internacionais e regionais sobre o consumo de álcool entre estudantes e jovens.

Comecemos pelos índices de abstinência da substância entre as pessoas dessa faixa etária. Ela pode ser relativamente variável como 98,6% em Comoros (um arquipélago vulcânico, entre a costa leste da África e o noroeste de Madagascar, com pouco menos de 1 milhão de pessoas, de origem multicultural e grande pobreza) ou extremamente baixa , 6,7%, em Latvia (uma pequena república parlamentarista báltica, espremida entre a Estônia e Lituânia e pela pobreza – 3º. país mais pobre da União Européia).

De outro lado, outro grande contraste: a porcentagem de jovens dados a episódios de grandes bebedeiras (heavy episodic drinkers) é de apenas 0,2% do jovens no Líbano e Malásia e sobe a espantosos 20,1% dos jovens na República Tcheca.

Infelizmente parece que a cultura do beber excessivamente entre os jovens vem se disseminando pelo mundo todo. Recordes lastimáveis são vistos em Israel e nas Filipinas. E, mais preocupante, com a dianteira desse comportamento sendo verificada no sexo feminino, como se tem verificado na Austrália e Lituânia

Nesses lugares esse tipo de comportamento é verificado fortemente em meninas com idades entre 14 e 19 anos na Austrália e na Lituânia em meninas entre os 15 e 16 anos (não, você não leu e nem escrevi errado - entre 15 e 16 anos! Fonte: World Health Organization – WHO global status report on alcohol 2004. Geneve. ).
Quando pareamos os dados de efeitos e causas as coisas também apresentam grande variações, algumas bastante lastimáveis.
Os índices de mortalidade em razão de homicídios entre pessoas na faixa dos 10 aos 29 anos chegam a 84,4 por 100.000 na Colômbia (com uma abissal desproporção de 156,3 por 100.000 no sexo masculino e 11,9 para o feminino) e menos que 1 por 100.000 (igual em ambos os sexos) no Japão e França.

Mundialmente o álcool tem uma estimativa de responsabilidade de 26% dos anos de vida perdidos em função de homicídios. E nesse quesito os países em desenvolvimento apresentam taxas menores (18% no sexo masculino e 12% no sexo feminino) em função de outros fatores dividindo a responsabilidade por essa tragédia silenciosa de suas juventudes. Eles compõem juntos as altas taxas de mortalidade de jovens, incluindo-se outras causas como doenças preveníveis e a fome.

Nos países desenvolvidos, livres dessas outras causas, a combinação álcool x homicídios sobe a 41% nos homens e 32% na mulheres.

Esses dados constituem apenas a ponta mais negra de um grande iceberg social, com uma bomba relógio em seu interior.

Quando consideramos as ocorrências não fatais relacionadas com toda essa situação, as estatísticas ficam mais nebulosas e difíceis em sua disponibilidade. Colecionamos aqui estudos menores, mais não menos significativos:

- Nos Estados Unidos, numa amostra de certa comunidade, envolvendo pessoas entre 18 e 30 anos, encontrou-se 25% de homens e 12% de mulheres que experimentaram algum episódio de violência ou agressão, dentro ou ao redor de bares regulares e legalizados, durante o ano prévio à pesquisa.

- Na Inglaterra e País de Gales, pessoas entre 18 e 24 anos, que referiram ficar pesadamente bêbedos pelo menos uma vez ao mês, tiveram uma chance duas vezes maior de se envolver em brigas de bar. Nas mulheres isso subiu a 4 vezes…

- Na Finlândia, 45% de todos os incidentes violentos envolvendo pessoas entre 12 e 18 anos estão relacionados com a bebida, tanto envolvendo o perpetrador ou a vítima.

As estatísticas se sucedem e não melhoram.

Outro fenômeno negativo e em expansão no mundo todo é a violência de gangs.

Nesses fenômenos sociais envolvendo predominantemente pessoas jovens, o álcool desempenha um papel central, seja para a “iniciação” nesses grupos, seja para aumentar a confiança antes dos seus confrontos entre grupos rivais.

O fenômeno toma proporções preocupantes, tanto em países desenvolvidos, quanto em países em desenvolvimento.

Em Bremen na Alemanha, metade das ocorrências violentas atendidas pela Polícia tem origem em gangs. No Caribe os índices de violência desse tipo e a estreita ligação com o álcool atingem níveis insuportáveis.

Como resolver esse problema:

A receita parece repetitiva mas passa por uma atitude política e social.

Leis que regulem o acesso ao álcool e que sejam fiscalizadas: idade mínima, fiscalização de venda e consumo, fiscalização de álcool X trânsito. Restrições legais aos locais aptos à venda de bebidas (o que já é feito no exterior, e não no Brasil, onde, por exemplo, qualquer lugar pode vender bebidas, sem nenhum controle ou licença especial, etc.).

A sociedade por sua vez deve funcionar como um tecido unido.

Experiências muito simples de envolvimento de vários setores, senão todos, numa ação coordenada mostram resultados surpreendentes (veja o leitor internauta a experiência do programa DEZEPAZ de Cali na Colômbia ou o The Queensland Safety Action Projetcs na Austrália).

Por fim a Educação e a socialização do jovem (esporte, atividades culturais, atividades sociais).

Educação e socialização devem caminhar de mãos dadas. Só a Educação de boa qualidade não adianta, ela “sobra” nos países escandinavos, por exemplo, onde os adolescentes morrem de tédio e solidão, por falta de socialização e famílias mais presentes. Literalmente se entregam a bebida e outras coisas, além de ostentar um cifra impressionante de suicídios.

É de se pensar, sobretudo para aqueles que são pais.