quinta-feira, 21 de junho de 2012

Piercing no pênis – quelóide e outras complicações


Os piercings não são invenção dos nossos tempos. Abrão, ao receber Rebeca para desposar seu filho Isaac, presentou a futura nora, entre outros mimos, com um  “anel de orelha de ouro”.  Um brinco.
Os brincos foram os primeiros piercings. Há evidências, contudo, de que os piercings corporais, não apenas na orelha, mas nos lábios, nariz e outras localizações já eram utilizados antes disso conforme se verifica em papiros antigos, esculturas  e  pinturas em cavernas, além de outros objetos, como achados arqueológicos. Isso não apenas no continente europeu, mas também na cultura Inca, Maia, Asteca e nas  civilizações da  Ásia e Mediterrâneo.
Do ponto de vista arqueológico o uso desses artefatos  simbolizavam “ritos de passagem”.
A primeira referência conhecida ao piercing no pênis está no Kama Sutra, em seu segundo capítulo, atribuindo-lhe um grau de respeitabilidade e credencial do usuário. Não há menção, no entanto, em que lugar isso era inserido.
Em algumas tribos remotas de Bornéu está registrado o costume de inserção de um fragmento de osso na glande peniana.
Nos tempos atuais, portanto, parece que a imaginação nessa área (e a coragem e/ou insensatez) ganhou grandes asas. Muitos casos beiram o masoquismo e a verificação de lesões irreversíveis, notadamente nas fístulas uretrais causadas pelos dispositivos. Nas mulheres existe um movimento que vem ganhando apoio no sentido de considerar o uso desses artefatos, geralmente associados à circuncisão feminina como mutilação genital criminosa.
Recentemente vimos dois pacientes com esses artefatos, vindos ao urologista em função de complicações.
Não se tem registro, em nenhum lugar do mundo, da real quantidade de complicações desse tipo de procedimento.  Na observação e relatos isolados, no entanto, a infecção figura como a principal complicação vista. Não apenas a infecção local que, geralmente, não apresenta muita dificuldade no tratamento, mas também a infecção por hepatite B e C, além do HIV, talvez muito mais pelas condições locais e de técnica da implantação desses dispositivos, do que por eles mesmos.
Nosso primeiro caso tinha uma infecção uretral importante, refratária aos antibióticos mais comuns que necessitou da retirada do dispositivo e tratamento endovenoso com uma cefalosporina de 4ª.  geração associada a um macrolídeo (antibiótico específico) .
O outro caso era, porém, mais interessante. O paciente manifestava seu desconforto com algumas protuberâncias bastante avantajadas ao redor dos orifícios em que se inseria o dispositivo. Tratava-se de um quelóide, um tipo de hiper-cicatrização verificada com certa frequência na população, notadamente em alguns grupos e pessoas com predisposição a isso. Trata-se de uma cicatriz hipertrófica, grande, volumosa,  avermelhadas e de consistência emborrachada, como as de uma cicatriz comum recente, com a desvantagem de não perder essa coloração, volume e demais características com o passar do tempo. Muitas até aumentam.  Muitas lembram cicatrizes finais de grandes queimaduras.
Complicado o tratamento desse paciente. Não há remédio  como na infecção, nem a retirada do dispositivo reverte o problema. O queloide, uma veze desencadeado, progride e qualquer tentativa de ressecção (retirada cirúrgica) esbarra na grande possibilidade da nova cicatriz enveredar pelo mesmo caminho, criando outro queloide.
Existem várias terapêuticas que são tentadas sem garantia de êxito nesses casos. Desde a injeção de agentes como corticoides no local, compressão local, oxigênio hiperbárico,  radioterapia, terapias modernas e experimentais com nanomoléculas de prata e até  mesmo o LASER de CO2.
 Não há tratamento totalmente eficaz. Muitas vezes a remoção cirúrgica cuidadosa, seguida de algum outro tratamento associado melhora o problema.  O excesso de cicatrização envolve a função dos fibroblastos e colágeno, fibrilas e demais estruturas envolvidas na “teia” que sustenta a nossa pele  e que é ativada quando a pele sofre uma agressão como um corte, uma incisão cirúrgica, etc.
Medidas locais na área da estética, mesmo que baseadas em procedimentos cientificamente úteis em outras situações não são de grande valia nessa situação, conforme atesta a Bióloga especializada em Estética  Luana Freato Berti Risso, habituada a recuperação  de pacientes com outros problemas e pós operatório de intervenções na derme e epiderme. “Há uma reticência muito grande em relação ao queloide e as técnicas atuais, fora do escopo cirúrgico e/ou experimental”, frisa Luana.
Desse modo aguardamos o resultado do LASER de CO2, pulsátil e em baixa potência utilizado nesse caso. Oportunamente voltaremos ao assunto.  

3 comentários:

  1. Dr. Esses problemas podem aparecer mesmo depois de cicatrizado? Pergunto isso pq coloquei um no saco escrotal perto da base do penis e penso por outro, uma.vez q nao tiver nenhuma reaçãoadversa.

    ResponderExcluir
  2. Rodrigo, no escroto, os problemas são menores e depois de cicatrizado, só pode ocorrer problema se houver algum ferimento ou acidente.

    ResponderExcluir
  3. Dr. Cirurgia de postectomia em algumas pessoas deixa tipo uma cicatriz hipertrófica. Isso teria algum motivo em especial? Tem algum tratamento para isso?

    ResponderExcluir