sábado, 25 de outubro de 2014

HPV - últimas novidades em outubro de 2014


Em evento muito recente, reunindo especialistas de 57 países do mundo, em Barcelona na Espanha, várias experiências globais foram compartilhadas. Dessa vez o Brasil não fez feio. 

Embora tímida, sua campanha de vacinação das meninas em idade pré-puberal foi admirada por toda a plateia, em termos do seu índice de cobertura (aproximadamente 90% dessa faixa da população recebeu a vacina pelo sistema público). Só a Austrália, que fez isso em 2007/2008 tem índices semelhantes, juntamente com os países nórdicos, onde cada habitante, foco da iniciativa de saúde pública recebeu carta com nome e sobrenome. Anos luz à frente do resto do mundo. 

O HPV é um vírus que pode causar o câncer de colo uterino, câncer anal e câncer de laringe/cabeça e pescoço, vulva e pênis.

Mas ainda falta estender o benefício aos meninos, que também padecem e transmitem o vírus.

SAIBA MAIS
 
Antes do câncer de mama tornar-se o câncer mais comum entre as mulheres, existia o câncer do colo do útero. 

Existia, não, existe ainda e é o segundo câncer que se manifesta e mata. Em países em desenvolvimento, ou áreas mais pobres de países mais adiantados, ele ainda é o primeiro, senão o segundo. É o que vemos no Brasil, onde o câncer de mama é mais comum no sudeste e fica em segundo no norte e nordeste do país. 

Durante décadas o câncer de colo do útero tem sido prevenido pela realização do teste de Papanicolaou, ou, tecnicamente, citologia oncótica do colo uterino. Desde 1970 o estudo epidemiológico, ou seja os fatores ou perfis das pacientes com câncer do colo passaram a determinar a pesquisa a respeito do assunto. Na realidade autores do século 19, que se interessaram em registrar e estudar casos de câncer, já fizeram algumas correlações com esse tipo de tumor: mulheres casadas em segundas núpcias com homens cuja primeira mulher tinha morrido do mesmo tumor, mulheres casadas com viajantes, notadamente caixeiros-viajantes, mulheres com múltiplos parceiros ("que nunca se casaram") e assim por diante. Há alguns exemplos bem recentes disso no Brasil e na Argentina... E até de alguns "cânceres" benignos de orofaringe.

A princípio, no começo de toda essa história, em relação ao colo uterino,  desconfiava-se de um agente transmissível clássico, a sífilis ou a gonorreia e depois o Herpes vírus. Todas ruas sem saída... 

O elemento comum era a atividade sexual, geralmente múltipla.

O HPV, ou Vírus do Papilomavírus Humano, na sigla em inglês, foi identificado na época da guerra da Coréia. 

Combatentes americanos que voltavam daquela região da Ásia, em pouco tempo tinham suas esposas apresentando uma incidência enorme de verrugas genitais, ou condiloma, ou "genital warts" na língua inglesa. A manifestação clínica, ou seja as verrugas, em algumas regiões do Brasil chamadas de "crista de galo", não eram novas. 
Há citações em vários tratados de medicina da Idade Média e mesmo antes em textos bíblicos. Há múmias em que a doença, em grande esplendor, ainda parecem nos tecidos mumificados. Na idade média o "condiloma acuminatum", ou tumor pontudo, foi inicialmente relacionado com os homossexuais, mas o problema não era bem assim.

A enorme quantidade de lesões nessas mulheres no meio da década de 50 gerou uma demanda científica para elucidar o problema. Foi quando se descobriu o agente viral. 

Nos anos 80, pesquisadores chefiados pelo Prêmio Nobel de Medicina de 2008, Dr. Harald zur Hausen, na Alemanha, conseguiram reconstituir o "fio da meada" em relação ao HPV e o câncer de colo uterino. Foi um trabalho duro, uma vez que o vírus do HPV não é cultivável em laboratório, quando o câncer acontece ele "já se foi". Ou seja, infecta a mulher 10 a 20 anos antes, altera suas defesas e controle de multiplicação celular, tornando-as anormais, favorecendo o desenvolvimento de tecido canceroso, e quando isso ocorre, ele já foi embora, deixando apenas algumas "pegadas" de DNA/RNA.

A história do câncer teve que regredir até as lesões que evoluíam para o câncer invasivo.
Nessas lesões o vírus ainda estava atuando, alguns deles.
Porque nem todo HPV causa câncer. É preciso o vírus agressivo, não apenas pelo nome (ou tipo), mas pela sua capacidade de agir. E ainda é preciso de um bom tempo sem assistência ou acompanhamento ginecológico.

Quem se cuida não morre de câncer do colo uterino. 

Seja fazendo sua prevenção secundária (exames ginecológicos e Papanicolaou periódicos) ou a prevenção primária, com as vacinas, como veremos abaixo. 

Nossas meninas, vacinadas, praticamente reduzirão imensamente um infortúnio nessa área. Não que não tenham que esquecer os cuidados ginecológicos: existem pequenas exceções e existem vários conhecimentos de educação em saúde, notadamente em relação às doenças sexualmente transmissíveis, algumas muito piores do que o HPV, em termos de vida (HIV) ou saúde reprodutiva (Clamídia e outras bactérias), além do próprio câncer de mama...

Em relação aos homens?
Bem, aqui vai um grande capítulo. Que não cabe inteiro aqui.

Os homens não terão tantos cânceres de pênis causados pelo HPV.
Só metade dos cânceres de pênis têm relação com o HPV. O que não é zero...

Os homens também podem ter câncer de orofaringe ou de ânus. O primeiro tem uma evolução melhor, já o segundo tem uma evolução igual nos dois sexos.

O homem transmite o HPV, notadamente quando tem lesões.

O homem é vítima das lesões verrucosas, o condiloma. Hoje ninguém faz sexo no escuro e o homem, ao contrário da vagina, tem um pênis bem à vista em termos de qualquer verruguinha ficar bem à vista...

As lesões podem se manifestar rapidamente ou demorar. Seu crescimento também segue do mesmo jeito. Podem ser múltiplas ou solitárias, grandes ou pequenas. O HPV mantém uma relação de equilíbrio ou "convivência" com as pessoas saudáveis. Não há nenhum exame que possa predizer o seu comportamento nesse sentido. Assim como não há exame de sangue que possa detectar a infecção. Ela é muito superficial e não circula no sistema sanguíneo, o que explica nossa resposta imunológica natural muito fraca ou quase inócua a esses vírus.

Lesões visíveis devem ser destruídas. Vários são os tratamentos disponíveis. Depois disso existem várias medidas complementares que podem ser utilizadas. O HPV não é igual ao Herpes Vírus, que nunca acaba. Esse foi um erro médico nas décadas de 80 e 90 e às vezes visto até hoje, por desinformação. A persistência indefinida é uma exceção da exceção. O "clareamento" ou eliminação do vírus é a regra. Durante muito tempo foi cômodo aos médicos a posição cética de "uma vez com HPV, sempre com HPV". Não é bem assim.

Foi nesse panorama todo, no meio da década de 90, que  as pesquisas em busca de uma vacina se iniciaram e tiveram êxito nas prateleiras em 2006. Hoje, temos disponível essa poderosa arma profilática da infecção pelos quatro tipos mais importantes do HPV, ou os dois mais oncogênicos. Os tipos 6 e 11, relacionados em sua maioria com lesões verrucosas, e os tipos 16 e 18, mais agressivos, relacionados com a grande maioria dos cânceres, sobretudo de colo uterino, onde se encontram em mais de 99% dos casos. A proteção contra o HPV 6 e 11, diferencia a vacina quadrivalente da bivalente (que só inclui o HPV 16 e 18).

O alvo mais beneficiado com essa vacina é o jovem, menina ou menino, em idade escolar, antes do início da atividade sexual. Respondem melhor, formando mais anticorpos contra os vírus, e com resposta de longo prazo muito importante sem justificar, até agora nenhuma dose de reforço tardia.


Mas a vacina não para por aí. Alguns estudos importantes mostram a sua utilidade em quem já teve o HPV, nos genitais ou na garganta. O vírus tem um processo de auto reinfecção. A partir de lesões existentes, partículas virais estão constantemente sendo lançadas aos outros parceiros e parceiras, mas também a si próprio. Ao próprio portador. Os anticorpos não combatem células já infectadas, mas previnem a infecção de novas células.

O esquema clássico da vacina consta de três doses. A primeira, seguida de uma segunda dose, dois meses depois e a última, quatro meses após a segunda. Período total de 6 meses. 

Estão sendo estudados esquemas alternativos com duas doses - primeira e segunda em seis meses (reforço). Não há dados conclusivos. Achados iniciais mostram que isso pode ser útil em jovens de ambos os sexos com idade abaixo de 15 anos. Depois dessa idade o esquema tríplice, até agora, é incontestável. 

Para elucidar essa questão só mesmo a realização de exaustivos estudos populacionais, que envolvem um responsabilidade e tanto, pois que, os casos que "escaparem" ao efeito protetor deverão ser prontamente identificados e tratados, o que pressupõem um sistema perfeito de saúde, luxo que tem a Suíça, onde isso está sendo posto em prática. 

No Brasil apostou-se nas duas primeiras doses e uma terceira em 60 meses depois da segunda. São cinco anos!!!. Não vamos torcer contra, muito pelo contrário, mas a experiência mostra que depois de uma determinada idade as vacinas, sagradas para as crianças, são consideradas SÓ "coisa ou assunto de criança". 

Você que me lê, responda, quando renovou a sua antitetânica???
Que é a cada 10 anos...

Não precisa responder. 

É de graça, nos postos públicos!

Adulto também tem calendário de vacina, muito além da gripe... 



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