quarta-feira, 31 de julho de 2013

DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS, UM EXEMPLO FIEL DA SAÚDE BRASILEIRA

Entrevista concedida ao editor Giuliano Agmont da Revista “HPV News”, último número, a respeito de um estudo sobre doenças sexualmente transmissíveis em seis capitais brasileiras, publicado em 2008, com a cooperação da Alemanha, que gerou um livro com tiragem de 4.000 exemplares para todo o país:

PREVALÊNCIAS E FREQUENCIAS RELATIVAS DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS EM POPULAÇÕES SELECIONADAS DE SEIS CAPITAIS BRASILEIRAS.  Programa Nacional DST/AIDS / MS. 2008.
Sob os auspícios da agência  GTZ –Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha



1 Qual a importância desse levantamento?

Homero Guidi (HG):

Num país em que os dados de saúde são muito precários, salvo algumas exceções honrosas, qualquer levantamento com metodologia séria é bem vinda.  Na realidade a falta de dados na Saúde Brasileira constitui um dos “anti-pilares” do nosso sistema: como planejar e investir se não sabemos no quê, em quanto, de que maneira, onde, etc. Para o leigo fica fácil explicar isso. Tomemos um exemplo de instituição de saúde de excelência no país:  o Incor, Instituto do Coração de São Paulo. O problema de saúde do país não seria resolvido se toda cidade média ou grande no Brasil contasse com um Incor, exatamente igual ao original. O motivo é obvio: nem só de doenças cardíacas carece a saúde do brasileiro. Há desde as verminoses, as hérnias, acidentes, apendicites  e doenças sexualmente transmissíveis (DST) até o câncer. 

Onde, como  e quanto investir?

Se considerarmos outros países ficamos muito atrás nesse ponto.  Tomemos por exemplo os países escandinavos que tem o histórico de saúde de toda a população e, hoje, se dão ao luxo de estudar um determinado assunto levantando dados de toda a população nos últimos 50 anos.  Sim não são cinco, são 50 anos!. A primeira desculpa que vem a mente de todos é a questão do custo dessa organização toda. Balela pura. O primeiro custo da organização é o comprometimento de todos que querem  ser organizados. Isso vai muito além do recurso financeiro propriamente dito.  

Temos um sistema econômico e financeiro brasileiro eficientíssimo nos mesmos moldes – instituições governamentais e privadas, todas unidas e engrenadas para funcionar perante o cidadão e o seu CPF.  Nenhum calote passa despercebido... Nos países nórdicos o indivíduo recebe um “CPF” único para o resto de sua vida representado pela sequencia numérica da sua data de nascimento e uma numeração que identifica a ordem de registro do mesmo. Isso apenas para começar. Todas as doenças são notificadas e registradas e sempre que necessário sabe-se exatamente em que tipo de recurso de saúde há necessidade de cada centavo disponível para o investimento. Onde há mais e menos necessidade?  

leia o texto completo clicando abaixo

No Brasil, infelizmente, isso não existe, mesmo no programa de controle do câncer de colo uterino os recursos, que não são poucos, não são organizados:  podem ser realizados 2 milhões de exame de  Papanicolaou em um único ano, mas seguramente não serão 2 milhões de brasileiras atendidas. Muitas farão muitos exames, três ou quatro num só ano,  vários desnecessários, com certeza, enquanto outras mulheres não fizeram  nenhum sequer.  Não há controle disso. 

Não temos um mínimo de um “prontuário” de saúde ou registro de saúde unificado. Nem nas vacinas.  A cobertura das ações de saúde  em nosso meio são feitas na expectativa do “efeito de rebanho”.  Para algumas áreas da saúde isso funciona, já para outras, funciona como um enorme “pulverizador de recursos”  ou um enorme ralo, às vezes com um sistema de sucção acoplado, se ajuntarmos o fator corrupção, superfaturamento , etc.!

Dessa maneira esse levantamento minucioso, apesar de estudar uma amostra de quase 12 mil brasileiros apenas, em 6 capitais do país, tem um grande mérito. É um oásis em meio a um grande deserto, sedento de informações. Adicionando-se o fato de que o estudo não apenas fez o registro das doenças, mas empregou técnicas padronizadas de laboratório para o diagnóstico preciso dessas doenças, incluindo a biologia molecular, a tecnologia mais recente e de ponta no seu aspecto diagnóstico, o que vai muito além do diagnóstico clínico ou “sindrômico”, muito utilizado em DST.  Por fim o estudo tem ainda uma qualidade muito importante:  apesar de 12 mil parecer uma amostra pequena, ela está muito bem escolhida, inclusive nas suas divisões, estritamente dentro de critérios de metodologia científica que validam a sua representatividade, incluindo variáveis surpreendentes, e por isso de inestimável valor pelos detalhes  levantados,  para quem lê o estudo do começo ao fim.

O lado negativo, não do estudo, mas das circunstâncias, é que o estudo  foi publicado em no final de 2008 pelo Ministério da Saúde com apenas 4 mil exemplares, apesar do acesso digital. Quantos médicos o conhecem hoje, em 2013?

2 – Quais os dados mais relevantes  encontrados no estudo?

HG:
São muitos e talvez a maneira mais prática de sumariar esses dados seja expor pelos grupos de pacientes estudados.

Gestantes : 

De todas as gestantes estudadas nas 6 cidades, 42% delas tem pelo menos uma de todas as DST existentes. As DST virais estavam presentes em 37% delas e as bacterianas em 11%. A inferência disso é uma provável participação importante na morbidade e mortalidade materno-infantil no país. 

Esses dados confirmam  dados anteriores que nos colocam, pelos padrões da Organização Mundial de Saúde (OMS)  com um país que paga um ônus muito grande em termos de morbidade pelas DST considerando a tríade de indicadores representados por: a) prevalência de mais que 10% de DST  em adolescentes;  b) 5% de prevalência de DST curáveis em gestantes (o que o estudo mostra que muito mais...) e c)taxa de prevalência de sífilis entre gestantes maior do 1% (no estudo a prevalência geral foi de 2,6%, chegando a incríveis 11% nas gestantes com mais de 40 anos!).

Outro ponto de extrema importância foi a onipresença do HPV nas gestantes

Homens trabalhadores em indústrias:

Em toda a amostra dessa faixa de pessoas estudadas, foi encontrada uma prevalência de 5,2% de DST bacteriana, um índice também acima dos parâmetros da OMS (acima de 5% de DST curáveis) e, pior, todos esses pacientes eram assintomáticos para DST. Igual conclusão do peso da morbidade geral disso em termos de saúde pública do país. 
Nesse grupo  observa-se uma insuficiência do estudo, pela impossibilidade de estudo das doenças virais, HIV e HPV. 
As demais tem sua prevalência listada abaixo:

Clamídia      3,4%
Sífilis            1,9%
Gonorréia    0,9%
Hepatite B   0,9%


Homens e mulheres que procuraram atendimento em clínicas de DST

Nesse grupo, mais complexo e com grande riqueza de resultados e particularidades o que chama a atenção é a prevalência, em todo o grupo de 41,9% de DST virais e 14,4% de DST bacterianas. 

O HPV está na dianteira com mais de 40% de prevalência de verrugas genitais em todo o grupo. Predominam os tipos de alto risco nas mulheres e os de médio/baixo risco nos homens.  A maior prevalência verificada em faixas etárias mais jovens mostrando a infecção em idade precoce.   

Jovens também tiveram maiores taxas de clamídia e gonorreia, comparativamente as faixa etárias mais velhas que, por sua vez, tiveram taxas maiores de sífilis, HIV e hepatite B, comparativamente aos mais jovens.  

O HIV é mais prevalente nos homens e nas capitais mais ao sul do país.
Prevalência das doenças em homens e mulheres atendidos em clínicas e particularidades mais interessantes de cada uma em relação à idade:

HPV  (considerando apenas presença de verrugas genitais no exame físico) 41,4%
(homens predomínio de HPV de médio e baixo risco; mulheres predomínio de HPV de alto risco – observações constantes em todos os sub grupos do estudo).

Clamídia  8,9%
(homens com picos de prevalência acima de 20% em adolescentes até os 15, 10%  entre 15-19 anos  e 15% entre  20-34 anos e novamente acima de 20% entre os 45-49 anos .
(mulheres com baixa prevalência antes dos 15 anos, pico de 10% entre os 15-24 anos, em torno de 5% entre os 25-44 anos, voltando a ficar acima de 5% dos 50 anos em diante).

Gonorréia    7,4 % 
(prevalência  igual em adolescentes até os 15 anos, entre e 15 e 20% nos homens  de 15 a 34 anos, acima de 30% em homens com 55 anos ou mais; mulheres  maduras tem dois picos, acima de 5%  na faixa de 35-39 anos e acima de 15% na faixa dos 40 aos 44 anos (homens nessa última faixa tem prevalência de 2%).
Sífilis   3,3%  
(índices maiores que 5% em pessoas com idade a partir de 35 anos, curva ascendente, variável entre os sexos).
HIV   0,9%
a- (homens entre 15-19 anos tem prevalência de 2% com queda nas taxas até os 29 anos; pico acima de 4% entre os 30-39 anos com ascenção até 7% entre os 40-44 anos; índices desprezíveis a partir dos 45 anos em diante)
b -(mulheres até os 19 anos tem taxas desprezíveis; entre os 25-49 anos taxas flutuam quase próximas a 2%, regularmente e voltam a ficar desprezíveis a partir dos 50 anos).

Hepatite B  0,9%
a- (prevalência insignificante nos adolescentes antes dos 15 anos em ambos os sexos; quase 2% em ambos os sexos entre os 15-19 anos; 2%  em homens entre20-29 anos, mulheres com taxas praticamente pela metade nessa faixa; dobra (2%) nas mulheres  entre os 40-44 anos. 
b- (os homens nessa faixa vão a 4% e depois dobram de novo, até 8%,  entre os 45-49 anos)


3- O que os médicos concluem com os dados desse estudo?  O que precisam saber a respeito dessas doenças? O que mudar na prática?


HG:
Em primeiro lugar os médicos precisam saber tudo a respeito de DST. Nem que seja para orientar, mesmo se considerarmos médicos de especialidades em que não elas não tenham um grande impacto ou importância aparente. Dizemos isso partindo do princípio de que esse tipo de doença acarreta toda uma carga psicológica enorme em seus  portadores, homens, mulheres, adolescentes e pessoas maduras.

Há medo, vergonha, segredo, implicações sociais, sensação de “impureza”, de falta de higiene, disfunções sexuais, relacionamentos desfeitos, depressão e outros transtornos psíquicos, entre várias outras coisas.  

Essa carga gera uma dificuldade muito grande para o paciente em compartilhar o seu problema, desde  todas as instâncias sociais do seu meio (família, amigos, ambiente de trabalho, parentes e círculos sociais) ao contrário de quase todas as outras doenças em que esse compartilhamento é produtivo em todos os sentidos,  psíquico, apoio e suporte, outras opiniões médicas, outras instituições. Com as DST não, nem  mesmo na assistência médica. 

Daí o desastre da visita anônima a uma farmácia, bem longe de sua casa e a “consulta”, ainda assim constrangida, realizada junto ao balconista.

Se por proximidade, facilidade, afinidade ou pura oportunidade, um portador de uma DST aborda um cirurgião cardíaco ou um cirurgião de transplante, totalmente imerso  nas suas intrincadas  hiper-especialidades, ainda assim existe um compromisso ético do médico,  não de eventualmente indicar o exame correto ou o tratamento mais efetivo de imediato, mas pelo menos orientar efetivamente sobre a doença e sobre onde ou qual profissional procurar. É uma chance de ouro que não pode ser perdida nessa seara da Medicina. 

É o primeiro “acolhimento” que o paciente deve ter num sistema de saúde humanizado e ao mesmo tempo altamente profissionalizado. Um conceito hoje de fundamental importância, o acolhimento,  que se desdobra em todo o processo de recebimento de qualquer paciente, com qualquer doença,  pela equipe de saúde. É o acolhimento no interesse, na individualização, nas ações técnicas precisas indissociáveis da ação psicológica conjunta necessária. No caso da DST, por exemplo, com o objetivo não só de indicar e fazer o melhor exame e tratamento, mas também na reversão do medo, da vergonha, do desconhecido e do constrangimento  do problema, reconhecendo  aquele fato médico, que pode ser muito simples para o médico, como algo mais abrangente, na real dimensão do que ele implica pessoalmente para o paciente.

Em relação aos dados técnicos, mais específicos e de maior interesse aos profissionais envolvidos diretamente com as DST o estudo mostrou a onipresença do HPV em todas as sub-populações estudadas. E note-se que não estamos falando de lesões planas, lesões subclínicas ou detecção da infecção, mas sim de uma altíssima prevalência de lesões acuminadas, da verruga genital! Pela sua frequência e prevalências proporcionais o HPV hoje, não pode em hipótese alguma, ser ignorado ou menosprezado. Os médicos que ainda não o fizeram, devem estudar o vírus e suas doenças, seu tratamento e prevenção. Não pode ficar alheio.

Outro ponto importantíssimo são as DST na gravidez, notadamente pelo seu aspecto assintomático, o que também se estende aos homens em fase produtiva. Na gravidez no entanto existe um binômio de um terceiro ser, frágil médica e moralmente, com situações sem auto-opção e riscos e consequências médicas muito maiores do que os maternos e paternos...

E aqui é bom que se frise, novamente, o verificação do comportamento do HPV nessas gestantes. Textualmente do estudo: “ A circulação do HPV nas gestantes estudadas é alta, em especial seus tipos de alto risco, sobretudo nas gestantes jovens e adolescentes, o que mostra a necessidade de intensificação de ações de prevenção e controle do câncer do colo uterino”.

Adicionamos algo mais recente  em relação ao concepto, à vítima inocente da situação. 

Embora a transmissão do HPV possa ocorrer por via trans-placentária, há uma clara indicação de contaminação do bebê no canal de parto. As situações clínicas mais 
reconhecidas referem-se à contaminação da cavidade oral, orofaringe e trato respiratório. 

Dados muito recentes, bastante iniciais,  acenam com a possibilidade, de que uma gestante já infectada pelo HPV, sendo vacinada, formará anticorpos contra os vírus, que não tratarão sua doença (o vírus já incorporado nas suas células), mas que tais anticorpos podem ser  passivamente transmitidos ao concepto e possam diminuir o impacto ou mesmo evitar as doenças HPV-induzidas nos neonatos e crianças. Como  um grande alento, isso vem na sequência de estudos que mostram que a vacina não trata doença instalada, mas diminui novas doenças, novas infecções pelos papilomavírus ou mesmo atenua as que efetivamente venham a ocorrer depois (Comunicação pessoal Meeting HPV, Amsterdam, Holanda, junho de 2013).

Fronteiras científicas à parte, o estudo mostra claramente algo básico não acessível em todos os lugares do Brasil: o acesso a serviços de assistência pré-natal com retaguarda de laboratório clínico com recursos suficientes  muito além de detectar alguns tipos de corrimento ou infecção urinária e a glicemia das gestantes. Mais ainda esses serviços devem estar articulados às maternidades  para o evento final, o parto e a assistência neonatal. São serviços assistenciais indissociáveis. É como encomendar um carro nos mínimos detalhes junto ao fabricante e, na compra e depois dela, nunca mais ter contado com o fabricante...

Outro ponto importante é o papel da clamídia e sua frequência na população mais jovem. Os sintomas podem ser inexistentes ou de pequena expressão mas isso tem um reflexo tardio e um grande ônus no futuro desses jovens em termos de agressão à sua fertilidade e saúde reprodutiva.  Países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos já incluíram a um par de anos o “screening” da clamídia em grupos definidos, que cada vez se alargam mais. Na ponta do lápis, a conta fica mais barata nos exames e tratamento dos quase 10%, do que os custos com infertilidade e reprodução humana em casais inférteis  dez ou quinze anos depois. O raciocínio é cartesiano e econômico...

Devemos ainda comentar  a “irregularidade” de uso do preservativo em todos os gráficos e tabelas do estudo. Esse é um fato de suma importância, uma vez que seu uso é uma das maiores armas na prevenção das DST, largamente disponível para todos e em todos os lugares, até gratuitamente. Uso irregular  de preservativo só se justifica para fins exclusivamente de planejamento familiar em casais bem estabelecidos, monogâmicos.  

Em termos de DST, “uso irregular” de preservativo, na realidade,  é um eufemismo tácito e irresponsável, fruto de desinformação. Uso de  preservativo, nesse caso, é como virgindade. Não admite meio termo!

As diferenças nas faixas etárias também são úteis do ponto de vista clínico ao avaliarmos individualmente o paciente sintomático ou não.  As associações  ou co-infecções constituem um  “landmark” no conhecimento e comportamento das DST.  Sempre o médico deve enxergar o paciente com DST em uma perspectiva de 360º mas essas diferenças de comportamento e particularidades reforçam determinados aspectos assistenciais no processo da elaboração de hipóteses e o auxílio ao  diagnóstico, sobretudo nas dificuldades da assistência laboratorial, infelizmente imprevisíveis.


4- Quais as principais formas de combater essas doenças?

HG:

I N F O R M A Ç Ã O!!!

Somente através da informação as pessoas podem conhecer as doenças a que se expõem, como são transmitidas, como podem ser evitadas, quais as que podem ser tratadas, os comportamentos, estilos de vida ligados mais a isso ou aquilo, enfim reunir um conjunto de conhecimentos básicos que permita seu auto discernimento.  A partir dessa informação pode-se esperar  efetivamente o sexo seguro em todo o seu espectro no conjunto da sociedade de alto a baixo.

Onde e como é necessária essa informação?  Para quem?  Por onde atingiremos esse objetivo?

Pela informação aos leigos que não chegam aos médicos,  mas que acessam as diferentes mídias. Quanto maior o acesso, maior a avidez por informação precisa, autêntica e confiável.

Pela informação aos pacientes  portadores das doenças  que adquiriram e outras que podem coexistir ou  se apresentarem no futuro. Informação da prevenção, do sexo seguro e de onde buscar informação confiável.

Pela informação aos médicos, através de programas de Educação Continuada e acesso à Informação de qualidade, não apenas por meios eletrônicos, senão facilitando a compra de livros, a importação de livros com menos impostos, desonerando o acesso ao conhecimento.  Na Educação Continuada há muito ser investido e incentivado, notadamente no acesso a tecnologias digitais que disseminem o conhecimento sem o deslocamento físico dos profissionais. Linhas de créditos devem ser dirigidas às Universidades, às organizações de ensino e pesquisa, para que compartilhem isso de norte a sul, de leste a oeste num país de dimensões continentais como o nosso.


Informação na  Saúde Pública. Não adianta aumentar a verba se o jeito de gastar não mudar. Informação guia o planejamento. Valorização das instituições e dos profissionais, de alto a baixo. Saber onde investir, instituir um  Cartão Nacional de Saúde,  um Registro Único como os nórdicos, um número na Previdência (como os americanos), mas não apenas no papel, um registro com pelo menos os diagnósticos  importantes, num banco de dados nacional efetivo. Ações básicas, doenças infantis, vacinação (de que adiantam o cartõezinhos com os selinhos? Você se lembra onde está o seu?) Precisamos de um registro de câncer total e compulsório. Que tal começar pelos laboratórios de anatomia-patológica?
Os dinamarqueses não tiveram sempre um banco de dados de cinquenta anos. Também tiveram o seu “ano zero”, o ano seguinte, os dez anos, vinte anos...

Por outro lado, no jeito de gastar com saúde pública existem situações tão gritantes que nos chegam até a ponta do nariz e algumas pessoas não enxergam medidas de saúde pública que deveriam ser tomadas, mesmo em caráter profilático.

Recife é capital brasileira do HPV e do Câncer de Colo, vacinas contra isso existem desde 2006.  São oito anos!  Num país que tem um sistema de imunização modelo e invejável aos olhos do mundo. Todo o Distrito Federal imunizou suas garotas recentemente. Porque nada foi feito ainda onde o HPV grassa impiedosamente de geração em geração?   Somente em 2014  o país vai vacinar meninas de 10 e 11 anos. É um começo muito tímido. Não há necessidade de se alongar nisso. No meio do caminho deve ter uma pedra, aquela do Drummond de Andrade...  Bem grande!

No âmbito social a tarefa é enorme, muitas vezes direta; noutras indiretas, pois a DST vem “de presente, como brinde” de situações para as quais a sociedade brasileira deveria acender todas as suas luzes e holofotes: a prostituição e tráfico infantil, o tráfico de mulheres, a marginalização de profissionais do sexo, ora vítimas de perseguição, ora vítimas de ações amadoras, repudiadas visceralmente pelos próprios “pretensos beneficiários”.  Educação sexual séria, íntegra, sem proselitismo  ou com ações pontuais contra um ou outro comportamento, grupo ou fatia da sociedade. Todos carecem de educação sexual . De educação, pura e simples. Isso já existe em muitos países e funciona muito bem. Importamos tudo, às vezes até em detrimento do que sabemos fazer melhor e mais barato, mas não importamos ideias, modelos, know-how social testado e aprovado. Queremos reinventar a roda mirabolante e sofisticada, mas não passamos do eixo tosco...

Há  uma lista enorme de deformidades sociais como a  gravidez na adolescência, escola integral, uso e abuso de drogas, tráfico de drogas, acesso a medicamentos e assistência médica de qualidade, educação médica, saneamento básico, etc. 

Todas  extrapolam o médico, mas não o cidadão e nem a sociedade.

Por último, só apenas por último,  para combater essas doenças, as DST e todas  as doenças, está o médico, o laboratório, o hospital e o medicamento. 

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