terça-feira, 20 de setembro de 2011

I Encontro Paulista de Especialistas em HPV

Originalmente postado em 11 de Abril de 2011

No dia 9 de abril de 2011 um grupo de alguns especialistas em HPV de todo o Brasil se reuniu no Grand Hyatt, em São Paulo, para um reunião de atualização nas mais diferentes áreas envolvendo a infecção e doença causadas pelos Papilomavírus.

Estivemos participando como debatedor de um dos dois blocos de apresentações muito interessantes sobre os avanços dos conhecimentos imunológicos da infecção viral e métodos diagnósticos, além de novidades no tratamento.

A imunologia vem fazendo progressos no entendimento do comportamento desses vírus que é bastante peculiar em relação aos demais, sobretudo pelo seu comportamento em relação à sua infectividade e mesmo ao poder de transformação das células epiteliais em alguns tipos de câncer, notadamente do colo do útero, região perianal e trato respiratório (sobretudo o alto).

O DNA-vírus, embora pequeno, tem em suas 8 proteínas de expressão precoce um poder muito grande de driblar alguns mecanismos de defesa de nosso organismo , muitos relacionados com as células especializadas em defender o organismo (células de Langhans que se diferenciam em outras células mais especializadas e específicas contra os agentes agressores, linfócitos T killer, linfócitos reguladores, entre outros). Assim além das proteínas E6/E7 que podem determinar a agressividade do tipo de HPV incorporado às células, também a E5 desempenha um papel nesses fatores que confundem o nosso sistema imune e a própria resposta inflamatória que pode paradoxalmente trabalhar contra o nosso organismo.
São conhecimentos de ciência básica que precisam ser ampliados largamente para que possamos ter aplicações clínicas e práticas para uso nos consultórios e clínicas.

Outro assunto importante, pelo qual passa o HPV no Brasil é a detecção do câncer de colo do útero, sua principal complicação nas mulheres.

No Brasil, nas regiões sudeste e sul o câncer de colo uterino é o segundo câncer mais comum no sexo feminino. O primeiro é o câncer de mama. Mas a mortalidade é igual para ambos, em torno de 13%. Em algumas regiões do país, contudo, o câncer de colo do útero vem em primeiro lugar.

Nesse panorama entram alguns fatores de saúde pública importantes, sendo o principal deles o acesso e a procura por exames preventivos, hoje principalmente baseados na citologia oncótica ou como conhecido, o famoso Exame de Papanicolaou (o médico que o descreveu e aperfeiçou).

Acesso dizemos em relação à disponibilidade; procura dizemos em relação ao ato espontâneo de, em havendo onde fazer o teste, as mulheres procurarem esses locais para a sua realização regularmente.

Com muita propriedade o Prof. Dr. Luiz Carlos Zeferino, da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, chamou a atenção que não apenas a falta de cobertura do SUS nesse aspecto deve ser reconhecida, mas, principalmente, a falta de organização em termos de informação e registro de cada um dos brasileiros no sistema de saúde, o que, definitivamente, não existe.

Fez um paralelo muito interessante e inteligente na capacidade da estrutura social e governamental reconhecer e atuar através da Receita Federal ou mesmo do sistema econômico e bancário sobre todo cidadão que tem conta em banco ou apenas contas a pagar.

Ali o cidadão existe, tem vários números e tem um registro draconiano de suas atividades, invejável até a George Orwell.

Na Saúde isso não existe. Muitas vezes se exibem números fabulosos de tantos e tantos exames de Papanicolaou realizados no país, mas o que se vê na verdade é que, muitas vezes, quem já fez o exame, tem uma grande chance de estar fazendo muitos exames, até mais do que o recomendado, e outras mulheres por sua vez (que simplesmente “não existem no sistema de saúde”) nunca fizeram um exame na vida.

É a mágica da estatística : você come dois frangos e eu nenhum; pela estatística ambos comemos um frango cada um….

A solução disso passa por um sistema de informação organizado.

Um número único de seguro social como faz os Estados Unidos ou, como lembrou a Coordenadora do evento, Dra. Maricy Tacla, um número único do cidadão sueco, sem complicações, que é sempre a sua data de nascimento e um número de ordem de registro civil do seu nascimento naquele dia (exemplo alguém que tenha sido o primeiro cidadão registrado no dia 10 de abril de 2011 receberia para toda a sua vida o número 10042011000001, para registro no sistema de saúde, carteira de motorista, imposto de renda, previdência, carteira de identidade, passaporte, etc. ).

Mais que isso com base nesse registro o nosso sistema de saúde deveria saber quem fez o Papanicolaou, quem está sem fazer ou nunca fez e notificar. Isso serviria para outras coisas importantes como vacinação, outras prevenções, etc. Do contrário, pelo atacado e à granel o que se observa é uma saúde imperfeita, com gastos não racionais para os objetivos finais.

Foi lembrada a experiência positiva nesse aspecto dos agentes de saúde comunitários e do próprio Programa de Saúde da Família em que a população se divide em pequenos grupos, comunidades ou áreas geográficas e o agente e as unidades podem identificar esses desvios relacionados com quem recebe alguma atenção e quem não recebe (e mesmo não se interessa em recebe-la, mas possa ser notificado sobre tal…).

Nas próximas postagens vamos abordar outros temas que forma objeto do referido evento, como quem transmite com mais facilidade o HPV (homem ou mulher), vacinas, meios diagnósticos novos, tratamentos novos e outros fatos interessantes.

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