terça-feira, 20 de setembro de 2011

Superbactérias - temas recorrentes que assustam a população.

Originalmente postado em 27 de Outubro de 2010

Como tornar um fato uma manchete?Como realçar um assunto, “dourar a pílula” ou mesmo tornar uma figura inexpressiva uma “personalidade” ou até um candidato “vendável” à opinião pública?

As técnicas são todas conhecidas do leitor inteligente. Marketing, “tratamento da notícia”, um exagero aqui, uma fonte que gostaria de aparecer um pouco mais (ou desfrutar de seus “15 minutos” de glória…) Por aí vão os truques de “esquentar” um assunto.

Vira e mexe aparecem as superbactérias na mídia.

Não existe uma superbactéria única, com foto, RG, endereço e CPF.

A microbiologia é um mundo em constante transformação. A resistência bacteriana aos agentes antibióticos é coisa que nasceu quando já se inventou a penicilina.

Decorre do abuso do uso desses agentes. Decorre dos mecanismos biológicos de sobrevivência das próprias bactérias, mais precisamente de suas capacidades bioquímicas e recursos biológicos.

Os antibióticos são separados por classes. Essas classes são definidas pela origem, como por exemplo as penicilinas, as cefalosporinas, os aminoglicosídeos. São agentes de uma mesma família que têm em comum uma origem quimica semelhante fundamental, um processo de obtenção, etc.

Os agentes vão sendo desdobrados em compostos mais avançados, com melhoras na sua composição química e isso é voltado à capacidade de cada um em atacar determinado ponto do ciclo biológico da bactéria. Assim temos antibióticos que impedem que a bactéria faça a sua cápsula ( seria como um agente que impedisse um ser humano ou um animal de formar a sua pele e, portanto, morrer em função da falta da proteção conferida pela mesma). Outros agentes interferem na síntese de determinadas proteínas que são fundamentais ao desenvolvimento da propria bactéria e a multiplicação desses micróbios fica comprometida e bloqueada e assim por diante.

Muitos desses mecanimos envolvem o bloqueio da síntese de determinadas enzimas, proteínas, etc.

Uma dita “superbactéria” é uma cepa de determinadas bactérias, as vezes vários gêneros delas, que incorporam um desenvolvimento, uma capacidade de inativar uma ação, bloquear uma etapa do antibiótico e assim por diante.

O episódio mais recente refere-se a bactérias que tem a capacidade de sintetizar uma enzima chamada KPC.

Essa enzima é responsável pelo mecanismo de resistência de um grupo de bactérias a uma determinada classe de antimicrobianos muito fortes e eficazes, de uso hospitalar, os Carbapenens (Ertapenem, Imipenem e Meropenem:).

A primeira bactéria que desenvolveu essa enzima foi a Klebsiella pneumoniae, que deu origem a sigla KPC.

Apesar de sua presença ser mais comum nessa espécie que originou o nome, a carbamapenase pode ser identificado em outras entero-bactérias (bactérias eminetemente da flora intestinal).

O primeiro relato da KPC foi registrado nos Estados Unidos no ano de 2001. No Brasil o primeiro relato foi feito em 2003, sendo a primeira vez que se registrou isso na América Latina.

O aparecimento dessas bactérias especiais só pode mesmo ocorrer em ambiente hospitalar pois é nesse ambiente que se tratam as graves infecções, em pacientes graves, com múltiplas doenças, imunossuprimidos e debilitados. É no ambiente hospitalar onde existe o confronto de bactérias agindo e se replicando e sendo combatidas com antibióticos suficientemente fortes e eficazes para a tentativa de vencer a parada. Ingenuidade seria pensar que elas apareceriam em outros locais ou na comunidade onde não se usam esses agentes, na sua grande maioria objeto de administração por via endovenosa, com bomba de infusão, etc. e preço extremamente elevado.

O fato torna-se inevitável e constitui uma realidade mundial, independente de todas as precauções das melhores instituições hospitalares do mundo todo. É uma questão de seleção natural dos seres vivos (o que naturalmente inclui as bactérias).

Torna-se, pois, um raciocínio ignorante tomar o aparecimento dessas “superbactérias” como um fato derivado de desleixo ou “exageros da Medicina”. Não há definição maior do que uma “batalha de vida ou morte” o que se tenta fazer por milhares e milhares de pacientes nos hospitais do mundo todo, todos os dias, trezentos e sessenta e cinco dias no ano. Sobretudo e com afinco naqueles que têm reais chances de uma recuperação total.

A prevenção ou procedimentos para diminuir ou conter esses eventos microbiológicos são simples e estão baseados em protocolos complexos de cuidados e procedimentos na manipulação desses pacientes, mas também se estendem a atitudes bastante simples como o fato de lavar as mãos e outros cuidados.

O ato de lavar as mãos deve se estender aos acompanhantes e visitantes de pacientes internados.

E uma coisa bastante importante a ser lembrada que todos podemos fazer é ter critério no uso de antibióticos mais comuns e de uso por via oral, no ambiente comunitário.

Isso não vai alterar muito as “superbactérias” que vão continuar existindo no front hospitalar, mas devem começar a fazer parte de uma cultura já existente no Exterior onde Farmácia não é supermercado e remédio não é um ítem para “self service”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário