terça-feira, 20 de setembro de 2011

Doenças raras, pesquisa médica e cidadania.

Originalmente postado em 10 de Agosto de 2010

Mahatma Gandhi escreveu que se todos os livros que amparam os fundamentos do Ocidente se perdessem e sobrasse apenas o Sermão da Montanha, um ícone do Cristianismo, ainda assim o Ocidente poderia se recompor. Literalmente não foram essas as suas palavras, mas o sentido sim.

Em tempos de eleição de todos os lados somos bombardeados com algumas noções que orientam o nosso sistema de governo, nosso Estado e a Nação.

Cidadania tem sido um dos valores mais valorizados e utilizados no chamamento das pessoas, para os assuntos que vêm à baila nessas ocasiões, nos últimos anos.

Dentro da cidadania cabe a pressão social por reclamos justos que interessam diretamente o cidadão e a coletividade. É como uma catarse pública das necessidades e anseios de cada um e da coletividade. Justo é reivindicar aquilo de que necessitamos e carecemos.

A identificação dessas necessidades e carências é cristalina a cada povo, cada comunidade e, até mesmo, a cada grupo organizado. O mesmo não pode se dizer quando deitamos o olhar nos interesses dos outros ou naqueles de outras comunidades e grupos.

A beleza em se identificar e pressionar não apenas pelo que precisamos e queremos, mas do que precisam e querem outras pessoas, grupos e comunidades, é inquestionável e se insere perfeitamente no espírito e nos fundamentos do curto texto do Sermão da Montanha, exaltado por Gandhi.

Pena que isso, no conjunto das nações, não seja muitas vezes identificado.

Parte, porque a pressão popular nem sempre exibe maturidade e independência e muitas vezes olha apenas o seu umbigo. No caso da manipulação abundam os exemplos de espertalhões, pessoas e instituições orquestrando a “pressão popular”. Mascaram ou descaradamente envolvem interesses pessoais, escusos ou menos nobres. Interesses de poder e domínio. Esses exemplos, infelizmente, todos nós, com mais de dois neurônios ativos, sabemos nomear, de súbito, meia dúzia de exemplos próximos, no país e no exterior.

Muitos, contudo, são inocentes úteis, massa de manobra moldável por poucos trocados ou fraca filosofia e ideologia de poucos neurônios, engrossando um movimento de milhões de marionetes, ansiosas por satisfazer interesse do dia e do agora.

Outros são tão difusos, que mesmo aqueles por quem se clama, sequer percebem o clamor.
Na Medicina nos últimos anos algo nessa exata medida vem acontecendo.

Refere-se ao clamor da comunidade científica e comunidade comum dos países de primeiro mundo em relação ao baixo volume de recursos, interesse e disposição de se pesquisar as doenças mais raras e/ou tropicais mais incidentes no terceiro mundo. No mundo pobre, digamos com todas as letras, sem subterfúgios semânticos.

É discussão longa levantada em revistas como o New England Journal of Medicine, através de várias dezenas de artigos e cartas, bem como em outras revistas de igual ou menor quilate, ganhando também várias instâncias da sociedade organizada de muitos desses países, incluindo audiências no poder legislativo de vários deles.

É responsabilidade social sendo cobrada de suas empresas, não apenas do que interessa ao quintal da casa de cada um, mas num olhar mas longe.

É prova inequívoca de que existe uma distinção entre sociedade e suas organizações não-econômicas de um lado e as empresas, representando a atividade econômica e o lucro de outro.

Esse é um daqueles fatos que devem ser chamados à atenção para as mentes tupiniquins extremamente limitadas e estreitas em sua visão. Aquelas que julgam todos os que não são brasileiros, ou seus “iguais”, como “capitalistas selvagens”, de alto a baixo.

Para essas mentes deficientes, com certeza, esse fato todo deve ter escapado ao conhecimento, como devem ter escapado vários outros exemplos da mesma natureza.

Para essas mentes, apenas fisicamente no século XXI, resta a limitação de seu mundinho. Restam os conceitos até,
pasmem, da “burguesia”. Embora, com grande probabilidade, noventa e nove vírgula nove por cento dos donos dessas mentes não saiba sequer o que foi um “burgo”…

O fato é que os reclamos pelo descaso científico de institutos governamentais e privados, empresas farmacêuticas e demais entidades envolvidas com pesquisa, começa a frutificar.

Entre outras ações concretas, já existem redes sociais como o Collaborative Drug Discovery em que a filosofia do “código aberto” está lá, disponível para todos os que se dispuserem investigar e pesquisar. Esse compartilhamento de conhecimento evita o “partir do zero” e propicia complementações de valor inestimável no mundo da pesquisa.

Gigantes como a empresa farmacêutica Glaxo-Smith-Kline estão aderindo a esse tipo de código. No caso específico da GSK, disponibilizando todas as fórmulas e informações de nada mais do que 13.500 compostos químicos de uso potencial na inibição do parasita responsável pela malária.

Malária, uma doença que, “por acaso”, temos aos montes aqui no Brasil, na Venezuela, em Cuba e em outros “recantos” envolvidos em “antagonismos ideológicos ressuscitados” por parte de algumas pessoas que parecem não simplesmente não ter um calendário em casa. Livro de História, então, nem pensar!!!

A propósito a citação de Gandhi :
“…se toda a literatura espiritual da Humanidade perecesse, e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido”

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