segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Alimentação, infertilidade, câncer - uma digressão.

Originalmente postado em 20 de Abril de 2009

Estudo científico americano recente mostrou o efeito deletério do consumo da carne bovina nos parâmetros do esperma e conseqüente reflexo negativo na fertilidade masculina.

Os vilões apontados foram os estrógenos e antibióticos utilizados no rebanho bovino, que nos Estados Unidos é quase que totalmente criado em regime confinado, fora das pastagens naturais. A utilização dessas duas substâncias fazem a “profilaxia” de infecções a que o rebanho está exposto e aumentam o desenvolvimento e ganho de peso, melhorando a produtividade.

Estudo já referido nesse blog, um pouco anterior ao citado acima apontou um aumento na incidência de tumores de testículo nas últimas décadas, observado através da análise de estatísticas e séries históricas de registro de neoplasia naquele mesmo país. Esse achado tem sido concordante com outros estudos europeus que mostram a mesma coisa.
Entre as hipóteses também estão hormônios homeopaticamente ingeridos na alimentação.

No Brasil a maioria do rebanho bovino não é criado em regime de confinamento. O gado pasta o bom capim natural das pastagens que avançam na fronteira norte e centro-oeste, mas está sujeito a uma série de outras doenças que faz com que regiões inteiras sofram restrições por falta de controle de zoonoses nos padrões de consumo do restante do mundo (febre aftosa, para lembrar a mais comum).
Por outro lado o frango, aquele do filezinho light grelhado, é, ao contrário, produzido em grande escala industrial em regime confinado e recebem as mesmas substância da Sra. Vaca e Sr. Boi. O Brasil é um grande exportador desse tipo de carne.

O conflito é patente. Os conflitos são patentes.

O boi brasileiro politicamente incorreto avança sobre a Amazônia e tanto lá como nos outros rincões do Brasil é produzido extensivamente, diminuindo a chance de “aditivos”.

O frango ecológico preserva a natureza em fazendas compactas, mas toma umas bolas.

O colesterol, tirada a pele crocante, é baixíssimo no galetinho grelhado. No ovo caipira, da galinha que cisca leve e solta, a sua quantidade na gema é muito maior do que nos ovos anêmicos das granjas das galinhas alimentadas pelas rações turbinadas.

É um dilema: quantidade sacrifica qualidade e vice-versa. Algo meio parecido com o que ocorre na agricultura. Pacificar consumidores, saúde pública, produção em larga escala, pragas e fator econômico é uma tarefa difícil, mas não impossível.

No macrocosmo isso deve levar alguns anos e algumas questões muito espinhosas vão ficar atravessadas no caminho: como transformar granjas, fazendas de gado, grandes plantações e toda a cadeia produtiva alimentar em uma atividade verde, que se contente até em reduzir sua quantidade e elevar seus custos, atendendo aos clientes exigentes do primeiro mundo, se existem milhões e milhões de pessoas que simplesmente passam fome? Populações e países inteiros que nem ao frango turbinado barato têm acesso ? Países cujas lavouras são obsoletas e sujeitas a todas as pragas, nas quais um mínimo de agrotóxicos seriam muito bem vindos ?

Não se trata de “transplantar” hábitos para essas pessoas, que são a grande maioria no mundo. Ao plano de 6 bilhões de bocas a alimentar alguns hábitos, bastante radicais são exibidos diariamente pelas lentes dos fotógrafos premiados e exaltados. São, por exemplos, africanos vegetarianos sem opção, desde o nascimento, clicados aos montes no seu resultado não tão saudável ao cabo de alguns anos. Muito diferente dos caucasianos que tiveram proteínas de sobra na sua infância e adolescência e na maturidade adotam um hábito alimentar caro e light. Os sem-proteinas andam side- by-side com um cenário apocaliptico de lavouras rudimentares, com produtividade insuficiente, como um day after da civilização, morta por guerras civis, fraticidas, tribais, de fazer inveja a todos os filmes pós hecatombe nuclear. A hecatombe da raça humana, afinal, talvez não seja tão complicada assim, mas esteja mais para a África que sofre, nos sérios indícios do continente onde teve origem a civilização humana. Talvez um efeito Orloff ?

No restante do mundo a produção em escala cobra um preço caro. Para manter o volume de alimentos, pesticidas, inseticidas, agrotóxicos, hormônios, antibióticos, transgênicos. Na escala é impensável o orgânico, o “green”. Tem quem pode pagar (bem mais caro) esses produtos e ainda com a possibilidade de comprar gato por lebre, mercê das falsificações de “selos verdes” dúbios, sem o rigor de uma cozinha judáica ortodoxa, como melhor exemplo, infelizmente também em menor escala.

Digressão dos fatos: assistimos a ação da Natureza. Seleção natural inexorável!

Ponto delicadíssimo (e evitado) de todas as tribos: ecológicos, verdes, azuis, políticos, espécies de plantão: população em explosão versus limites do planeta.
Muita gente para pouco planeta!

A proliferação de uma determinada espécie tem sempre seu apogeu e queda. Mecanismos naturais se encarregam de limitar e equilibrar os sistemas. Às vezes esses mecanismos estão intrinsecamente ligados a própria espécie; noutras em relação ao ambiente, seja ele um ambiente físico natural ou mesmo um outro organismo vivo. Há ainda os acidentes naturais, os fatos irracionais no plano social (guerras, extermínios, terremotos, mudanças climáticas, epidemias, viroses, etc.).

Parece-nos, numa digressão, que o ciclo de produção de alimentos, com todos os seus subterfúgios e sofisticação cria, na realidade, uma cadeia de eventos em que conseguimos burlar uma equação natural até um certo ponto. O ponto exato em que nossa alquimia se volta contra os próprios alquimistas!

PS - Esse blogueiro ainda não aderiu às novas regras ortográficas por vários motivos: primeiro porque elas custam a entrar na cabeça de quem, por mais de 40 anos, se esforçou em aprender o que já existia há muito tempo e alguns desocupados fantasiados, movidos à chá, vieram modificar (Deus salve os estudantes, que estavam a aprender de um modo e de repente se viram a braços com essas modificações; alguns às portas de exames e provas nevrálgicas para o resto de suas vidas). Segundo, porque o “Tio Gates” não se preocupou em lançar a “Novíssima Ortografia do Português” em seus onipresentes programas, cuja correção ortográfica atual já é mais burra do que esse escrevinhador e enche todos os picuás para desfazê-las, teimosas que são. Por últimos, leitores queridos, cochicharam ao meu ouvido que todo esse imbróglio lusitano periga ir por água abaixo, pois que a terrinha mãe, berço da língua de Camões, ainda não assinou o maledeto do Acordo. Sem assinatura de Portugal, necas de acordo algum… E o Brasil. Ah! o Brasil. Como sempre, já foi logo enfiando os pés pelas mãos…

obs - necas - gíria= nada ; picuás - saco ou bolsa de tecido grosso para levar roupas ou colher frutos (do tupi pikuas), vide também embornal.

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