terça-feira, 20 de setembro de 2011

Influenza e Sarampo - Atualização da vigilância epidemiológica pelo mundo.

Originalmente postado em 15 de Abril de 2010

Em número recente, de abril de 2010, da revista “The Lancet”, uma das revistas médicas mais conceituadas no mundo, chegam três notícias muito inter-relacionadas com o contexto que vimos observando na sociedade, principalmente no Brasil, nas últimas semanas.

As notícias referem-se:
1) um grande surto de sarampo no Zimbábue e cidade do Cabo, África;
2) a última reunião da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 23 de fevereiro (Comitê de Emergência) sobre o status da pandemia de gripe suína (influenza H1N1);
3) as últimas recomendações da mesma OMS para a vacinação contra gripe.

O que sarampo tem a ver com gripe e sua vacina? Absolutamente nada do ponto de vista médico estrito.
São doenças distintas, agentes distintos, mas que têm em comum a possibilidade de proteção através da vacinação.

Do ponto de vista social e público atual têm muito mais a ver porque exemplificam bem o contraponto à campanha irresponsável e ignorante que vem sendo feita, a torto e a direito, principalmente pela Internet contra a vacina da gripe. São totais desconhecidos (pessoas, “doutores”, sites, blogs e o diabo a quatro) elevados à condição de “oráculos da verdade” e com posição totalmente contrária à vacinação, com delírios de “teoria da conspiração”, rivalizando com os “blockbusters” do entretenimento, que abundam na televisão e no cinema.

É sabido que nos Estados Unidos existem algumas ONGs que são totalmente contrárias a todos os tipos de vacina, assim como existem outras que são totalmente contrárias a esse ou aquele medicamento, tratamento, cirurgia, alopatia, homeopatia, etc. São fruto do livre pensar e da liberdade de pensamento e expressão que naquele país imperam.

Mas o rigor científico que é exigido na ciência médica no mundo todo não é o mesmo que baliza esse pessoal. Citações sem embasamento, para-ciência. Casos esporádicos transformados em casos generalizados (por exemplo, a reação vacinal com Síndrome de Guillan-Barrè, uma paralisia raríssima, tornando-se uma “complicação tipo 1 caso em cada 3 vacinações” ou até mais absurdo do que isso!).

São opiniões e crenças convertidas em verdades, falsamente alavancadas por dados e depoimentos sem pé, nem cabeça, sem pesquisas sérias, e por aí afora. Ontem recebi um email que dava conta de um depósito de urnas mortuárias para uma mortandade sem precedentes a ser causada pela vacina que podia ser visto pelo Google Earth, tamanha a extensão da funerária ao ar livre… É risível para não dizer outra coisa de baixo calão…

Os ecos desses exageros, maquiados aqui e ali para maior “veracidade”, têm invadido nossos emails e até nossas conversas. É o reino da boataria generalizada.

Presta-se um desserviço à comunidade e engorda-se a ignorância popular.

Nesse sentido as três notícias se encaixam como uma parábola moderna sobre esses fatos.

É muito fácil essa atitude “naturalista” ou “conspiratória”, num mundo de hoje e na sociedade americana que viu praticamente banidas do seu país, doenças com grande cobertura vacinal como a varíola, rubéola, o sarampo, a poliomielite, a meningite meningocócica, tétano, raiva, caxumba, as flaviviroses (febre amarela) e boa parte das hepatites virais (A e B) que quando crônicas (principalmente o tipo B) são a principal etiologia da insuficiência hepática, que alimenta as tristes filas de transplante hepático no mundo todo.

Já no Zimbábue a situação não é a mesma.

Apenas entre 5 e 22 de janeiro desse ano oito crianças morreram de sarampo naquele país. Depois disso foram registrados 1.200 casos com 90 mortes pela referida doença. Em fevereiro na cidade do Cabo, África do Sul foram também registrados 422 casos confirmados de sarampo naquela cidade, com 46 casos extremamente graves, isolados em UTI, em 2 hospitais inteiros também isolados para o problema.

Já foi iniciada uma vacinação em massa, começando nas regiões mais críticas.

O leitor aqui do blog é inteligente e não preciso me alongar.

Quanto à gripe os dados compilados pela OMS apontam a regressão em vários países, onde já passou o pico da transmissão e dos casos novos, mas ainda não se pode generalizar esse conceito ao mundo todo e diminuir o nível de alerta mundial que o órgão manteve.

Aproxima-se a estação fria, de inverno, no hemisfério sul que concentra países mais pobres na faixa que vai do nosso continente sul americano, África e toda a Ásia pobre. Além disso, até o dia 28 de fevereiro de 2010, casos confirmados continuavam a ser reportados em 213 países pelo mundo todo, incluindo no total 16.455 mortes notificadas e documentadas pelo H1N1.

As áreas mais ativas no presente momento são partes do sudeste da Ásia e sudeste da Europa.

Além disso, no mesmo sudeste da Ásia e Mongólia na China começam a aparecer as gripes anuais pelo vírus da influenza B.

A sazonalidade das gripes é bastante conhecida e caminha junto com o sol na geografia mundial. Nascem no leste e avançam para o oeste.

Por essa razão a terceira notícia nos dá conta da recomendação da OMS de incluir na vacina anual da gripe comum para a próxima temporada no hemisfério norte (entre novembro de 2010 e abril de 2011), além da cepa H1N1, as cepas da influenza B e influenza A H3N2.

Nenhum comentário:

Postar um comentário