segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Tratamento cirúrgico para o Câncer de Próstata - Posição da Sociedade Brasileira de Urologia

Originalmente postado em 14 de Novembro de 2008

Abaixo nota divulgada pela SBU sobre a cirurgia para o câncer de próstata.
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TRATAMENTO CIRÚRGICO PARA O CÂNCER DE PRÓSTATA - POSIÇÃO DA SBU

Prezado Associado,

Em função de notícias há muito veiculadas na mídia sobre o melhor tratamento cirúrgico para o câncer de próstata, em geral propalando resultados não endossados pela literatura médica, quer seja pela cirurgia aberta, laparoscopia ou mais recentemente pela cirurgia robótica, registramos:

1- A SBU como instituição maior na defesa dos interesses do urologista a da população em geral, com base na justa informação e ética nos princípios de divulgação médica, não concorda com reportagens na mídia onde de forma velada tenta-se a divulgação de resultados sem o aval científico e sem o respaldo da literatura médica.

2- Que a SBU antevendo uma guerra mercadológica entre simpatizantes de diferentes métodos os quais são defendidos muitas vezes em função de interesses econômicos e de resgatar investimentos gigantescos em tecnologia.

3- Em reportagem recente da revista Veja (reportagem de capa) houve o registro de informação tendenciosa cuja fonte de consulta não tem a força institucional e a isenção jornalística necessária para essa divulgação. A SBU não foi consultada e uma carta minha expondo todos esses pontos como resposta à referida reportagem, não foi publicada.

4- A SBU por meio do seu departamento de URO-ONCOLOGIA fará rapidamente uma diretriz com todas as correntes que militam nesse universo, a saber: Cirurgia aberta, laparoscópica e robótica.

5- Após essa diretriz terá seu posicionamento oficial, inclusive fazendo sua divulgação na mídia em geral.

6- A SBU se reserva o direito de questionar judicialmente ou extra judicialmente o médico associado ou não, que emitir informações descabidas ou inverídicas, infringindo assim o Código de Ética Médica no seu artigo 132.

Atenciosamente,

JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA

Presidente da Sociedade Brasileira de Urologia

Gestão 2008/2009

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Entenda a nota da SBU

Existem muitas pragas na Medicina atualmente. Temo que sejam mais do que 7 pragas, como as do antigo Egito.

Se você pensa que elas dizem respeito apenas aos médicos está redondamente enganado, elas andam atingindo você e toda a população na mesma proporção ( e em alguns casos até mais a população leiga …).

Entre estas pragas, uma delas é aquela relacionada com o marketing médico ou o marketing em saúde.

Marketing, nos dicionários é definido como “comercializar, vender”, “mercadologia” . Segundo o renomado Dicionário Michaelis :

marketing
mar.ke.ting
(márqueting) sm (ingl) Propag 1 Comercialização. 2 Execução de todos os atos de comércio que sirvam para dirigir o escoamento de mercadorias e serviços do produtor ao consumidor. 3 Conjunto de operações que envolvem a vida do produto, desde a planificação de sua produção até o momento em que é adquirido pelo consumidor

Nada contra os respeitáveis profissionais dessa área em geral, mas em saúde o limite entre o marketing ético e o anti-ético é muito tênue.

Não se trata de uma mercadoria qualquer, Saúde e Doença, embora mais e mais, alguns médicos, hospitais e laboratórios insistam que “é um negócio” como qualquer outro e passem a ser assim “administrados”.

Existem mesmo algumas dessas instituições (que por isso mesmo estão deixando de ser instituições para se tornarem apenas “firmas”) que têm em seus mais altos postos marketeiros a lhes comandar e a reproduzir vários e vários “negócios” de saúde. Aliás o marketing esqueceu a doença (palavra proibida) agora só se fala em saúde! Num apelo consumista, esquecendo-se ou querendo fazer esquecer que 90% da atividade médica lida com a doença, lutando sim para restabelecer a saúde, mas ainda é a doença que motiva consultas, que motiva exames laboratoriais, radiografias, exames de imagem, cirurgias, radioterapias, quimioterapias….

Os pacientes, ou os doentes, como o seu velho médico de família carinhosamente se referia aos seus familiares, na nova onda marketeira viraram “clientes”.

A mensagem e a imagem a ser passada é de algo mais “cool” , algo mais “light”, nada de doença. Um lugar famoso em S. Paulo, pródigo em contratar recem formados, obriga seus jovens médicos a atender todos os “clientes” com um sorriso permanente, que faria inveja ao Silvio Santos, não importando o quão ridículo esse sorriso possa ser para alguém com dor, com câncer ou com qualquer outra doença grave…

O ato médico passou a ser secundário nas “ações de saúde, nas ações de marketing”.

Resultados, ebtidas, end point, “valor do ticket” e todas outras expressões idiotas do casamento de marketeiros e administradores deslumbrados têm corroido a profissão médica, a relação médico-paciente.

Aliás, um bom administrador, honesto administrador, veria com facilidade que o ponto nevrálgico do tema Saúde no país todo, em todos os níveis, desde o SUS até os convenios e instituições privadas, está no excesso de intermediários que se colocam, de uma maneira ou de outra, entre o paciente e o médico, tornando o ato médico, que o primeiro precisa e o segundo pode dar, uma coisa mirabolante, estressante, incompleta e insatisfatória.

Algo está errado quando A precisa de B, C intermedia a relação de A com B, com o intuito de “facilitar”, “administrar”, etc. e disso resulta A insatisfeito, B insatisfeito e C cada vez mais rico.

Sempre, resguardando-se as honrosas exceções, vista a carapuça quem tiver a cabeça no tamanho desta !

Nesse ambiente, um dos efeitos negativos que o marketing em saúde pode gerar está esse tipo de situação, como o apontado pela nota da SBU: a divulgação de informações errôneas, tendenciosas, sem respaldo, acenando com “procedimentos maravilhosos”.

Preocupado em aparecer, preocupado em amortizar um investimento tecnológico astronômico as pessoas saem a fazer proselitismo disso e daquilo, literalmente: “forçando a barra”….

O equipamento precisa se pagar, o doutor precisa aparecer, estar em evidência e encher seu consultório, utilizar o aparelho….

Acrescente-se a isso o interesse original dos fabricantes em vender equipamentos e outras parafernálias caras e mesmo miúdas, muitas vezes estabelecendo uma relação promíscua (que é o termo mais adequado) com toda a “cadeia do negócio”, envolvendo, participações e “parcerias” (outra palavra do momento…) e você pode, como leigo, compreender facilmente a praga a que me referi.

Num passado não muito distante, na nossa especialidade, a Urologia, já tivemos alguns “micos”, que foram enfiados goela abaixo de muitos pacientes e médicos incautos, vítimas dessa pressão absurda e subreptícia. Exemplos como os aparelhos de termoterapia prostática, apontados como revolucionários e que o tempo mostrou que, na realidade, eram uma porcaria (alguns hospitais simplesmente jogaram fora seus aparelhos). Mesma coisa com alguns tipos de LASER para próstata. Muitos dos aparelhos iniciais, de um certo tipo de LASER, mostraram-se desastrosos em seus resultados. Todas as demais especialidades têm histórias parecidas.

Mas, como diz a sabedoria, em todo conto do vigário, não existe apenas a má-fe confessa e premeditada de quem o aplica, existe também o interesse inconfesso, o vislumbre da vantagem em quem o recebe.

E assim é, em geral, com a população brasileira, mesmo nas camadas diferenciadas e na nossa mídia, com suas honrosas exceções.

Há um deslumbramento por novas tecnologias, por tratamentos que ainda são experimentais e são sempre apresentados já como definitivos e revolucionários, “must of the must”, já utilizados à larga mano, consagrados. Tudo o mais é considerado como retrógrado e inservível.

Para quem pensa assim: BOM DIA ! Aqui o planeta Terra, São Paulo, Brasil. Preto no branco. Realidade, acorde do sonho. As eleições já foram (outra seara empesteada pelo marketing).
A rosa é bonita, mas é rude e tem espinhos reais !

“… what a grotesque thing a rose is… ”
The Great Gatsby / F. Scott Fitzgerald

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