terça-feira, 20 de setembro de 2011

Criptorquidia - cinco minutos com o especialista

Originalmente postado em 7 de Abril de 2010

Criptorquidia é uma situação em que o testículo da criança não desce até o escroto (a bolsa que contém os testículos).

Porque o testículo “desce”?
Desce porque na nossa formação, como embriões, nossos testículos são formados ao lado dos nossos rins e o embrião é como uma concha que vai se abrindo. Nessa “abertura” o testículo de cada lado vai migrando, por dentro da nossa cavidade abdominal até a região inguinal (a virilha) e desce até a bolsa, conhecida como escroto (o famoso “saco”, também chamado, com redundância, como “bolsa escrotal” ou “saco escrotal”).

Para que o testículo desce?
Na raça humana e também em alguns animais o funcionamento do testículo deve ser, idealmente, num ambiente de temperatura entre 2 e 3 graus centígrados abaixo da temperatura corporal. Se isso não ocorre existe prejuízo na formação dos nossos espermatozóides, que ficam lerdos, de morfologia alterada e, com o passar do tempo, o tecido que os forma sofre de tal maneira que a sua produção cai e a pessoa caminha para uma infertilidade.

Quais são as funções do testículo?
O testículo produz os hormônios sexuais masculinos (o principal é a testosterona) e também tem a função reprodutora que é a produção de milhares de espermatozóides, as células reprodutivas masculinas com 23 cromossomos que se juntam com o seu equivalente feminino, o óvulo que tem os outros 23 cromossomos da mãe. Uma pessoa adulta normal tem então 46 cromossomos e os sexuais: XX na mulher e XY no homem.

Quando o testículo desce?
Os testículos vão para a bolsa entre a 27ª e 34ª semana de gestação (nessa semana 80% deles já desceram para a sua posição normal). A criptorquidia é a anomalia congênita mais comum nos bebes do sexo masculino. Aparece em 3% deles todos. Após o nascimento o testículo ausente pode estar dentro do abdômen, no canal inguinal (geralmente palpável) ou, mais raramente em locais fora do trajeto habitual (ectópicos). Geralmente 80% dos testículos que não estão na bolsa são palpáveis no exame físico o restante, 20% são não palpáveis podendo estar no abdômen , como já dito, estar atrófico ou já ter desaparecido. Dos testículos fora da bolsa 70 a 77% descem até os 3 meses de vida do bebe. Após um ano de idade a criptorquidia tem uma incidência de 1% que é igual também na vida adulta (entre os homens adultos a condição existe em 1 para cada 100 homens).

Existem pessoas mais propensas a apresentar o problema?
Bebês de baixo peso e prematuros têm mais chance de apresentar o problema. O consumo de cola (vício de cheirar cola) também está comprovado como fator causal, aumentando a chance da criptorquidia. O antecedente de casos na família também aumenta a chance de um bebê apresentar o problema nas seguintes proporções: 3,6 vezes mais se existe um membro qualquer na família que teve o problema; 7 vezes mais a chance normal se for um irmão que apresentou o problema; 4,6% mais se o pai da criança teve criptorquidia. Nos Estados Unidos também se verifica uma incidência maior desse problema entre os hispânicos e afro-descendentes.

Quando uma criança nasce sem o testículo na bolsa o que pode haver?
Em primeiro lugar o testículo que não está na bolsa será identificado clinicamente (palpável) em 80% dos casos; nos restantes 20% ele não será identificado como já foi dito. O testículo pode existir no canal inguinal, acima da virilha, local mais comum (“no caminho natural dele”) ou estar dentro do abdômen (necessidade de exames e até laparoscopia para localizá-lo). Pode também estar ausente (vai se atrofiando ainda na fase de embrião (no inglês “vanishing testis”) ou se apresentar atrófico, já alterado gravemente no nascimento.
Outro fato que pode acontecer com esses pacientes é o aparecimento de algumas condições associadas à criptorquidia: Hérnia inguinal do mesmo lado é a mais comum (em 90% dos casos) e mais raramente: a torção do testículo e outras anomalias congênitas mais raras, como a epispádia e hipospádia (abertura anômala do canal do xixi, fora da ponta do pênis, no trajeto do canal (uretra), na região dorsal do pênis e na parte de baixo (ventral), respectivamente.

O testículo criptorquídico também tem uma chance grande de alterar a fertilidade da pessoa quando adulta. A temperatura maior de 2 a 3 graus Celsius pode interferir nas células germinativas que existem nos testículos. As alterações vão desde a diminuição do seu número até alterações na linhagem das células tronco fetais que vão se convertendo em células tronco adultas e em espermatócitos. Essas alterações ocorrem muito precocemente nos primeiros anos de vida da criança, já marcadamente entre o primeiro e segundo ano, daí a recomendação em se fixar esse testículo ainda no primeiro ano de vida da criança, na tentativa de reverter esses efeitos deletérios sobre o funcionamento do testículo. Essa fixação é um procedimento cirúrgico. Em menor escala se utilizam hormônios para tentativa de uma descida espontânea, com o auxílio de medicamentos.

O testículo fixado está isento de problemas na vida adulta?
Não. Ele deve ser periodicamente examinado. A chance de desenvolvimento de um tumor de testículo é bastante aumentada nesses testículos quando comparados com a chance do mesmo problema em testículos normais. Um em cada dez tumores de testículo ocorre em testículos criptorquídicos. A probabilidade de aparecimento de um tumor num testículo normal é estimada em 1 para 100.000 pessoas. Quando existe a criptorquidia essa chance é de 1 para 2.550 ! Isso representa, praticamente, uma chance 40 vezes maior.
O controle deve ser anual pelo urologista, com palpação e ultrassonografia, além de alguns marcadores dosados no sangue, diante de qualquer suspeita.

O tumor de testículo detectado precocemente (pequenos tumores) são potencialmente curáveis, completamente na grande maioria das vezes e sem interferir na expectativa de vida do homem assim tratado. A doença não vai roubar anos de vida do paciente por ela própria.

O que é testículo retrátil?
É uma situação que simula a criptorquidia. Nela o testículo sobe por reflexo (reflexo cremastérico). Esse reflexo existe normalmente (por exemplo quando pulamos em uma piscina gelada, nas relações sexuais, muitas vezes, etc.). Em alguns rapazes e adultos ele pode ser mais exacerbado. O urologista pode diferenciar uma condição da outra com facilidade.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá Dr. meu filho primeiramente foi diagnosticado com testículos retrateis, fez a cirurgia em apenas um testículo aos 2 anos, fomos juntamente com seu medico acompanhando a evolução, hora os testículos eram palpáveis hora não, agora aos 5 anos meu filho terá que fazer a cirurgia de novo no mesmo testículo e depois no outro. Minhas perguntas são: Isso é um caso de testículo retrátil ou criptorquidio? Porque ele terá que fazer de novo essa cirurgia? Porque ele terá que tomar hormônio mesmo após essas cirurgias? O medico dele falou que ele tem os testículos pequenos, será que essa espera até os 5 anos já não comprometeu sua fertilidade e produção de hormônios?
    Agradeço muito sua atenção e suporte.

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