sexta-feira, 16 de setembro de 2011

IPod e raios - uma curiosidade médica - um cuidado banal.

Existe uma celeuma muito grande em relação aos efeitos físicos de fenômenos naturais e criados pelo homem sobre nosso organismo. Uma dessas controvérsias deriva da grande quantidade de ondas eletromagnéticas a que estamos expostos nos últimos anos, em quantidades crescentes e preocupantes.
Num passado não tão distante era comum que nossos auto-radios, embora funcionando muito bem pela cidade, sofressem uma série de interferências quando nos aproximávamos da Avenida Paulista, em São Paulo, uma área que notoriamente concentra uma grande quantidade de antenas transmissoras e retransmissoras de rádio, tv, telecomunicações ( talvez a maior torre da cidade, dessa última modalidade, fique próxima à vizinha Avenida Brigadeiro Luiz Antonio) .

Hoje os auto-radios evoluiram muito em qualidade nesse sentido, mas as vezes, ainda, as emissoras de ondas médias estão sujeitas a essas interferências. Os experts e especialistas garantem (?) que esse banho de eletromagnetismo não afeta em nada a saúde humana, incluindo-se agora as ondas das células de telefonia móvel, que constituem um verdadeiro “oceano” em nossa volta.
Alguns estudos escandinavos afirmaram categoricamente que o uso do celular não causa dano individual aos seus usuários ( a preocupação maior é com tumores cerebrais). Fosse outro lugar qualquer, que não a Escandinávia, de ilibada reputação científica mundial, alguns analistas mais xiitas estariam de sobrolho elevado procurando uma “teoria da conspiração” pela associação entre grandes fabricantes de cell fone naquela região e a pesquisa em tela. Pura neurose. É natural que as pesquisas venham de onde a telefonia celular praticamente começou. Lembro-me até hoje do espanto, quando na Suécia, num congresso médico, há muitos e muitos anos, quando vi um sujeito jovem falando sem parar num pequeno telefone sem fio e sem antena, num barco no meio das dezenas de ilhas dos arredores da bela Estocolmo.

Mas não há consenso. Um outro estudo recente chama a atenção para o fato de que as coisas não são bem assim, tão pacíficas, quando consideramos crianças ( leia-se pessoas ainda em desenvolvimento).
É interessante porque esse tipo de afirmação envolvendo riscos à exposição e uso de novas tecnologias, muitas vezes não se firma em bases de conhecimento, digamos assim, muito sólidas. Existe, nesse particular, um fator importante que é o crivo do tempo.
Quando se inventou a radioscopia (um dispositivo de raio X que emite radiação contínua para que se possa visualizar, num écran, uma parte do corpo - ou boa parte dele), houve época em que, nas festas de sociedade mais chiques, o “must” era disponibilizar um aparelho desses para visualizar o esqueleto dos convidados num aposento devidamente escuro, às custas de uma radiação totalmente descontrolada. Um misto de inocência, ignorância, frivolidade e fatalidade, que talvez não se aplique com tanta severidade com o reverso da mesma moeda em relação a famosa Abreugrafia, em função dos benefícios trazidos pela sua aplicação.

Só muito mais tarde, no entanto, é que fomos aprendendo o quão grave eram as exposições maciças de RX ao organismo, mesmo cumulativamente, nas inocentes radiografias, que, diferentemente da radioscopia, têm sua radiação calculada e aplicada numa fração de segundos).
Mas o objetivo de nosso pequeno artigo hoje não é esse.
Envolve um artigo muito curioso que saiu no The New England Journal of Medicine (julho/2007), talvez a mais conceituada revista científica médica, sobre o uso de IPod durante tempestades, principalmente as com raios e trovões.
O conhecimento dos efeitos dos raios nas pessoas vem sendo acumulado há muitos anos e sabe-se que o jeito mais comum de um raio atingir uma pessoa é pelo efeito “side flash” em que o raio, após atingir uma estrutura maior, como por exemplo um poste, uma torre ou uma árvore, “pula” para a pessoa que está alí próxima. Registram-se também infelicidades em que o raio cai diretamente sobre a pessoa.
A corrente que se transmite causa várias reações musculares violentas e muito graves (contrações em opistótono), que, de tão fortes, são capazes de arremessar a pessoa longe da sua posição original, levando a lesões traumáticas secundárias à queda e ao arremesso contra prováveis superfícies perfurantes, cortantes, etc., além das lesões da corrente elétrica propriamente dita. Muitas vezes o trauma do deslocamento poder ser fatal.

A pele tem uma resistência extraordinária à descarga elétrica que faz com que o raio sofra um efeito conhecido como “flash over”, transferindo essa corrente para a circunvizinhança, fora do organismo.
A presença de objetos metálicos nas roupas ou dentro delas, em contato com a pele da pessoa atingida, pode canalizar a corrente para o interior do organismo e causar danos mais sérios.

No artido do New England foi descrito o caso de um homem que estava utilizando um IPod, durante seu jogging, e recebeu uma descarga ao lado de uma árvore. Os fones de ouvido funcionaram como condutores para o interior do ouvido levando a ruptura timpânica bilateral, pelo efeito do calor da corrente e súbita expansão do ar, além de danos ósseos no ouvido interno, mandíbula e ossos temporais, necessitando de cirurgia. Além disso, os fios do IPod até as orelhas produziram queimaduras lineares no seu trajeto, no peito, pescoço e orelhas (segundo a terceiro grau).
Fica, então, o alerta sobre o perigo do uso dos diversos equipamentos musicais, fones de ouvido, etc. durante uma tempestade…
Correr , cantar e ouvir música na chuva, só no cinema que a chuva é de mentirinha !
Em outra ocasião falaremos de como o excesso e abuso desses equipamentos têm contribuido para a formação de uma geração de surdos.

Originalmente postado em 15 de Maio de 2008

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