sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Exames (não tão) maravilhosos!


Muitos pacientes costumam perguntar se o PSA (antígeno prostático específico) não é suficiente e/ou substitui o toque retal na prevenção do câncer de próstata. A resposta negativa deixa alguns frustrados pois existe sempre a esperança de que a Medicina descubra e invente testes, equipamentos e remédios cada vez mais precisos e infalíveis.
Esse comportamento eufórico e até ufanista é inclusive alimentado pela mídia, muitas vezes vítima da manipulação de fabricantes de equipamentos médicos, testes, medicamentos que alardeiam seus produtos como tal. Pense um pouco e você faltalmente vai se lembrar de alguma manchete ou reportagem principal das nossas revistas semanais sobre um equipamento fabuloso capaz de detectar “um glóbulo vermelho” em algum lugarzinho escondido do nosso organismo.


Provavelmente o efeito disso é uma romaria aos consultórios, clínicas e hospitais com aquele espírito “também quero fazer”.
No caso do PSA calcula-se que em torno de 15% dos cânceres prostáticos possam existir e progredir sem grandes alterações na sua dosagem sanguínea. O toque retal complementa bem esses casos e, como tal, nada substitui uma avaliação clínica urológica completa, incluindo o PSA.
Em relação ao HPV (vírus do papiloma humano) o raciocinio é idêntico em relação aos testes de biologia molecular que detectam o DNA viral (entre esses, os mais conhecidos são a captura híbrida, o PCR, a hibridização in situ, etc). Alguns pacientes têm sido submetidos única e exclusivamente ao teste no pênis ( sim assim genericamente) sem nenhuma avaliação clínica criteriosa com histórico e exame genital específico (incluindo a peniscopia).

Infelizmente muitos “resultados pela metade” ficam por aí até a surpresa da verruga.
O teste é muito sensivel, mas precisa de alguém que o indique corretamente, indique eventualmente os locais específicos de cada paciente, colha o material adequadamente, e principalmente interprete e acompanhe o paciente e não os resultados do exame. É como ter um canhão sofisticadíssimo que seja apontado a esmo, sem saber para onde… Recentemente alguns pesquisadores da Flórida publicaram no Journal of Infectious Diseases um artigo bastante interessante mostrando os locais anatômicos adequados e mais importantes para a coleta de material para a detecção do HPV em homens heterossexuais (J Infect Dis 2007 oct 15:196(8):1146). Conforme já haviamos publicado anteriormente até em tratados médicos nacionais ( Tratado de Ginecologia, Hans Halbe, 2a edição, Roca) os resultados desses pesquisadores também apontaram como o local mais adequado a coleta de material o prepúcio (49.9%) seguido da glande e sulco bálano-prepucial (com 35.8%) que juntos perfazem uma detecção bastante adequada desse vírus. Interessante notar que a detecção em material uretral perfaz apenas 10% e no sêmen 5%, o que confirma quão inadequado são esses locais/ materiais isoladamente para a detecção do HPV masculino.

Nesse estudo do H.L. Moffitt Cancer Center and Research Institute os pacientes foram submetidos a coletas em todos lugares, comparando-se então os resultados de cada um dos locais. Além do que já foi dito, chegou-se à conclusão de que, regra geral, se excluídas as amostras perianal, escrotal, sêmen e uretra teremos deixamos de diagnosticar menos do que 5% de HPV nesses homens heterossexuais. Assim o recurso da biologia molecular no diagnóstico do HPV é útil , mas como o canhão sofisticadíssimo, deve ser bem apontado, bem indicado (e bem colhido) para evitar desperdício de recursos e uma sensação de segurança que pode ser falsa e prejudicial.

Originalmente postado em 21 de Abril de 2008.

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