segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Cirrose hepática e sangramento do esôfago; doenças relacionadas?

Originalmente postado em 12 de Setembro de 2011
 
Uma cliente envia um e-mail perguntando o que o esôfago tem a ver com a cirrose. É só uma coincidência, doenças simultâneas?

Não. A cirrose é o resultado final de agressões seguidas ao tecido hepático (o fígado). São vários surtos de hepatite que vão inflamando e cicatrizando o tecido, fazendo com que o órgão vá perdendo função. Normalmente o fígado tem uma característica esponjosa e funciona como um verdadeiro “filtro” bioquímico do sangue absorvido em todo o intestino. O sangue é carreado para o fígado através de uma grande veia, a veia Porta. Fica fácil entender que se essa estrutura esponjosa vai ficando enrijecida o caminho do sangue torna-se difícil e o organismo busca atalhos para o grande volume de sangue que tem que passar o obstáculo que o fígado cirrótico passa a ser. Esse tipo de resposta caracteriza a formação de circulação venosa colateral (são atalhos como pequenas estradas quando uma grande rodovia é interrompida num ponto). Evidentemente essas “pequenas estradas” ficam lotadas e uma das vias são as veias do esôfago que tornam-se verdadeiras varizes, grossas e salientes na luz do órgão, que é um tubo que liga a garganta ao estômago. Fica fácil entender porque essas veias dilatadas e finas, num tubo sujeito ao trânsito de alimentos, possam se romper com facilidade e sangrar.

Pior que isso o sangue que atinge o intestino é pura proteína que não vai ser metabolizada corretamente (o fígado está bastante insuficiente) e o problema se agrava, levando ao coma hepático.

A principal causa de cirrose hoje é a hepatite C não tratada, depois o alcoolismo crônico, hepatite B, hepatites químicas (e aqui cabe chamar a atenção para o uso de algums “remédios naturais como as ervas noni, Senna e cáscara sagrada, muito em voga em várias “fórmulas naturais”…) e outras causas mais raras, como as hepatites auto-imunes. Uma causa também bastante importante é a esteatose, deposição de gordura no tecido hepático, que a longo prazo pode evoluir para a cirrose, conforme a esteatose vai aumentando.
Especialistas em Hepatologia estimam que na próxima década esse tipo de problema possa assumir o primeiro lugar na lista de causas da cirrose hepática.

A cirrose pode facilitar o aparecimento do câncer de fígado. Outros problemas advindos da insuficiência hepática, são cansaço, aparecimento de água no abdomen que pode ir aumentando gradativamente (ascite), ginecomastia (desenvolvimento de mamas no homem), icterícia (pele e mucosas amareladas), alterações mentais (confusão mental - delirium tremens também na abstinência alcoólica), problemas hemorrágicos (em função da coagulação comprometida - o fígado produz praticamente todos os fatores de coagulação do organismo), tremores, hematomas, disfunção erétil e alterações menstruais na mulher.

O único tratamento efetivo é o transplante hepático e medidas preventivas, antes da evolução completa do quadro.

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