segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ejaculação Precoce

Originalmente postado em 22 de Maio de 2009

Com adendo em 10/6/09 no final


Quem acompanhou a Andrologia, uma parte da Urologia voltada à parte sexual e hormonal masculina, nos últimos 15 anos notou uma evolução muito interessante. Os conhecimentos sobre a impotência fizeram com que, em primeiro lugar se adotasse uma designação politicamente correta para o problema - disfunção erétil. Em segundo lugar houve um grande desvio do eixo em relação a origem do problema: tivemos uma diminuição (exagerada até!) das causas psicogênicas, em favor de uma esmagadora simplificação, misturando causa e tratamento no aspecto orgânico. Praticamente tudo passou a ser tratado com medicamento, dissociando-se (ou tentando fazer isso…) a ereção da relação sexual, como um todo.

Explico-me : antes vários casos claramente tinham uma origem psicológica (um relacionamento complicado, um histórico sexual cheio de problemas desde o início da atividade sexual da pessoa, uma parceira complicada, um aspecto afetivo complexo, medos dos mais variados tipos, etc). De repente, com a pílula azul, imaginou-se que agora tínhamos um “tanque de guerra” que passava por cima disso tudo e simplesmente na hora que o sujeito a tomasse, trinta a quarenta minutos depois, com um pequeno esforço mental e algumas preliminares, meio assim no tapa, a ereção automática e garantida resolveria tudo.

Felizmente para uma boa parte das pessoas com graus variados de disfunção isso resolveu o problema. Funcionou como um “empurrão” e muitas relações sofreram uma “psicoterapia de choque”, assim também “no tapa”.

É certo que de um lado isso foi bom para alguns, mas de outro a coisa foi meio radical. Algumas pesquisas recentes mostraram que alguns relacionamentos foram postos a pique, impiedosamente, não resistindo a “psicoterapia pasteurizada de caixinha”. Outros ainda correm sério perigo - 54% dos usuários desses medicamentos, com união estável, admitiram que passaram a ter relações extra-conjugais após a utilização da droga mágica…

No campo médico começamos a assistir o “efeito Orloff” desta farra. O “day after” de tanta auto-medicação.

Vamos comentá-lo a seguir, porque, antes, vamos voltar à outra parte interessante da Andrologia que começa a se agitar - a ejaculação precoce.

Durante muito tempo a ejaculação precoce foi estudada e compreendida nas suas causas e possíveis intervenções para tratá-la.

Por definição, a ejaculação precoce ocorre quando entre a ereção (ou as vezes apenas a intenção de relação) e a ejaculação o tempo fica em 1 minuto ou menos. Registram-se casos extremos de ejaculação até sem ereção.

Algumas definições tentam ser mais liberais e abrangentes, classificando a ejaculação precoce como aquela que é rápida e insuficiente para que a parceira atinja o orgasmo.

Outras associam o tempo curto, percebido pelo homem (e muitas vezes percebida e manifestada ou não pela parceira), comprovando-se claramente a falta de auto-controle da ejaculação, percebida pelo próprio homem.

Porque tanta complicação???

Não é sem razão. A definição depende de uma análise muitas vezes pessoal, caso a caso. A primeira pergunta que cabe é desconcertante, mas muito válida: E se a parceira tem dificuldade em atingir o seu orgasmo ?

Muitas vezes no consultório a ejaculação precoce é um diagnóstico muito fácil se o paciente apresenta uma mudança do seu padrão anterior. Antes tinha uma vida sexual que satisfazia a si e a sua parceira e isso muda, com evidente diminuição do tempo em que consegue evitar o término da relação, atingindo o orgasmo.

Quando, porém, o paciente é jovem e não tem nenhum padrão anterior há a necessidade de muita conversa na consulta para estabelecer algum padrão e dissociar a situação de uma parceira em específico.

Além disso, o que sabemos muito bem é que a ejaculação precoce está claramente associada a algum estado ansioso. Algum grau de ansiedade que possa mexer com a nossa bioquímica. Stress é um deles. Mas, certamente, encontramos muitos estados emocionais, psicológicos e pessoais envolvidos com essa alteração bioquímica.

Dessa maneira, a ejaculação precoce é uma disfunção e não uma doença - a causa orgânica (que se encontrada, definiria uma doença) é raríssima. É muito mais um desvio, uma alteração do comportamento. É resposta a uma situação que não se encaixa na tranqüilidade que deve existir na relação sexual.

Bioquimicamente isso é bastante claro. Sexo não combina com stress, ansiedade e todos os estados em que a adrenalina está muito elevada.
Sexo está mais para relaxamento, para todas as reações opostas à reatividade natural que temos diante de um desafio, um problema, uma resposta de alarme, de luta e prontidão. É psicologia e fisiologia básica. Todo o organismo reage quando ameaçado - quando em situação de extremo perigo ninguém tem ereção; pelo contrário todo o sangue é desviado para as áreas críticas do organismo - cérebro, coração, pulmões, órgãos vitais. A mão que estava quentinha torna-se fria, as pupilas se dilatam, o coração acelera, a respiração aumenta - a luta e iminente. Pênis e escroto, nessa hora, murcham e se retraem, estão recrutados para isso, o sangue que ali estava vai contribuir para outras áreas e a retração (resultado da contração muscular generalizada) também ajuda a proteger os próprios órgãos reprodutores - é a chamada “economia de guerra”. Em casos extremos, há a descarga adrenérgica em que pode haver a eliminação de urina, fezes e esperma, como a vista nos enforcados.

É fácil imaginar que esse quadro tenha nuances e gradações entre o extremo e situações de menor intensidade que, no entanto, são suficientes para atrapalhar as relações sexuais do casal no dia-a-dia.

É muito comum a ejaculação precoce sumir o melhorar muito nas férias prolongadas.

Feito esse panorama, já se sabe há muito que um recurso que pode ser utilizado para melhorar esse processo de ejaculação precoce, além do indivíduo entender a sua situação, o que o leva a ficar ou ter ficado nesse estado de “alerta”, é o uso de medicamentos que alteram a bioquímica envolvida no processo final .

Muitas são as drogas com esse efeito. Vários anti-depressivos, principalmente envolvidos com a inibição da recaptação da serotonina, têm como efeito colateral um retardo (as vezes brutal e irritante) do paciente não conseguir ejacular.

A dedução é clara - doses menores, menores efeitos colaterais, suficientes para retardar a ejaculação dentro de níveis aceitáveis.

Não é, pois, merecido o estardalhaço que se faz com as pílulas mágicas para isso, que serão lançadas na Alemanha ou em qualquer outro lugar.

Os anti-depressivos, mesmo em doses menores, nem sempre estão isentos de outros efeitos, muitos os seus principais, que se tornam indesejáveis para quem deles não precisa.

O mérito, portanto, das pílulas lançadas com estardalhaço refere-se ao esforço da indústria farmacêutica em buscar substâncias com menores desses efeitos. Os curiosos vão encontrar N substâncias, todas elas geralmente terminadas em …xetina (lê-se …qsetina). Paroxetina, Fluoxetina (o velho Prozac, lembra????), duloxetina e a dapoxetina (o lançamento alemão com nome comercial de Priligy).

Vale lembrar que esses não são os únicos utilizados e muitas vezes a medicação precisa ser ajustada caso a caso, não só na dose , como no agente.

Outro ponto importante é que essas medicações não vão, por si só, resolver o problema. Na ejaculação precoce são fundamentais as terapias cognitivas-comportamentais ( que nome pomposo!). Simples: terapias de conhecimento/reconhecimento do problema e ajustes no comportamento, envolvendo treinamento e mudança de comportamento.

Se não considerarmos isso, vamos assistir a uma “simplificação” idiota da ejaculação precoce, como a que vem acontecendo com a a disfunção erétil, com automedicação e/ou raciocínio mágico de “tomou o remédio” tudo funcionou…

Os consultórios estão cheios de pacientes, em que isso não se passou exatamente desse jeito…

ADENDO POSTADO EM 10 DE JUNHO 2009

Hoje foram veiculadas várias notícias dando conta de que 1 em cada 3 homens são ejaculadores precoces. Há aqui um exagero, inclusive a SBU está buscando quem deu essa informação dessa maneira ( o autor desse blog preside a Comissão de Comunicação da SBU).

Os dados disponíveis em trabalho exaustivo de levantamento de tudo o que se tem publicado em disfunção sexual mostra que o mais correto seria 1 homem em cada 5. As controvérsias e variações ficam por conta de características que podem definir grupos de homens tão distintos como muçulmanos do norte da Índia, como homens que usam ou não álcool.

Para dar uma desempoeirada no seu ingles transcrevo abaixo parte desse trabalho com todas as referências.

Arch Sex Behav. Author manuscript; available in PMC 2008 June 12.
Published in final edited form as:
Arch Sex Behav. 2001 April; 30(2): 177–219.
PMCID: PMC2426773
NIHMSID: NIHMS53253
Copyright notice and Disclaimer
Prevalence of Sexual Dysfunctions
Results from a Decade of Research
Jeffrey Simons, Ph.D. and Michael P. Carey, Ph.D.*
Center for Health and Behavior, Syracuse University, 430 Huntington Hall, Syracuse, NY 13244-2340, USA
*To whom correspondence should be addressed,
315 - 443 - 2755 (voice), 315 - 443 - 4123 (fax), email: mpcarey@syr.edu

Premature ejaculation is defined as ejaculation with minimal stimulation before the person wishes it. Age, novelty of the sexual situation, and recent frequency of sexual activity are considered in determining premature ejaculation. Community estimates of the current / 1- year prevalence of premature ejaculation range from 4% (Ernst et al., 1993; Fugl-Meyer & Sjogren Fugl-Meyer, 1999) - 5% (Schiavi, 1995; Ventegodt, 1998) across three studies. Two additional studies report significantly higher 1-year estimates of 14% (Solstad et al., 1993) and 29% (Laumann et al., 1999). The reason for these discrepant estimates is not clear. Schiavi et al. (1995) report a current estimate of 20% among former alcohol dependent men.
In primary care settings current estimates range from 2% (Nirenberg et al., 1991) to 31% (Read et al., 1997) across four studies. The lowest estimate was among alcohol dependent individuals choosing not to participate in additional research that would have involved intrusive measurements. Volunteers for the study reported a prevalence of 24% (Nirenberg et al., 1991). Thus, prevalence of premature ejaculation may be estimated at between 4% (Catalan et al., 1992b) and 31% (Read et al., 1997) .
There is an extremely large range of estimates of the current prevalence of premature ejaculation in sexuality clinic samples. Current estimates range from 0% (Bhui et al., 1994; Catalan et al., 1992b) to 77% (Verma et al., 1998) across five studies. The highest estimate (77%; (Verma et al., 1998) is from a Northern Indian population. This figures is nearly four times the next highest estimate of 22% (Goldmeier et al., 1997). If the estimate of Verma et al. (1998) is considered an outlier, a more accurate range is 0% (Bhui et al., 1994; Catalan et al., 1992b) to 22% (Goldmeier et al., 1997). Prevalence of premature ejaculation does not appear to be higher among individuals attending sexuality clinics than in primary care settings

E estamos conversados. Se aparecer a fonte fidedigna que confirme a tragédia de um em cada 3, prontamente comentarei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário