segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Capivaras, Febre Maculosa, Ricketsiose & Cia Ltda. Miopia ambiental .

Originalmente postado em 14 de Julho de 2008

Se você é um ecochato de duas uma: ou esse artigo vai lhe aborrecer muito; ou talvez você comece a rever, com mais racionalidade, a moda que abraçou incondicionalmente.

Os fatos: com uma facilidade espantosa e sem grande rigor científico, várias espécies são, do dia para a noite, alçadas à condição de “espécie em extinção”. Com a mesma rapidez, e muito menor alarde, os “enganos” e desmentidos cabais, trazidos pela realidade da natureza levam ao rídiculo boa parte dessas “listas” e de seus autores.

Com a proteção dos animais silvestres no Brasil, tem sido verificado no interior de São Paulo uma proliferação alarmante de capivaras (também colocada na lista da “extinção”), em regiões cada vez mais próximas dos ambientes urbanos, em verdadeiras legiões, pois que andam em bandos. E, preocupantemente, exibindo uma diversificação alimentícia espetacular, incluindo especial apetite por cultivos agricolas nunca dantes imaginados, muito além do capim. A sua reprodução é copiosa com 4 a 5 filhotes, mais ou menos, a cada 6 meses.
Protegidas pela lei e livres dos seus predadores naturais - onças, cobras e jacarés, elas têm deitado e rolado.
O único predador que restou foram os urubus que devoram a placenta dos filhotes recém nascidos e bicam seus olhos ( não ecochatos, não saia matando os “malvados urubus” que você também vai preso…) .

Tudo no entanto não passaria de um problema menor no nosso salve-se quem puder, restrito à agricultura, embora não menos importante para quem produz o seu alimento, se não houvesse um outro fato que vem sendo discutido a boca pequena nas cidades do interior de São Paulo já há alguns anos e nos hospitais de referência, principalmente nas clínicas de infectologia.

As capivaras são hospedeiros de carrapatos, principalmente os Amblyomas, carrapatos estrela (maiores que os micuins) e ambos, carrapatos e capivaras podem albergar a Rickettisia rickettsii responsável pela Febre Maculosa, “Febre das Montanhas Rochosas” , ricketsiose, entre outros epônimos.

Doença rara entre nós, até então, vem se mostrando já há uns quinze ou vinte anos, quase que endêmica na região de Campinas onde em algumas áreas do município existem fazendas mais que centenárias com pastos antigos onde cavalos também podem fazer o mesmo papel de alimento aos carrapatos infectados com a ricketsia.

Ocorre que a coisa tem extrapolado a região de Campinas e Souzas. Casos têm sido descritos em Piracicaba, Araras, Jaguariuna, Águas de Lindóia, além de várias outras cidades no Vale do Paraíba, onde recentemente funcionários da Nova Dutra tiveram que capturar algumas capivaras pela rodovia que liga São Paulo ao Rio.

Outro fato interessante é que o problema vem sendo estudado desde 1999 ( sim você leu certo - quase dez anos) porque a princípio “não se podia afirmar que a proliferação de capivaras pudesse responder pelo aumento do número de casos de febre maculosa”, afinal os cavalos também tinham esse papel.

O fato interessante fica por conta de que não se tem ouvido que a criação de cavalos tenha também “explodido” como a das capivaras nessas cidades… Diga-se de passagem, seria uma “explosão burra”, pois de cavalos maltratados, empesteados com carrapatos ???
Não, o viés é maroto mesmo. Os cavalos sempre estiveram nas mesmas cidades como sempre…
O pior cego é o que não quer ver e a pior ciência é aquela que nunca acaba e é parcial …

No entanto, vamos mais uma vez aos fatos: o que observei no final de semana foram outdoors pelas avenidas de Araras - SP alertando a população sobre o perigo da febre maculosa, seus sintomas, sua relação com o carrapato, etc. Além disso, hoje, segunda feira, dia 14 de julho, o leitor poderá acessar o site da Câmara Municipal de Piracicaba, com matéria mostrando a preocupação daquele legislativo, órgãos de saúde municipal e de pesquisadores da ESALQ - Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz - centenária instituição da USP, sobre a espetacular proliferação das capivaras no município e no estado (veja a matéria em
www.camarapiracicaba.sp.gov.br - notícias de 14/07/2008).

Em países mais adiantados em que também ocorrem fatos semelhantes as autoridades do meio ambiente são mais ágeis em estabelecer mecanismos de controle para a superpopulação de determinadas espécies, diante da falta de elos perdidos nesses ecossitemas desequilibrados. Entre essas medidas figuram, inclusive, temporadas de caça regulatória, medidas anticonceptivas, etc.

Nesses países o conceito de cidadania não incluiu apenas uma visão ecológica deslumbrada e idílica, custe o que custar, ecochata exclusiva, mas abarca uma conduta bastante ciosa da saúde pública e da produção de alimentos, mesmo dos que vivem nas cities longe dos campos. Aliás a comunidade científica biológica costuma ser mais ouvida, senão ocupar cargos relacionados ao meio ambiente com suficiente respaldo técnico-científico e não apenas político ou simpatizante e amador.

A nós paulistas e brasileiros, contudo, restam as orientações individuais, na base do salve-se quem puder.

Se for visitar aqueles parentes lá do nosso interiorzão, ou for fazer uma trilha, um off-road, arvorismo (sim os carrapatos também ficam nas árvores, levados pelo vento), cuidado com os passeios pelos pastinhos e campos. Cuidado ao “deitar naquela relva maravilhosa”.

Cuidado com os carrapatos !

Entre a mordida, muitas vezes tardiamente identificada, uma vez que o “bichinho” fica ali a sugar o seu sangue, e a manifestação dos sintomas podem transcorrer 15 dias. A febre é alta, o corpo fica pintado de vermelho ( maculosa de máculas, manchas vermelhas) os distúrbios de coagulação são variáveis, mas presentes, a dor pelo corpo é importante, náuseas, vômitos e outros sintomas gerais que evoluem para uma exantema ( uma vermelhidão disseminada pelo corpo, com petéquias, pontos mais vermelhos, semelhante a um processo alérgico disseminado), dores articulares e abdominais.

Apesar do tratamento a doença pode ser fatal em até 20% dos casos.

Nesse ambiente sombrio, cuidado com a “vida natural do campo”.

Note que várias armadilhas estão preparadas nas paragens bucólicas.

Note ainda, que muitos dos sintomas aqui descritos são muito inespecíficos e comuns a um cardápio tupiniquim bem sortido hoje em dia no Brasil : febre maculosa, dengue, febre amarela, ou simplesmente uma alergia das boas !

Não há erro, é como aquele comercial de carro, ou algo parecido:

“Você ainda vai ter um !”

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