segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vírus H1N1 & H5N1 & Gripe suína e aviária. Que salada é essa ?


Originalmente postado em 16 de Julho de 2009

Desculpem-se os leitores desse meu pequeno blog, em especial os meu diletos pacientes, mas entre tanta desfaçatez, com as quais somos obrigados a conviver nos dias de hoje no Brasil, algumas, em especial, fazem-me perder a paciência.

O fato primeiro…

Vários países do mundo, muitos do mundo industrializado e portanto com boa dose de seriedade governamental para com suas populações, não habituadas às “marolinhas” em que nós, brasileiros, somos embalados, juntamente com o órgão máximo de saúde da Organização das Nações Unidas, há vários meses, vêm emitindo alertas e mais alertas a respeito de uma epidemia, hoje tornada pandemia, de gripe suína ou, tecnicamente, Influenza A.

No Brasil a coisa é recebida como “uma gripinha de lá de fora”, que não é tão assim importante e “totalmente sob controle”, muito parecida com a “marolinha” econômica criada pelos de “olhos azuis”.

O fato técnico…

O vírus da influenza A, generalizada como gripe suína, face ao papel do porco como hospedeiro inicial do vírus H1N1, alastrou-se por praticamente todo o mundo, vencendo fronteiras e causando uma mortalidade estimada em 4 casos a cada 1000 doentes. Esse H1N1 é mais virulento do que os vírus utilizados nos “coquetéis” anuais que compõem a vacina anti-gripal administrada as pessoas antes do inverno. A vacina anual é gratuitamente na rede pública aos idosos e também em algumas empresas que vacinam todos os seus funcionários. Quem fica de fora por pagar por ela.

O que já é realidade …

A transmissão entre humanos sustentada, sem que haja necessidade de contato com estrangeiros e/ou viajantes que estiveram fora do Brasil já é uma realidade.
Isso, entre os especialistas, já tinha ficado claro quando se emitiu nota de que “os testes do vírurs seriam reservados para os casos mais graves”.

Boa parte dos serviços de saúde está agora contigenciada em atender aos estragos e a acompanhar os casos conforme a gripe se comporte.

O que preocupa quando se tem idéia de que a coisa está sob controle, etc. são as atitudes mais liberais e relapsas dos cidadãos em relação a doença, achando, muitas vezes, que é apenas uma “gripinha” , que vai passar e com isso se retarda a procura dos serviços de saúde.

É tempo precioso que supera a chance de uso do antiviral, eficaz nas primeiras 48 horas. Sim, pois após esse tempo, geralmente, já em estado mais grave, o antiviral Tamiflu (oseltamivir) já não faz mais efeito e o tratamento é dirigido às complicações.

Adicione-se a isso o mês de férias de julho, em que as aulas estiveram providencialmente suspensas, mas que voltarão, juntamente com muitos alunos que viajaram para esse Brasil imenso, para o cone sul e até para outras partes do mundo e a previsão é de um grande aumento do número de casos em agosto.

Notícias recentes do Ministério da Saúde garantem que não vai faltar antiviral e que o estoque de matéria prima de 9 milhões de unidades está sendo encapsulado a todo vapor. Lote esse que foi comprado em 2006, como estoque estratégico para uma epidemia de gripe aviária.

O poder da oração e das rezas…

Nem só de pão vive o homem. No plano espiritual devemos rezar, orar bastante mesmo, para dois fatos biológicos: primeiro que a resistência ao oseltanavir não se generalize e nos surpreenda com a necessidade do seu eventual substituto, o zanamivir, remédio de que não se tem notícia de estoque.

Em segundo lugar devemos rezar para que o vírus, na sua disseminação possa apresentar o fenômeno da atenuação de sua virulência, abrandando os seus efeitos e não ocorra o contrário.

Infelizmente para alguns estudiosos esse contrário, já ocorre em parte e e explica porque essa gripe suína é tão mais forte e diferente do que as comuns.

São dados obtidos num estudo comparativo entre os vírus das gripes “comuns” e a gripe do H1N1, publicado na revista científica Nature, assim resumidos:

1- O H1N1 apresenta uma quantidade semelhante aos seus “primos” quando pesquisadas as secreções do organismo infectado. Mas em 3 dias já atinge muito mais profundamente a estrutura pulmonar do que os demais, matando células não atingidas pelos outros. Na evolução natural, com seis dias, isso se intensifica ainda mais, ao contrário dos demais.

2- O poder de aniquilar animais infectados pelos diferentes vírus, medido como a capacidade de matar 50% dos infectados é dez vezes maior nos casos de gripe suína, considerada a mesma quantidade viral. Ou seja, a carga viral necessária para uma mortalidade de 50% dos infectados (muito parecido com a dose letal – DL 50, quando estudamos medicamentos) é dez vezes menor para o H1N1 do que para os seus “primos” mais comedidos e conhecidos. Parece ainda que o vírus da gripe suína tem uma morbidade muito maior pela sua capacidade de provocar a produção de citocinas (ou citoquinas) do hospedeiro ( a pessoa infectada), destruindo mais rapidamente os pulmões, com necessidade de respiradores artificiais e evolução mais rápida, mesmo em pessoas saudáveis, como o moço do Rio Grande do Sul, primeira vítima brasileira fatal.

3- O paralelo com a ação e virulência do H1N1 só é igual ao verificado com o vírus da “Grande epidemia de 1918” ou “Gripe Espanhola”. Uma pandemia devastadora na época.

Grande esperança...

A grande esperança, anunciada nos últimos dias, foram os testes iniciais de uma companhia na Austrália de uma vacina específica. Esperando que funcione o que teremos, então, é uma corrida contra o relógio e talvez uma utilização apenas para o hemisfério norte que ainda vai passar pelo inverno que , aqui, já terá terminado.

O que ainda pode ser pior….

Há ainda um panorama pior que pode se desenhar.

Não é uma questão de pessimismo, mas uma constatação e um alerta, pelo menos em termos de informação livre e limpa, não contaminada pelos panos quentes dos “marolistas” de plantão.

O H5N1, vírus da influenza aviária (gripe aviária) está contido em alguns países, mas não está eliminado. Ainda paira sobre nossas cabeças como uma ameaça real.

É um vírus mais letal com uma mortalidade estimada maior ou igual a 50% dos que adoecem.

O céu que nos protege...

O que nos protege em termos de gripe aviária é a raridade da transmissão inter-humanos, com poucos casos descritos. O contágio se dá entre as aves e dessas para o homem.

Isso, no entanto, pode ser uma defesa muito tênue se a coexistência do H5N1 e H1N1, que é uma realidade em paises da Ásia e África, forjarem uma mutação com características dos dois vírus num terceiro.

Daí, na realidade, estaremos vivendo, até agora, apenas um preview de algo muito maior e pior, como se fosse um tsunami.

Melhor nem pensar nisso.

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Reveja artigo sobre a gripe aviária, nesse blog, de 2008. Nele comentários de remédios alternativos como as estatinas e cloroquina e também sobre vacinas (outra grande esperança). Clique sobre o “H5N1″ ao final desse artigo e veja o da gripe aviária após esse atual.

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